Fobia de impulsão: o que é e como tratar

Fobia de impulsão: o que é e como tratar
Julia Marquez Arrico

Escrito e verificado por a psicóloga Julia Marquez Arrico.

Última atualização: 18 maio, 2023

A fobia de impulsão é o medo extremo de seguir um impulso, perder o controle e fazer mal aos outros ou a si mesmo. Algumas classificações diagnósticas tratam a fobia de impulsão como uma variante do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), pois se trata de um pensamento intrusivo que invade ou sequestra a mente do indivíduo, de maneira que este realiza algum tipo de comportamento ou pensamento (compulsão) para diminuir a ansiedade que esse pensamento provoca.

A seguir vamos explicar como identificar a fobia de impulsão e como ela pode ser tratada.

Como identificar a fobia de impulsão?

Do ponto de vista profissional, a fobia de impulsão é uma variante do TOC. No entanto, com independência de considerá-la como um tipo de TOC ou como uma fobia em si mesma, falamos de um diagnóstico caracterizado pelo medo intenso dos próprios impulsos.

As principais características clínicas que definem esse transtorno são:

  • Invasão de pensamentos que giram ao redor de seguir um impulso e perder o controle.
  • O conteúdo desse pensamento tem a ver com a antecipação de uma “agressão”: a si mesmo ou aos outros.
  • Um medo intenso pelo simples fato de experimentar tais pensamentos.
  • Realizar comportamentos preventivos ou de evitação para evitar que esse tipo de pensamento se transforme em realidade.
Mulher escondida na escuridão

Quais são os impulsos mais frequentes?

As pessoas que procuram uma consulta e são diagnosticadas com fobia de impulsão costumam ser capazes de identificar pensamentos que envolvem medo de fazer mal aos familiares (cônjuge, pais, filhos, etc.), se jogar da sacada, dar uma virada brusca no volante do carro enquanto dirige na estrada ou se jogar na frente do metrô. Em todos os casos, se observa no paciente uma fusão entre pensamento e ação.

O processo de desenvolvimento da fobia de impulsão é:

  • A pessoa tem um pensamento ou uma imagem na qual se “vê” realizando o impulso e perdendo o controle de si mesma.
  • Esse pensamento ou essa imagem é considerado catastrófico.
  • Por isso, a pessoa emprega todos os recursos psicológicos que tem para “apagar” da mente esses pensamentos ou essas imagens. Como a focalização no pensamento é uma estratégia incorreta, a angústia que provoca aumenta e os pensamentos antecipatórios se tornam ainda mais poderosos.
  • Como não se pode controlar o conteúdo dos pensamentos (ninguém pode fazer isso), a pessoa reforça o poder da ideia que alude à perda de controle, intensificando a sensação de medo.

 “As pessoas que consultam um psicólogo por fobia de impulsão costumam se referir a pensamentos que provocam medo de fazer mal aos familiares (cônjuge, pais ou filhos).”

Consequências mais frequentes da fobia de impulsão

Qualquer tipo de TOC ou fobia (se o objeto do medo está presente todos os dias) provoca uma significativa diminuição na qualidade de vida do paciente. Isso acontece como resultado do esforço da pessoa para controlar o medo e evitar as situações que provocam ansiedade. Assim, progressivamente e sem se dar conta, acaba renunciando a diferentes aspectos da sua vida pessoa, consumindo boa parte da sua energia tentando controlar o medo.

Uma das principais consequências da fobia de impulsão é a sensação de ter o inimigo dentro de si mesmo. Por se tratar de um transtorno egodistônico (existe uma dissonância entre o que a pessoa pensa e o que quer), a autoexigência por controlar os pensamentos é muito alta, ao mesmo tempo em que a pessoa tem a sensação de que está lutando contra si mesma.

Ou seja, a obsessão e o medo do impulsão invadem a atenção do paciente, mas ele acredita que, como é algo externo, pode controlar. Ao não conseguir fazer isso, sente que é ele ou ela que provoca a obsessão e, por isso, a sensação de “lutar contra o que diz a minha cabeça”. Ao longo do tempo, essa luta interna leva a quadros de ansiedade e depressão que também precisam ser abordados na terapia.

Mulher esgotada

Como é o tratamento para a fobia de impulsão?

O tratamento para a fobia de impulsão, seja qual for o objeto de obsessão (independentemente de ser fazer mal a si mesmo ou aos outros), sempre tem que ser psicológico; podendo ser combinado, caso a ansiedade seja extrema, com tratamento psicofarmacológico determinado por um psiquiatra. Em linhas gerais, a abordagem terapêutica para essa fobia segue as orientações de tratamento utilizadas para os casos de TOC.

“Qualquer tipo de TOC ou fobia (se o objeto do medo está presente todos os dias) provoca uma importante diminuição na qualidade de vida do paciente.”

Dizemos que o tratamento sempre deve ser psicológico porque é o psicólogo quem tem a formação e a experiência que o capacita a conseguir que o paciente (utilizando uma série de técnicas psicoterapêuticas) conquiste mudanças nos seguintes pontos:

  • Entender como foi a aquisição do problema e qual é seu funcionamento atual.
  • Analisar e identificar as soluções criadas para resolver o transtorno e em que ponto elas falharam.
  • Potencializar as soluções tentadas que funcionaram.
  • Fazer com que o paciente seja capaz de compreender como sua mente e seu transtorno funcionam e, assim, assumir o controle do que acontece consigo mesmo.
  • Desvincular a pessoa dos pensamentos: pensar alguma coisa não significa fazer, nem ser capaz de fazer, nem aumenta as chances de que ocorra.
  • Recuperar aspectos da vida que a pessoa valoriza, mas das quais se descuidou.
  • Prevenir a recaída e consolidar as ferramentas psicológicas adquiridas.

Por fim, cabe destacar que, embora existam diferentes tipos de abordagens psicológicas para estabelecer o tratamento em casos de fobia de impulsão, existem estudos sobre a eficácia de estratégias cognitivo-comportamentais.

Isso não significa que outras abordagens não sejam válidas, mas que não se pode comprovar cientificamente se funcionam ou não. Isso aconteceu provavelmente porque não foram realizados estudos sobre outros modelos terapêuticos que são mais complicados de padronizar (por exemplo, a terapia breve estratégica).

Se no seu caso você se identifica como uma pessoa com fobia de impulsão, tenha em mente que se trata de um problema psicológico que quanto antes for enfrentado, mais cedo você vai conseguir se libertar. O psicólogo é seu melhor aliado! Se precisar, dê o primeiro passo: peça ajuda.


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