Famílias invalidantes: sua família impede seu desenvolvimento pessoal?

Famílias invalidantes: sua família impede seu desenvolvimento pessoal?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 16 fevereiro, 2020

As famílias invalidantes são aquelas que impedem ou criam obstáculos para o desenvolvimento pessoal de seus integrantes. Implementam uma série de mecanismos que acabam gerando insegurança. Também minam a confiança de cada um no que ele é capaz de fazer, e criam um sentimento de invalidez que atrapalha o crescimento pessoal.

Todos sabemos que a família é nosso núcleo social básico. A partir dela, as pessoas aprendem a se relacionar com os outros seres humanos. A princípio, aprendemos os padrões que esse núcleo nos transmite, os quais servem como base para todos os relacionamentos que virão a seguir ao longo de nossa vida.

“Se não é sob sua proteção, não ponho um pé na frente do outro nesse umbral. Que Deus me ampare, o fantasma pode me esperar na beira da escada e me levar com ele para o inferno!”
-Matthew Gregory Lewis-

No caso de uma família invalidante, os padrões de comportamento aprendido estão errados. São marcados principalmente por formas de agir repletas de ansiedade e culpa. Tais família anulam seus membros de diferentes maneiras. Eles costumam ter, desde cedo, grandes problemas para se adaptarem a outros ambientes, e por isso também é muito usual que permaneçam em casa até idades avançadas.

As famílias invalidantes e a superproteção

Um dos mecanismos mais comuns nas famílias invalidantes é o da superproteção. Ou seja, uma preocupação excessiva de afastar a pessoa de qualquer perigo em potencial. Parte-se da ideia de que o mundo é um lugar repleto de ameaças. Por isso é necessário tomar medidas extremas de prevenção e proteção para que a pessoa não seja uma vítima de nenhuma delas.

Mãe consolando sua filha

O que está por trás da criança que passa por esse estilo de criação é ansiedade, dependência e baixa autoestima. A ansiedade gera medos e culpas imaginárias. Os pais querem que seus filhos “não sofram” e temem lhes fazer mal ao dar-lhes alguma responsabilidade. Isso não torna nenhum filho mais feliz, pelo contrário. Essa é a essência das famílias invalidantes.

As pessoas que crescem em uma família assim o fazem de forma que pouco a pouco vão se tornando indivíduos repletos de temores. O simples fato de sair de casa já os assusta, seja em um nível pequeno ou grande. O mais grave se instala quando alguns não conseguem identificar os recursos que possuem para enfrentar dificuldades ou alcançar seus objetivos. Para isso há sempre os pais, já que eles são os que sabem o que fazer.

A dependência extrema e a superioridade

A família invalidante superprotege o outro motivada também por uma ansiedade. Mas ao fazer isso, ao mesmo tempo lança uma mensagem implícita de superioridade: eu posso fazer isso, você não. A família pode te proteger, você sozinho não consegue nenhuma proteção. Desse modo, a situação gera laços de dependência muito fortes, uma sensação de autoeficácia e uma autoestima muito baixas.

No fundo, muitos pais que seguem esse tipo de criação encontraram em seus filhos um pretexto para não terem que pensar em seus próprios problemas. Pegam os problemas dos filhos para si, talvez porque estes pareçam mais simples e fáceis de resolver que os problemas da vida adulta. Geralmente estamos falando de pessoas que carregam uma grande frustração e vazios. Os filhos se transformam em uma desculpa para adiar eternamente uma conversa necessária com o interior.

Fios em volta de cabeça de mulher

Por esse motivo, prolongam até onde conseguem a dependência das crianças. Um dos mecanismos que contribui para isso é se tornar uma família invalidante. Desse modo, os filhos terão muito trabalho para conseguir sair do ninho, se é que conseguirão. Também precisariam da família para quase tudo, mesmo finalmente estando fora de casa.

Um círculo que prende

Não é fácil sair do cerco criado por uma família invalidante. Não é fácil, em primeiro lugar, porque as pessoas costumam resistir a admitir que seu contexto familiar é patológico. Constrói-se a ideia de que a família faz tudo pelo bem da pessoa, e a pessoa cresce acreditando que essa é a mais absoluta verdade. Tantos sacrifícios, tantos cuidados… É difícil compreender que isso na verdade corresponde a um comportamento patológico, e não a um amor valioso.

Quem faz parte de uma família invalidante costuma se tornar muito inseguro e, ao mesmo tempo, muito obstinado. São pessoas que têm uma baixa tolerância à frustração, e por isso é bastante complicado pra eles traçar objetivos e persegui-los quando surgem as adversidades. Geralmente se sentem inferiores aos outros e se vitimizam com muita frequência. Isso porque estão acostumados a se sentirem merecedores de atenção e contextos especiais.

Fios representando famílias

A única maneira de sair desse círculo das famílias invalidantes é desaprendendo as bases do comportamento impostas pela sua criação, um objetivo que é muito difícil e complicado. O indivíduo tem que romper com uma estrutura que as pessoas de quem ele mais gosta criaram, e inclusive dentro da qual ele pode estar se sentindo muito bem. É claro que a ideia de enfrentar seus medos sem esse contexto externo protetor pode parecer terrivelmente assustadora, além de um ato de ingratidão com quem o protegeu, e uma maneira de assumir riscos muito desnecessária.

Então, eles não contam com o apoio da família para perseguir e alcançar esse objetivo, e precisam criar esse suporte com um terapeuta ou com alguém externo que compense a falta de confiança em si mesmo. É por isso que, nesses casos, o primeiro e mais importante passo é pedir ajuda nessa empreitada.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.