Erving Goffman e a teoria da ação social

Erving Goffman e a teoria da ação social

Última atualização: 01 maio, 2017

Certamente isso também acontece com você: cada vez que você encontra um amigo ou conhecido, você diz que sua vida está indo muito bem. Se parar para observar, sempre que você acessa as redes sociais, encontra inúmeros perfis que refletem prosperidade. Precisamente para tomar perspectiva sobre essa vitrine parcial e tendenciosa, pode ser interessante ver o mundo a partir do ponto de vista de Erving Goffman e sua teoria da ação social.

Goffman criou uma grande obra em que abordou um tema complexo: a criação da personalidade humana por meio da sua interação com o ambiente. Para este sociólogo, uma boa parte da conduta de cada pessoa depende das suas relações com os outros.

Quem é Erving Goffman?

Antes de continuar, vale a pena lançar alguma luz à figura de Erving Goffman. Este homem foi um psicólogo e sociólogo canadense que faleceu em 1982. Ele partiu deixando um grande legado sobre o qual vamos nos aprofundar hoje.

Ao longo de sua carreira profissional, ele dedicou grande parte de suas energias à observação participante para estudar o comportamento humano. Seu trabalho deu origem a teorias sobre as interações sociais e o lugar que cada pessoa tem em uma hierarquia social.

Durante sua atividade, Goffman publicou diversos livros de prestígio. Alguns títulos que se sobressaíram foram “Estigmas”, de 1963, “Relações em Público”, de 1971 e “A Representação do Eu na Vida Cotidiana”, de 1957.

A teoria da ação social, por Erving Goffman

Agora vamos entrar na teoria da ação social de Erving Goffman. Como já dissemos anteriormente, ela defende que a conduta humana depende de seus cenários e relações pessoais. Portanto, estamos todos imersos em uma gestão constante da nossa imagem diante do resto do mundo.

Esta interação que cada indivíduo realiza com seu ambiente o incentiva a buscar a definição de cada situação com o objetivo de conseguir controlá-la. Desta forma, tentamos gerir as impressões que os outros vão formar sobre nós.

Neste caso, poderia-se dizer que somos atores interpretando nosso papel diante de um auditório que pode ser de uma ou mais pessoas. Parece óbvio acreditar que Goffman tem razão neste detalhe, pois todos nós tentamos projetar uma imagem favorável para os outros. Seja tentando gostar, agradar, simpatizar, fazer com que nos odeiem… todos nós agimos tentando ser conscientes com a imagem pretendida.

Para Goffman, e sempre sob o prisma de sua teoria da ação social, ao interagir, o que realmente buscamos é criar impressões que formem interferências no público. Fazemos isso porque pensamos que essas interferências serão benéficas para nós, já que tentaremos refletir nelas os aspectos da nossa identidade que desejamos comunicar; além disso, elas irão mostrar a nossa intencionalidade.

A imagem pública que projetamos

Sob os parâmetros teóricos de Goffman, cada indivíduo gere as suas relações tentando fazer com que elas se adaptem ao sentido da imagem pública que gostaria de projetarDesta forma, cria projeções próprias sucessivas que estarão presentes de uma forma ou de outra na comunicação com seus potenciais interlocutores.

Para entender melhor, digamos que queremos causar uma boa impressão a alguém e fazer com que essa pessoa goste de nós. Para isso, iremos criar e projetar para essa pessoa uma imagem que consideramos ser a melhor de nós.

Elaborando mais sobre essa teoria e seus exemplos, psicólogos como Rafael Ramírez Lago a consideram excelente para estudar as projeções que derramamos nas nossas redes sociais. Neste sentido, poderia-se dizer que procuramos criar apresentações próprias que refletem uma imagem positiva através de vídeos e fotografias que mostram a nossa felicidade.

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Desta forma, a teoria da ação social explicaria os diferentes papéis que interpretamos em função da demanda de cada uma das nossas interações sociais e da imagem que queremos projetar. Assim, buscaríamos obter benefícios, encontrar uma boa acomodação social e, por fim, encontrar o nosso lugar no mundo.

O jogo de representações

No entanto, para Goffman esse tipo de interação dá lugar a um conjunto de representações. Essas representações nunca iriam transmitir a identidade real, apenas a sonhada, querida ou desejada.

Ou seja, poderia-se identificar o ser humano inclusive como uma espécie de relações públicas de si mesmo. Usamos a nossa interpretação como uma campanha de marketing para mostrar aos outros o melhor de nós.

Por fim, gostaríamos de apontar que a teoria da ação social de Goffman é um pouco estética e suscita algumas dúvidas. Nós realmente somos assim? O nosso mundo social se centra na imagem que queremos projetar? As redes sociais são um alto-falante de teoria?

Não tenho as respostas, mas 2 bilhões de pessoas têm um perfil no Facebook e o fato de a maioria destes perfis contar com um viés positivo talvez seja uma amostra de que este psicólogo estava no caminho certo.


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