Fase REM: a etapa mais importante do sono
A fase REM se inicia noventa minutos depois de adormecermos. Assim, a respiração acelera, começam os clássicos movimentos oculares e também os pesadelos mais vívidos. Nesse estágio, curiosamente, o cérebro mostra a mesma atividade que teria se estivesse acordado. Qual a razão? Ele está prestes a realizar uma das suas tarefas mais importantes.
Esta fase do sono foi descoberta há mais de 50 anos. Agora, pode-se dizer que a fase do sono do movimento ocular rápido ou a fase REM (rapid eye movement) continua guardando muitos enigmas. Por exemplo, os cientistas estão certos de que é nesse estágio do nosso descanso que o cérebro grava as novas memórias em nossa memória de longo prazo.
Sabemos também que o cérebro age como um verdadeiro escultor descartando o que considera irrelevante ou inútil para guardar todos os dados que considera significativos. Dessa forma, vai modelando parte de quem somos, facilita o aprendizado, integra experiências e consegue estabelecer as bases do nosso amadurecimento, da nossa evolução cognitiva, sensorial e emocional.
No entanto, os especialistas não sabem, por exemplo, quais são os mecanismos que guiam o cérebro para entrar repentinamente nessa fase REM de maneira surpreendente, tão hiperativa e cheia de possibilidades. Assim, estudos publicados na revista Nature e realizados pelos neurologistas Jon Lu e David Sherman relatam uma espécie de “interruptor” localizado no tronco cerebral.
Seria mais um conjunto de neurônios especializados que nos permitiriam cruzar, por assim dizer, esse limiar e passarmos para esse mundo onde os sonhos são mais vívidos. É nessa fase que algumas pessoas podem andar sonâmbulas e o nosso cérebro reorganiza todas as memórias que codificou durante o dia…
“Nós somos feitos do mesmo tecido de que são feitos os sonhos”.
-William Shakespeare-
A fase REM e os fundamentos do sono
Quando Sherlock Holmes disse ao Dr. Watson que o melhor remédio para todos os problemas era dormir, ele não estava errado. Quando o nosso corpo descansa, recuperamos a energia e a saúde. Uma boa noite de sono é um mecanismo ideal para reduzir o estresse. Dessa forma, conseguimos enxergar a realidade por meio de outras perspectivas e pensar de uma maneira mais clara e precisa.
Dormir é uma necessidade biológica. Deixar o nosso cérebro viajar, aprofundar e adquirir controle na fase REM é essencial para a maioria dos seres vivos.
Além disso, sabemos que todos nós geralmente temos entre 4 e 9 ciclos de sono divididos em 5 fases cada. Os últimos são o território REM, onde esse sono paradoxal nos dá um descanso repousante e o nosso cérebro pode realizar tarefas indispensáveis.
Além disso, sabemos também que os recém-nascidos e as crianças menores passam a maior parte do ciclo do sono no estágio REM. Assim, integram melhor cada experiência no que é, sem dúvida, o estágio mais importante do seu desenvolvimento. No entanto, a partir dos 6 anos, esta fase é reduzida significativamente e tem a mesma duração que em um adulto.
Por outro lado, como foi explicado pelos cientistas Una de Karni e BS Rubenstein em um estudo publicado pela revista Science, o sono REM é a chave para a nossa percepção e atenção, para responder a estímulos, para aprender com nosso ambiente e sobreviver nele.
Da mesma forma, também sabemos que todos os mamíferos, assim como os pássaros, sonham e têm a sua fase REM. Curiosamente, o mesmo não acontece com peixes, lagartos e tartarugas…
O que acontece durante a fase REM no nosso cérebro e no nosso corpo?
O sono REM também é chamado de “paradoxal” pela peculiaridade das ondas cerebrais que aparecem nesta fase de repouso: são dessincronizadas, muito rápidas e de baixa voltagem.
Por outro lado, a área cerebral que, segundo os especialistas, regula essa fase do sono é o tronco cerebral. Os neurônios corticais e talâmicos estão mais despolarizados nesse estágio, e há também um tipo de neurotransmissor em maior quantidade: a acetilcolina. Além disso, quando alcançamos a fase REM, geralmente experimentamos o seguinte:
- Respiração acelerada.
- Movimento dos olhos.
- Relaxamento muscular.
- Excitação sexual.
- Aparecimento de sonhos vívidos.
Para entender melhor como a fase REM funciona e aparece, vejamos quais são as fases do sono.
Estágio 1
Nesta primeira etapa os despertares são comuns, bem como a sensação de quedas repentinas. O tônus muscular relaxa gradualmente e as ondas cerebrais alfa e teta predominam.
Estágio 2
O sono se torna mais profundo, o ritmo cardíaco diminui, assim como a temperatura corporal. Neste ponto, o corpo se prepara para entrar nas fases mais importantes de descanso.
Estágios 3 e 4
Nestas fases, o sono é profundo. As ondas delta predominam e os distúrbios do sono, como terrores noturnos e sonambulismo, podem aparecer.
Durante esta fase do sono NÃO-REM, o corpo e os tecidos são regenerados, as células que não funcionam mais são eliminadas e o sistema imunológico é depurado. No entanto, no caso das crianças, o crescimento dos ossos e dos músculos são estimulados.
Fase REM
Entre 90 e 100 minutos de sono, finalmente chegamos à fase REM. Nessa fase, as ondas cerebrais têm a mesma atividade que teriam se estivéssemos acordados. Além disso, os nossos sonhos apresentam uma narrativa com maior sentido e o corpo perde o tônus muscular. As ondas teta predominam e o cérebro começa a integrar as experiências vividas na memória de longo prazo.
Este ciclo descrito será repetido durante a noite entre 4 e 5 vezes. Em cada ciclo, o estágio REM durará mais, começando com 10 minutos até atingir uma hora (duas horas se tivermos menos de 30 anos e meia hora se tivermos mais de 65 anos).
Como podemos ver, a relevância de manter uma boa higiene do sono é fundamental não apenas para recuperar a energia. Dormir bem e chegar à fase REM é a chave para cuidarmos dos nossos processos cognitivos, da memória, atenção, percepção, capacidade de reagir de forma mais efetiva aos estímulos do dia a dia…
Segundo Shakespeare, o homem que não se alimenta dos seus sonhos envelhece rapidamente. Poderíamos acrescentar também que a pessoa que não dorme e não sonha não vive como merece…
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- Siegel, J. M. (2001, November 2). The REM sleep-memory consolidation hypothesis. Science. https://doi.org/10.1126/science.1063049
- Lu, J., Sherman, D., Devor, M., & Saper, C. B. (2006). A putative flip-flop switch for control of REM sleep. Nature, 441(7093), 589–594. https://doi.org/10.1038/nature04767
- McCarley, R.W. (2007). Neurobiology of REM and NREM sleep. Sleep Med, 8.
- Karni, A., Tanne, D., Rubenstein, BS, Askenasy, JJM, y Sagi, D. (1994). Dependencia del sueño REM de la mejora durante la noche de una habilidad de percepción. Science , 265 (5172), 679–682. https://doi.org/10.1126/science.8036518