Emoções primordiais ou instintivas: a origem da nossa consciência
Muito de quem somos agora se deve a nossas emoções primordiais ou instintivas. Referimo-nos a dimensões como o medo, o desejo que acompanha a fome ou a sede, bem como o desespero associado à dor. Esses estados atávicos e básicos podem ser a origem e a raiz dessa ampla gama de emoções e sentimentos que experimentamos agora.
Os neurocientistas apontam que essas emoções originais formaram a base dos instintos. São componentes que promovem a ação, que impulsionam a necessidade de satisfazer aquele apetite ou escapar daquela ameaça. De alguma forma, esses processos agiam quase como aquele substrato que nos permitia passar do selvagem ao humano, do essencial ao complexo.
Este tópico é mais do que interessante. Ele nos permite entender como os sistemas de organização emocional foram fundamentais para a construção da escultura do cérebro durante a ontogenia. Não apenas nossos corpos evoluíram. Os sistemas emocionais também se sofisticaram muito nessa evolução, e isso foi decisivo para o desenvolvimento cognitivo.
Porque, afinal, o ser humano não é o que pensa, é o que sente.
Uma das grandes dúvidas dos especialistas é saber o que deu origem à consciência. Para uns, ela surgiu após o desenvolvimento dos processos cognitivos. Para outros, a consciência era o resultado das nossas emoções.
O que são as emoções primordiais ou instintivas?
A teoria das emoções primordiais foi popularizada em 2006 após uma interessante publicação intitulada: The Primordial Emotions: The Dawning of Consciousness. Seu autor é Derek Denton, um importante fisiologista e professor da Universidade de Melbourne (Austrália). Sua teoria parte da ideia de que as emoções instintivas constituem a base da nossa consciência.
Para entender essa proposta, devemos visualizar por um momento as primeiras etapas da nossa evolução. Naquela época, nos limitávamos a agir por meros reflexos visando promover a homeostase. Ou seja, se o corpo sentia frio, fontes de calor eram procuradas. Se ele sentia fome ou sede, essas necessidades eram aliviadas, etc.
Esses estados eram meras dimensões governadas pela excitação e um desejo simples, mas desesperado de agir. No entanto, à medida que o cérebro evoluía, essas emoções, como o Dr. Denton explica em um estudo, tornaram-se mais complexas. E o fizeram graças ao desenvolvimento das áreas de ínsula límbica, paralímbica e cerebral.
À medida que evoluímos, as emoções não eram mais instintivas e primordiais. Nosso objetivo não era apenas sobreviver. Também queríamos socializar, estreitar laços, definir metas, nos animar, ter esperança, etc. Aos poucos, também fomos moldando a nossa consciência.
A diferença entre as emoções primitivas e as emoções básicas
É provável que muitos estejam confusos. Qual é a diferença entre as emoções primordiais e as emoções básicas? Eles não são as mesmas? A verdade é que não, e é importante esclarecer isso.
Quando falamos desses estados psicofísicos primários ou instintivos, nos referimos a processos que são dirigidos por regiões muito antigas da parte inferior do cérebro, como o hipotálamo e o mesencéfalo.
O Dr. Derek Denton concluiu que as emoções primárias eram fome, sede, dor e medo. Estes são estados muito básicos, antigos e essenciais para a sobrevivência. Mais tarde, realidades psicofísicas muito mais complexas começaram a emergir.
Aos poucos, as chamadas emoções básicas se desenvolveram a partir das originais, como amor, tristeza, raiva e até nojo.
Com o desenvolvimento do córtex cerebral, surgiram processos mais complexos como percepção, imaginação, julgamento… Ao mesmo tempo e durante essa evolução neurológica, nossas emoções também se tornaram mais sofisticadas e menos instintivas.
Consciência e emoções, uma relação muito íntima
No mundo da neurociência existe um mistério não resolvido: entender a origem da consciência. Referimo-nos à capacidade do ser humano de refletir sobre si mesmo e a realidade que o rodeia. Para boa parte dos cientistas, esta dimensão foi resultado da nossa evolução cognitiva, da nossa inteligência.
No entanto, há uma parte dos especialistas que tem outra proposta. Nós não somos o que pensamos, somos o que sentimos, somos as nossas emoções. Como se costuma dizer, somos seres emocionais que raciocinam, e isso pode lançar as bases da nossa consciência.
Essa é a outra hipótese que o Dr. Denton considera e defende e que expõe em suas obras. As emoções primordiais podem ser a pedra angular da origem evolutiva da consciência. Na verdade, foi possível ver, por meio de neuroimagem, como essas regiões profundas do cérebro basal são ativadas por estados primários como fome, sede ou medo.
De acordo com essa abordagem interessante, o desenvolvimento progressivo do nosso cérebro fez com que as emoções também evoluíssem com ele. Quando os estados emocionais se tornaram mais sofisticados, nossa consciência também surgiu e, com ela, o comportamento humano tornou-se mais hábil, mais complexo, moldando quem somos agora.
Como podemos ver, este é um tema interessante e decisivo que certamente continuará a se aprofundar nos próximos anos.
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- Denton, Derek (2006) The Primordial Emotions: The Dawning of Consciousness. Oxford University Press
- Toronchuk, J. A., & Ellis, G. F. (2013). Affective neuronal selection: the nature of the primordial emotion systems. Frontiers in psychology, 3, 589. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2012.00589