Filhas de mães narcisistas: o vínculo de egoísmo e frieza

Filhas de mães narcisistas: o vínculo de egoísmo e frieza
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 02 dezembro, 2021

As filhas de mães narcisistas cresceram sob uma sombra feminina ameaçadora. Trata-se de um estilo de criação baseado no controle e na falta de empatia, onde uma mulher tenta moldar na criança uma versão de si mesma, mas ao mesmo tempo projetando nela o seu próprio ego e inseguranças. São estilos educativos habitados pela abnegação, independência e sofrimento.

Será que alguma vez serei boa o suficiente para a minha mãe? Esta é uma das perguntas que mais costumam surgir na cabeça das filhas deste perfil de personalidade baseado no narcisismo.

No entanto, algo que muitas dessas mulheres criadas em tais ambientes acabam assumindo é que suas mães não tinham o instinto maternal. Especialista em suprimir identidades e em boicotar qualquer tentativa de independência, a mãe narcisista é, sem dúvida, um dos perfis mais complexos e prejudiciais que podemos encontrar.

“Estou ficando velha e o que tenho? Uma filha que não pode cuidar de mim, uma filha que não aprecia tudo o que fiz por ela”.
–Mamãezinha Querida (1981)-

Nos anos 1980 estreou um filme que serviria como um ótimo exemplo desta realidade. Mommie dearest foi uma produção baseada em um livro de grande sucesso escrito por Christina Crawford, filha da famosa atriz Joan Crawford.

Naquelas páginas, que a princípio buscavam transcrever a biografia de uma das mulheres com maior poder e repercussão do cinema, ficava explícita a história de um abuso, de maus-tratos psicológicos quase constantes. A história de uma mãe narcisista que, desafiando as normas tradicionais de criação, quis projetar em sua filha outra versão de si mesma. Os efeitos foram devastadores…

Filhas de mães narcisistas

Filhas de mães narcisistas: quando você nunca é boa o bastante

É importante esclarecer desde o início que nem todas as mulheres com padrões de comportamento narcisistas evidenciam um transtorno narcisista da personalidade do modo como está definido no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Elas podem apresentar determinadas características e, ainda assim, continuar sendo funcionais a nível social e pessoal. No entanto, a isso é adicionado outro aspecto: a total incompetência em matéria de educação e criação.

Assim, o que esse narcisismo materno faz é atropelar completamente o vínculo entre mãe e filha, dificultando completamente a capacidade da criança de se tornar uma mulher independente e autoconfiante.

Por outro lado, se nos perguntarmos como é a relação com os filhos do sexo masculino, podemos dizer que também não é a mais adequada. Geralmente, nessas famílias todas as dinâmicas estão centradas na mãe narcisista e o desgaste, o impacto de sua personalidade, permeia praticamente qualquer aspecto.

No entanto, as filhas de mães narcisistas sofrem muito mais esse influxo por várias razões. Primeiro de tudo, porque elas usam as meninas para projetarem a si mesmas. Elas são como um apêndice de seu próprio ego, mas ao mesmo tempo, as veem como uma ameaça.

Afinal, é possível que elas superem as mães em qualquer dimensão: beleza, inteligência, resolução, autonomia… Vejamos, no entanto, quais dinâmicas costumam definir esse tipo de elo prejudicial.

O desamparo das filhas de mães narcisistas

A mãe narcisista aplica uma disciplina implacável. Ela se preocupa mais com a forma como sua filha é percebida pelos outros do que com a forma como ela se sente, o que ela quer ou quais necessidades apresenta. Dessa forma, ela começa a anular as emoções de sua filha desde muito cedo através da indiferença ou da crítica.

Essas dinâmicas prejudicam completamente o desenvolvimento da identidade dessas meninas. A baixa autoestima se soma à baixa autoconfiança, impotência e necessidade de contar em quase qualquer aspecto com a aprovação materna.

Essa dependência é tanta que, com o passar dos anos, surge também o sentimento de vergonha. Esse sentimento acaba se tornando tóxico, porque em muitos casos as filhas acabam assumindo que não são dignas de serem amadas.

Mãe brigando com sua filha

Nunca compita com uma mãe narcisista

Como já observamos, as filhas de mães narcisistas são aquele espelho em que essas últimas querem se ver refletidas. Elas querem que suas filhas sejam uma extensão de si mesmas, pareçam perfeitas perante o mundo e que façam as escolhas que elas mesmas fariam. Por isso, as condicionam em termos de gostos, estudos, amizades e relacionamentos.

No entanto, geralmente há um efeito tão contraditório quanto prejudicial. A inveja está sempre presente, como um véu sufocante, como uma sombra persistente. Assim, podem ocorrer situações surreais: proibir as filhas de sair com certas pessoas, mas ao mesmo tempo não hesitar em flertar com esses pretendentes. Além disso, algo que as filhas das mães narcisistas sabem é que elas nunca estarão lá para defendê-las ou protegê-las.

Filhas nascidas para servir e agradar a mãe narcisista

Uma mãe narcisista exigirá a atenção constante da filha. Ela será obrigada a satisfazer necessidades, a cumprir expectativas e a não se destacar em excesso para não ofuscar sua mãe. Para que tudo isso tenha efeito, essas mães não hesitam em manipular, humilhar e enfraquecer a autoestima.

Como curar a ferida criada por uma mãe narcisista?

Muitas das filhas de mães narcisistas têm que enfrentar um trauma. É a ferida gerada por crescer com uma identidade indefinida, com um acúmulo de emoções enterradas, convulsionadas e negadas. Elas têm que enfrentar sentimentos de vergonha e se livrar dos efeitos da codependência, algo que, como podemos imaginar, não é fácil.

No entanto, é possível sobreviver a isso e a recuperação existe, desde que tenhamos a ajuda adequada. Existem terapeutas especializados nesses casos, que se prepararam para nos ajudar em cada uma das etapas. A primeira é substituir a voz materna internalizada, negativa e crítica por uma nova: a nossa. Uma voz que deve ser tratada com amor, com respeito e com mentalidade de crescimento.

Silhueta de mulher diante do sol

Um segundo aspecto crucial é aprender a se desvincular delas, estabelecer limites. Precisamos aprender a nos priorizar e nos posicionar no lugar que merecemos. Aquele lugar onde podemos assumir projetos próprios, onde podemos ser, agir, viver e respirar com total autonomia e liberdade sem estar subordinadas à influência narcisista.

Conseguir isso leva tempo. Além disso, em muitos casos, significa ter que se afastar dessa mãe narcisista e assumir que, pela primeira vez, faremos aquilo que tanto nos angustiava: decepcioná-la. No entanto, dar esse passo será investir em nossa saúde mental e qualidade de vida.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.