Tipos de esquizofrenia de Crow

Você conhece os diferentes tipos de esquizofrenia de Crow? Neste artigo, você encontrará todas as suas características, destacando aqueles pontos nos quais eles mais se diferenciam.
Tipos de esquizofrenia de Crow

Última atualização: 22 outubro, 2020

A esquizofrenia é um transtorno do espectro psicótico caracterizado por sintomas positivos (alucinações, delírios, desorganização do pensamento…), sintomas negativos (apatia, anedonia…) e sintomas cognitivos (por exemplo, distúrbios de atenção). É um transtorno crônico e muito incapacitante, objeto de interesse de múltiplos autores de diversas disciplinas. Neste artigo, conheceremos os tipos de esquizofrenia de Crow, um psiquiatra inglês nascido em 1938, que em 1980 distinguiu duas variantes desse transtorno como resultado das suas pesquisas.

A classificação de Timothy Crow (1938-) é importante porque relaciona os diferentes fatores do modelo médico (síndrome, curso, etiologia, tratamento, prognóstico…). O autor inicialmente distinguiu esquizofrenia tipo I (positiva) e esquizofrenia tipo II (negativa).

Porém, sete anos depois, em 1987, ele reformulou a sua classificação, considerando que nem todos os casos se enquadram em sua classificação dicotômica, incluindo também os tipos mistos de esquizofrenia.

Embora o modelo categórico de T. Crow esteja atualmente em desuso, a sua proposta era muito interessante. Até hoje, ainda existem profissionais que o consideram útil (a nível prático e acadêmico). Além disso, a sua classificação permite conhecer mais sobre a realidade desse transtorno. No entanto, quais são os dois tipos de esquizofrenia de Crow? Qual é a diferença entre eles? Vamos ver a seguir!

“A esquizofrenia é o preço que o homo sapiens teve que pagar pela aquisição da linguagem”.
– Timothy Crow –

Homem sofrendo de esquizofrenia

Tipos de esquizofrenia de Crow

Como vimos, existem dois tipos de esquizofrenia de Crow: tipo I (positiva) e tipo II (negativa). Embora hoje essa classificação não seja seguida para o diagnóstico e nem esteja refletida nos manuais de referência em saúde mental (DSM-5 e CID-10), a realidade é que a classificação de Crow se tornou a principal referência na época. Vamos mergulhar nos tipos de esquizofrenia que este psiquiatra propôs e ver como eles diferem:

Esquizofrenia tipo I (positiva)

Recebeu esse nome porque os sintomas positivos predominam: alucinações, delírios, distúrbios positivos do pensamento (por exemplo, desorganização) e comportamento desorganizado.

Por outro lado, o autor compara esse tipo de esquizofrenia ao subtipo paranoide, que encontraríamos no DSM-IV-TR (embora não mais no DSM-5).

Ajuste pré-mórbido

O ajuste pré-mórbido do paciente é bom. Ou seja, o paciente estava mais ou menos adaptado antes do aparecimento dos primeiros sintomas do transtorno.

Início, curso e prognóstico

O início da esquizofrenia tipo I é agudo (vs. o início da esquizofrenia tipo II, que é insidioso). Isso significa que os sintomas aparecem abruptamente. O seu curso é agudo, com surtos e remissões. Na esquizofrenia II, por outro lado, o curso é crônico e defeituoso.

O prognóstico para a esquizofrenia tipo I é reversível; em contraste, a esquizofrenia do tipo II é irreversível. Isso tem a ver, em grande parte, com a boa resposta aos neurolépticos que as pessoas com esquizofrenia I apresentam, e com a má resposta das do tipo II.

Comprometimento neuropsicológico

O comprometimento neuropsicológico neste tipo de esquizofrenia está ausente. Com comprometimento neuropsicológico, nos referimos a possíveis déficits ou alterações nos processos cognitivos.

Podemos dizer que os sintomas cognitivos (transtornos cognitivos) aparecem em certas pessoas com diagnóstico de esquizofrenia, como sugerido por um estudo de Barrera et al. (2006). De acordo com o estudo, alguns dos aspectos mais afetados são memória declarativa, funções executivas e atenção sustentada.

Processo patológico

No nível patológico, a esquizofrenia tipo I provoca uma série de alterações neuroquímicas; especificamente, de acordo com Crow, há um aumento nos receptores D2 da dopamina. Vamos lembrar aqui que o neurotransmissor dopamina está fortemente implicado na esquizofrenia (especificamente, um excesso de dopamina). No caso da esquizofrenia tipo II, como veremos, as alterações que ocorrem são estruturais.

Esquizofrenia tipo II (negativa)

O segundo tipo de esquizofrenia de Crow, tipo II ou negativo, assemelha-se ao subtipo desorganizado da esquizofrenia (DSM-IV-TR). Isso se deve aos sintomas e às características desse subtipo. Assim, os sintomas da esquizofrenia tipo II são do tipo negativo e incluem achatamento afetivo, linguagem pobre e perda de impulso.

Ajuste pré-mórbido

Ao contrário do que aconteceu no tipo anterior, na esquizofrenia do tipo II, o ajuste pré-mórbido é ruim; ou seja, o paciente já apresentava funcionamento alterado antes de apresentar os sintomas do distúrbio.

Início, curso e prognóstico

O início da esquizofrenia tipo II é insidioso (ou seja, os sintomas aparecem progressivamente). O curso é crônico e defeituoso, e o prognóstico é irreversível. Como vimos antes, a resposta aos neurolépticos na esquizofrenia tipo II é pobre (ruim).

Comprometimento neuropsicológico

Aqui, a deterioração neuropsicológica está presente e o indivíduo afetado pode apresentar déficits ou alterações na área cognitiva; isso inclui memória, atenção, funções executivas…

Processo patológico

No nível cerebral, ocorre uma alteração estrutural; isso resulta em perda celular nas estruturas do lobo temporal e no giro para-hipocampal.

Mulher com o rosto triste

Tipos de esquizofrenia de Crow: um breve raio-x

Como vimos, poderíamos dizer que a esquizofrenia tipo I tem o melhor prognóstico, pois é reversível, e a resposta aos neurolépticos é adequada. Em relação aos sintomas, os do tipo I são positivos e os do tipo II, negativos.

A apresentação do tipo I é evidente e o seu curso é agudo, ao contrário do tipo II, no qual o aparecimento dos sintomas é mais sutil e seu curso é crônico.

Até hoje, embora tecnicamente ninguém seja diagnosticado com o rótulo de esquizofrenia tipo I ou II, é verdade que a apresentação do transtorno em cada pessoa pode ser mais semelhante a um ou outro tipo dos propostos por Crow. No entanto, ainda parece arriscado tentar “encaixar” os pacientes em um grupo específico: sabemos que cada pessoa tem as suas próprias idiossincrasias (e mais ainda em saúde mental).

Outras classificações

Timothy Crow não foi o único autor que tentou classificar e agrupar os diferentes tipos de esquizofrenia. Antes dele, encontramos o psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926) e o psiquiatra suíço Eugen Bleuler (1857-1939).

Kraepelin distinguiu os seguintes tipos de esquizofrenia: paranoide, catatônica e hebefrênica (desorganizada). Bleuler fez a mesma classificação que seu colega, mas também acrescentou um novo subtipo: a esquizofrenia simples.


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  • American Psychiatric Association (2000). DSM-IV-TR. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4thEdition Reviewed). Washington, DC: Author.
  • Belloch, A., Sandín, B. y Ramos, F. (2010). Manual de Psicopatología. Volumen II. Madrid: McGraw-Hill.
  • Cooke, A. (2015). Comprender la psicosis y la esquizofrenia. Londres: British Society Division of Clinical Psychology.

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