A experiência do luto

A experiência do luto

Última atualização: 01 agosto, 2015

Superar o luto requer tempo e um grande esforço pessoal.

A biografia de cada um de nós está cheia de uma sucessão de perdas e separações, que nos lembram da temporalidade de qualquer vínculo ou relação e de toda realidade, seja de forma consciente ou inconsciente.

O luto é a reação psicológica que aparece frente a uma perda; a dor emocional de ter perdido algo ou alguém significativo em nossas vidas. Esta reação psicológica não tem apenas componentes de caráter emocional, mas também fisiológicos e sociais.

Quando falamos de forma cotidiana sobre o luto, na maioria da vezes o associamos com a morte, mas este processo também pode ser visto frente à ruptura de uma relação, a perda de um trabalho ou a perda de um objeto relacional com o qual tínhamos um vínculo forte. Portanto, o processo de luto significa que, em função da perda, deveremos nos adaptar a uma nova vida sem essa pessoa ou coisa, sendo que o seu desenvolvimento passa pela reconstrução de significados.

Normalmente, o luto se resolve de forma natural quando entendemos que é um processo normal limitado no tempo, avançando a sua evolução em direção a superação, podendo fortalecer a nossa maturidade e crescimento pessoal. Mas do mesmo jeito que se reconhece que é um processo “natural” que implica grande sofrimento para a maioria das pessoas, também sabe-se que esse processo pode se complicar com outros, chegando a produzir transtornos se os sintomas se mantiverem no tempo e afetarem o desenvolvimento da vida diária, sendo que algumas pessoas ficam estancadas em alguma fase, sem chegar a se desprender nem se despedir daquilo que perderam.

É difícil dizer quando realmente o luto terminou, ainda que se considere um momento chave aquele em que a pessoa é capaz de olhar para trás, isto é, para o seu passado e lembrar-se com afeto sereno e tranquilo, com saudade mas sem dor, da pessoa que se foi e da sua história compartilhada.

Normalmente a elaboração de todo esse processo tem uma duração que compreende de um a dois anos, dependendo de cada pessoa, da proximidade e da qualidade do vínculo que existia.

Elaborar o luto

A elaboração do luto passa por diferentes etapas, nas quais podem predominar emoções muito dolorosas. Estas etapas não se entendem como períodos fixos e organizados, ao contrário tendem a se sobrepor, contendo uma mistura de emoções e respostas.

Worden descreve as tarefas que a pessoa deverá levar a cabo no luto, como fundo terapêutico de todo o processo:

1) Aceitar a realidade.
2) Experimentar a dor.
3) Se adaptar a um mundo no qual o desaparecido está ausente.
4) Reposicionar emocionalmente o falecido e olhar para o futuro.

O que podemos fazer para processar o luto?

Aceitar e compreender que o luto é um processo natural que leva o seu tempo, sem tentar apressá-lo. Poder enfrentar a perda e atravessá-la de uma forma adaptativa nos gera maior confiança, desenvolvendo novos aspectos e mecanismos.

– Não resistir à mudança. Acontece uma transformação frente à perda de pessoas e papéis que ocupam um lugar central em nossas vidas. O melhor é abraçar essas mudanças, aproveitando as oportunidades que se apresentam para o crescimento, ao mesmo tempo em que reconhecemos os aspectos nos quais nos sentimos empobrecidos.

– Expressar nossas emoções e sentimentos. Comunicá-las, não reprimi-las e, se for necessário, procurar ajuda de um profissional.

– Estar rodeado de vida, ativar nossas relações sociais, aprender algo novo ou fazer atividade física por exemplo, de acordo com a nossa idade e condição de saúde.

– Procurar novos sentidos para a vida, criar e desenvolver projetos.

Quando procurar ajuda?

A dor, o sofrimento e os transtornos que acompanham o luto não têm nada de “anormal”, mas existem certos sintomas que indicam que deveríamos consultar um profissional, ainda que a decisão final seja de cada um.

Segundo, Robert A. Neimeyer, você deve considerar seriamente a ideia de falar com alguém sobre o seu luto se apresentar algum dos seguintes sintomas:

– Intensos sentimentos de culpa.
– Pensamentos de suicídio.
– Desespero exacerbado.
– Inquietude ou depressão prolongada.
– Sintomas físicos (perda substancial de peso, sensação de ter uma faca cravada no peito, etc.)
– Ira descontrolada.
– Dificuldades contínuas de funcionamento.
– Abuso de substâncias

Ainda que qualquer um destes sintomas possa ser característico de um processo normal de luto, a sua continuidade por tempo prolongado deve ser motivo de preocupação e atenção para consultar um profissional.

A elaboração do luto significa se colocar em contato com o vazio deixado pela perda do que não existe mais, valorizar a sua importância e suportar o sofrimento e a frustração que comporta a sua ausência. (Jorge Bucay)

Imagem cortesia de Emerald Wake


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.