Falácia do "argumentum ad populum": o que é, exemplos e como combatê-la

A falácia do "argumentum ad populum" é uma das mais comuns. Muitos a usam de forma relacional, e até a usamos em nosso diálogo interno quando queremos nos convencer de que determinada hipótese é verdadeira.
Falácia do "argumentum ad populum": o que é, exemplos e como combatê-la

Última atualização: 06 junho, 2022

No campo da lógica, um argumento é uma série de premissas cuja verdade sustenta uma conclusão. Assim, um argumento só é válido quando a verdade das premissas garante a verdade da conclusão. Assim, esta última é verdadeira na medida em que as premissas que a sustentam são verdadeiras.

Existem argumentos que não são válidos; no entanto, acabam sendo aceitos por diferentes razões, apesar de suas conclusões se basearem em premissas ilógicas. Quando estes não fornecem base para uma conclusão, diz-se que o argumento é falho e, portanto, falacioso.

político falando

A falácia do “argumentum ad populum”

Ad populum é uma frase latina que significa ‘apelo ao público’. A falácia consiste em sustentar que algo tem natureza de verdade quando é aceito pela opinião pública, em vez de apelar para razões lógicas. A forma típica de expressá-lo é muito comum na publicidade: «o mais vendido…» ou «o favorito de todos…». Só porque é um favorito não significa que é um produto de qualidade.

O argumento para este tipo de falácia é muitas vezes carregado de emoções. Dessa forma, as emoções das pessoas são usadas para desviar a atenção da evidência lógica relevante para a conclusão. Assim, o apelo é uma falácia de desvio e não do tipo  dedutiva. A manipulação das emoções pode afetar o raciocínio crítico e objetivo sobre as premissas que foram propostas no argumento.

A falácia do ad populum  tem o seguinte esquema lógico:

  • X, que é a maioria, afirma que A é verdadeiro.
  • Então A é verdadeiro.

Os argumentos ad populum são frequentemente usados em discursos populistas e também em discussões cotidianas com outras pessoas. Da mesma forma, eles são usados por políticos e pela mídia para bajular seu público. Embora não seja tão poderoso quanto o argumento ad hominem, torna-se muito sólido quando se baseia em um estudo populacional, enquete ou pesquisa que o “apoie”.

Existem dois tipos de argumentos ad populum frequentes: o apelo à tradição e o apelo à prática comum. O primeiro sustenta que algo é verdadeiro porque a tradição o valida, por exemplo: “isso sempre foi feito assim, portanto, é assim”. O segundo apelo afirma que algo está bem porque todo mundo faz assim.

Exemplos da falácia do “argumentum ad populum”

Algumas expressões que exemplificam essa falácia são as seguintes:

  • “Você tem que fazer assim porque todo mundo faz assim”.
  • “Esta lei não é boa porque nenhum país do mundo tem algo parecido”.
  • “A maioria dos eleitores é a favor dessa lei, portanto é uma boa lei”.
  • “Deve ser um carro muito bom, porque muitas pessoas o compraram”.
  • “A marca X é líder na Europa, portanto seus produtos devem ser comprados”.
  • “A maioria das pessoas acredita na vida após a morte, portanto, ela deve existir”.
  • “Se a maioria diz que o COVID-19 é uma estratégia dos governos, então deve ser assim”.
  • “A maioria das pessoas considera que a pena de morte tem um efeito dissuasor significativo. Sugerir o contrário é totalmente ridículo”.
  • “A tradição diz que a mulher é a responsável pela casa, portanto, é ela quem deve ficar cuidando dos filhos”.
  • “Somos uma marca líder no mercado, milhões de pessoas dizem isso”.
  • “Use a loção X, a favorita de todas as mulheres”.
  • “Você deve mudar para esta nova empresa de internet, já que é a que tem mais usuários”.

Em cada um desses exemplos, observa-se como é feita uma tentativa de validar uma conclusão com base na premissa de que a maioria das pessoas pensa assim. A certeza é baseada na opinião pública, que é o que dá “legitimidade” à premissa.

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Como combater esse tipo de falácia?

Confrontá-la diretamente pode colocar as pessoas imediatamente na defensiva. Portanto, é preciso demonstrar, de forma delicada e sutil, que a veracidade ou falsidade de uma afirmação não depende do número de pessoas que nela acreditam . Elas podem ser combatidas com declarações como:

  • “E se as pessoas pularem de uma ponte, você pula também?”
  • “Se cinquenta milhões de pessoas dizem bobagem, ainda é bobagem”.
  • “Milhões de pessoas fumam e isso não torna o cigarro saudável”.

Para combater o uso de uma falácia lógica, deve-se primeiro identificar a falha no raciocínio. Em seguida, deve-se apontar e explicar por que é um problema. Por exemplo, considere uma situação em que alguém afirma que um determinado produto é de qualidade porque todo mundo está comprando. Essa falácia ad populum implica em aceitar que o produto é bom, pois todos o compram, mas isso não é necessariamente verdade. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Uma vez identificada a falácia, ela pode ser combatida explicando por que suas premissas estão erradas ou apresentando outro argumento, por exemplo, pode-se dizer: “é possível que todo mundo tenha aquele produto porque o produtor soube vendê-lo com publicidade implacável, e não porque é de qualidade.” Exemplos em que a hipótese não é cumprida também podem ser fornecidos. Assim, pode-se dizer que por muito tempo as pessoas acreditaram que a Terra era plana e que era o centro do universo, quando agora sabemos que não é bem assim. A opinião do vulgo nem sempre representa a verdadeira realidade.

Para finalizar, embora a falácia do “argumentum ad populum” nos faça acreditar que as proposições são verdadeiras porque muitos acreditam nela, a realidade é que não é bem assim. A opinião pública está errada e não é muito boa em fornecer argumentos críticos e lógicos. Você já aplicou um argumento ad populum ? Quantas vezes você acreditou em algo porque todo mundo acredita nisso?


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