Escala de Rubin: é assim que se mede o amor

Como saber se você apenas "gosta" de alguém ou se está realmente se apaixonando? A escala desenvolvida pelo psicólogo Zick Rubin tenta nos ajudar a encontrar uma resposta...
Escala de Rubin: é assim que se mede o amor
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

É possível medir o amor? Existe algum instrumento validado pela ciência para essa finalidade? Por mais impressionante que possa parecer, a resposta é afirmativa. A escala de Rubin é um dos primeiros questionários desenhados para medir, empiricamente, o amor entre duas pessoas. Além disso, um de seus propósitos é também saber se o que sentimos por uma pessoa é um carinho semelhante à amizade ou se é uma paixão real.

Poderíamos dizer que este recurso seria um aliado perfeito para os eternamente indecisos que nos dizem que “sei que gosto de você, mas não sei se sinto algo mais por você”. Embora seja verdade que poucos sentimentos são tão reconhecíveis e profundos quanto o amor, ainda existem aqueles que aparentemente se debatem em um mar de dúvidas…

Por outro lado, muitos dos que insistem que esse sentimento não pode ser medido como tal ignoram que existem indicadores neuroquímicos que podem, de fato, revelar esse estado. Afinal, embora amemos com o corpo, o coração e os sentidos, quem primeiramente se apaixona é o cérebro. E há indicadores objetivos que podem comprovar esse fato.

Mas, e o que acontece no plano psicológico? Como isso pode ser quantificado?

“O amor é algo que você faz por outra pessoa, não algo que você faz por si mesmo.”

Gary Chapman

Casal escondido atrás de um coração para simbolizar a escala de Rubin
A escala de Rubin busca diferenciar se alguém só sente carinho por outra pessoa ou se sente um amor autêntico

Escala de Rubin, uma escala para medir o amor: em que consiste?

Ao longo da história da psicologia, podemos identificar várias tentativas sérias de medir o amor. Uma das mais conhecidas está no livro best-seller de 1992 de Gary Chapman, As 5 Linguagens do Amor. Ele teorizou que existem cinco comportamentos que expressam o amor: as palavras, o desejo de compartilhar o tempo, os presentes, prestar serviços ao outro e o desejo físico.

O trabalho de Chapman foi posteriormente analisado em trabalhos de pesquisa, como os realizados na Universidade de Houston-Downtown, por exemplo. E, de fato, revelou-se uma validade significativa quando se trata de quantificar o amor. Da mesma forma, também é importante mencionar a teoria triangular do amor de Sternberg e seus três componentes: intimidade-paixão e compromisso.

Entretanto, é interessante saber que, antes dessas figuras tão conhecidas, houve alguém que foi pioneiro neste campo. O psicólogo social Zick Rubin foi o autor da primeira medição empírica do amor: a escala de Rubin.

Os três componentes do amor

Rubin ganhou o Prêmio Sociopsicológico da Associação Americana para o Avanço da Ciência em 1969. Isso permitiu que iniciasse um estudo inovador que durou décadas. O seu objetivo não era outro senão medir o amor e compreender o desenvolvimento das relações ao longo do tempo. Foi um estudo de alto custo que muitos criticaram posteriormente e que até mesmo consideraram inútil.

De fato, ainda hoje, há muitos que consideram que medir o amor é pouco mais que uma enteléquia. No entanto, não deixa de ser interessante admitir que isso, desde sempre, foi um objetivo da psicologia.

Foi em 1970 que ele publicou uma primeira prévia desses resultados, que se materializaram em um questionário conhecido como escala de Rubin. Foi aplicado a 158 casais de namorados e permitiu revelar que, de acordo com a sua pesquisa, o amor partia de três componentes:

  • Apego: a necessidade de estabelecer um vínculo baseado no apego seguro, onde todas as necessidades sejam atendidas.
  • Cuidado: cuidar e ser cuidado é um pilar básico em qualquer relacionamento.
  • Intimidade: a capacidade de compartilhar pensamentos, necessidades e criar um espaço emocional estimulante entre os dois é decisiva.

Cuidado, talvez não seja amor: os três componentes da amizade

Dois anos depois de apresentar a sua escala, Rubin apresentou um novo trabalho intitulado Gostar e Amar: um convite à Psicologia Social. Algo em que esse psicólogo social insistia era a necessidade de diferenciar o gostar do amar. Ou seja, saber discriminar o clássico “eu gosto de você” do “eu te amo”.

Por isso, Rubin defende que o gostar (amizade) é conceituado por meio de três sentimentos:

  • Calidez. Sensação de cordialidade e bem-estar quando estamos com aquela pessoa, sentir empatia, etc.
  • Proximidade. Toda amizade se nutre dessa proximidade com a qual compartilhar os mesmos interesses, valores, confidências, etc.
  • Admiração pelo outro. Bons amigos se admiram mutuamente.

Por outro lado, sabendo que a amizade é composta por essas dimensões, podemos perguntar se não admiramos e sentimos proximidade também por nossos parceiros. De fato, isso ocorre. No entanto, quando nos apaixonamos, o apego, a intimidade e a necessidade de cuidado prevalecem muito mais do que as variáveis que compõem o simples gostar.

Portanto, para medir o amor, é essencial distinguir uma esfera da outra. Aquela em que o gostar se torna mais físico e a necessidade de compartilhar a vida e as experiências em algo mais profundo.

Casal tirando uma selfie simbolizando a escala de Rubin
Quando amamos, de acordo com a escala de Rubin, sentimos que somos responsáveis pelo bem-estar do outro.

A escala de Rubin: quais questões ela propõe?

A escala de Rubin consiste em duas escalas com 12 itens cada. De forma simples e muito básica, são propostas diversas questões nas quais devemos refletir sobre os nossos relacionamentos.

Graças a essas perguntas, devemos conseguir elucidar se estamos diante do amar ou do gostar, se a paixão é autêntica ou se o que sentimos por uma pessoa é simplesmente amizade.

Escala do gostar

1. Quando estou com……….. quase sempre temos o mesmo humor.
2. Acho que………… é uma pessoa em quem sempre poderei confiar.
3. Eu recomendo………… para um trabalho responsável.
4. Na minha opinião,………….. é uma pessoa excepcionalmente madura.
5. Tenho grande confiança no bom senso de…………..
6. A maioria das pessoas deve saber o quão incrível é………
7. Eu acho que………… e eu somos bem parecidos.
8. Eu votaria em………… em uma eleição de classe ou grupo.
9. Acho que…………… é uma daquelas pessoas que ganha respeito imediatamente.
10. Sinto que………. é uma pessoa com quem compartilho muitos valores
11……….. é uma das pessoas mais simpáticas que eu conheço.
12……………. é o tipo de pessoa que eu gostaria de ser.
13. Parece-me que posso contar com………… em qualquer situação.

Escala amorosa na escala de Rubin

1. Se……… se sentisse mal, eu faria qualquer coisa para ajudá-lo/confortá-lo.
2. Sinto que posso confiar em……….. para qualquer coisa.
3. Meu primeiro pensamento quando acordo é em…………
4. Eu faria quase qualquer coisa por ………..
5. Não posso passar um dia longe de…………..
6. Eu fantasio sobre o futuro morando junto com………
7. Uma das minhas principais preocupações é o bem-estar de…………..
8. Tenho dificuldade para ficar zangado com………..
9. Tenho fantasias com…………..
10. Quando estou com…………. passo muito tempo olhando para ele(a).
11. Gostaria muito que……….. confiasse em mim para tudo em sua vida.
12. Seria difícil para mim viver sem……………

Para concluir. Cabe destacar que esta escala foi projetada na década de 1970. Certamente, ela pode parecer um pouco básica e talvez simplista para nós. No entanto, esta não deixa de ser a primeira tentativa científica de medir o amor.

De fato, organizações como a Science Progress chegaram a dizer que a escala de Rubin foi o maior avanço nas pesquisas sobre o assunto. Outros, por outro lado, não viram sentido nela porque o amor, para muitos, não pode ser quantificado.


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