A diferença entre erro, fracasso e fracassado

A diferença entre erro, fracasso e fracassado
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

O xadrez é um jogo maravilhoso porque o resultado final depende muito pouco da sorte e muito da experiência dos dois jogadores. O vencedor sabe que poderia ter perdido e que a diferença residiu no que ele fez; o perdedor sabe que poderia ter vencido e que a diferença também foi decorrente dos seus movimentos. Assim, no xadrez, como em muitos outros desafios, há erro, mas não fracasso e muito menos um fracassado.

Existem erros porque sempre há estratégias que podem ser melhoradas, especialmente se as olharmos da perspectiva de quem acabou de entregar a cabeça do seu rei. Poderia ter jogado melhor. No entanto, a sua derrota está longe de ser um fracasso, já que no próximo jogo levará muitos movimentos que aprendeu. Nesse sentido, o seu investimento de tempo foi lucrativo, provavelmente muito mais do que o do vencedor.

O ganhador dificilmente vai para casa pensando no jogo. As suas estratégias foram fortalecidas e, portanto, é pouco provável que ele tenha encontrado razões para questioná-las. Assim, com certeza ele as repetirá até que alguém o vença. Nesse sentido, a vitória tende a perpetuar o ciclo, a reduzir o investimento, e é por isso que é tão doce. O nosso cérebro quer economizar energia e a vitória é geralmente um apoio enganoso nesse sentido.

Tabuleiro de xadrez

O fracasso

O fracasso chega quando o que aconteceu, além do gosto da derrota, não nos acrescenta nada. Isso acontece especialmente nos jogos em que o ‘azar’ manda, e é por isso que humanamente são tão pobres. Porque quem perde (o que pode acontecer muitas e muitas vezes, já que a banca tem a probabilidade a seu favor: essa lei implacável quando falamos de muitas jogadas e muitos jogadores), pouco aprende, mas nos agarramos a alguma superstição perturbadora.

“Entrar antes das nove me fez perder…”, “Foi essa camisa que me deu azar…”, “Eu não venho mais com o João porque com ele eu não ganho uma”, (João provavelmente também não ganhou e não quer voltar com você…).

Deixemos a ironia de lado. A sorte tem pouco a nos ensinar/lembrar, além do que está acontecendo no presente.

Jogar xadrez

O fracassado não é aquele que acumula um fracasso depois do outro

O fracassado não é aquele que coleciona um fracasso depois do outro, nem aquele que acabou de fracassar. Fracassado é um adjetivo (rótulo) que tem conotações que vão muito além. Dizer que alguém é um fracassado ou pensar que somos fracassados impregna todo o ser. Torna-se parte da natureza da pessoa. Portanto, falamos de algo imutável.

Isso não mudará e, portanto, supõe uma sentença para o futuro. Elimina a motivação para aprender. Ele nos envia a seguinte mensagem: “Não importa o que você aprender, nunca ganhará”. Aquele que se sente um fracassado será injustamente determinista com o seu futuro, assim como aquele que coloca esse rótulo no outro que, injustamente, acaba acreditando nisso.

Sim, talvez o passado seja o melhor preditor do futuro, mas nunca a voz que dita as suas falas ao escritor. Não há determinismo, mas sim a possibilidade de superação enraizada na mudança. Por essa razão, a mesma superação que nos assusta também nos atrai.

É por isso que essa atração se quebra na pessoa que sente um fracassado. Como se o pensamento fosse água, porosa, e como se isso estivesse colado nas profundezas do seu ser.

Assim, esse pensamento serve como gatilho e sustento para muitas depressões. Uma depressão que aparece quando a esperança é quebrada (Abramson et al., 1997), não de que o futuro seja diferente, mas sim de que podemos fazer algo para projetá-lo.

Portanto, existem problemas mentais, como as fobias, que derivam em uma depressão: a ansiedade é o que afoga essa esperança de controle, ressaltando que somos, sem dúvida, seres vulneráveis.


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  • Abramson, L., Alloy, L., Metalsky, G., Joiner T., Sandínn B. (1997). Teoría de la depresión por desesperanza: aportaciones recientes. Revista de Psicopatología y Psicología Clínica. Vol. 2. Pag 211-222.


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