Função semiótica: definição e desenvolvimento

Função semiótica: definição e desenvolvimento
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 21 dezembro, 2022

A função semiótica é a habilidade de elaborar representações. Essa capacidade se baseia no manejo dos signos e símbolos, que são caracterizados por ter um significado e um significante diferentes. Mas como isso realmente funciona?

Para entender o que é a função semiótica, um dos melhores exemplos é uma pintura realizada por um pintor francês chamado Magritte. O artista desenhou um cachimbo, e embaixo dele escreveu: “Ceci n’est une pipe” que em português quer dizer “Isso não é um cachimbo”.

Com isso, ele queria deixar claro que apesar de o desenho evocar em nossa mente um cachimbo, ele não era realmente um cachimbo. Era, no caso, apenas uma representação simbólica de um objeto que existe no mundo real. Parece confuso, mas você já pensou nisso? Toda representação não é, de fato, o objeto real.

Nesse exemplo, Magritte faz uso da função semiótica para criar a arte. Todos os humanos utilizam as representações continuamente. Nesse artigo vamos falar dos diferentes tipos de representação que existem a partir da relação entre significante e significado.

Isso não é um cachimbo

Componentes das representações

As representações formam uma grande parte de nossas vidas. Continuamente estamos usando signos e símbolos que nos ajudam a planejar, comunicar e orientar nossas ações. Sua utilidade reside em nos permitir interagir mentalmente com um elemento sem de fato estar experimentando o objeto no mundo real.

Cada representação tem dois elementos: significante e significado. O primeiro faz referência ao componente físico da representação. Por exemplo, as letras que formam uma palavra, ou os traços do desenho de um pintura. O significado, por outro lado, é a imagem que é criada na nossa cabeça ao vermos um determinado símbolo.

A utilização das representações abre diversas possibilidades para o desenvolvimento do nosso psicológico. Isso permite ao sujeito se distanciar da situação presente, e se abrir a lugares distantes no tempo e no espaço. Inclusive, essa capacidade nos proporciona a habilidade de criar mundos fictícios que só existem na nossa imaginação.

Tipos de representações

Saussure, filósofo, classificou as representações em três tipos diferentes. Elas se diferenciam entre si de acordo com o grau de conexão entre o significado e o significante.

  • Índices ou sinais Nesse caso, o significante e o significado não estão diferenciados entre si. Ambos têm uma conexão direta. Um exemplo pode ser ver comida roída no chão de nossa cozinha e inferir que há ratos por ali. Os restos de alimento estão, nesse caso, atuando como índice.
  • Símbolos. Nesse outro caso, o significante é independente do significado. Existe, no entanto, algum tipo de relação entre ambos. Os desenhos, quadros e fotografias seriam símbolos do que estão representando. Por exemplo, um desenho de uma pipa não é o objeto real, mas existe uma forte relação entre eles. Esse tipo de representação aparece de forma mais indireta no jogo simbólico. Por exemplo, quando uma criança utiliza um graveto como se fosse uma espada.
  • Signos. As representações são chamadas de signos quando o significante é completamente arbitrário. A relação entre ambos os elementos se estabelece graças a um longo processo histórico social. Por isso, uma pessoa alheia a esse contexto não poderia interpretar o signo. O exemplo mais claro é a linguagem. Por exemplo, as letras da palavra “gato” não têm nenhuma relação com o que representam, mas ainda assim evocam uma imagem em nossa mente.
Criança exercitando sua criatividade

A aparição da função semiótica

A capacidade de criar representação é uma habilidade que vai se desenvolvendo e se tornando cada vez mais presente nos últimos estágios do período sensório motor do desenvolvimento humano, de acordo com as fases de desenvolvimento de Piaget.

A aparição da função semiótica, portanto, não é algo abrupto. Pouco a pouco a criança utilizará cada vez mais representações e mais comportamentos semióticos.

A partir dessa etapa, podemos encontrar muitos exemplos de função semiótica no comportamento das crianças:

  • Imitação diferida.  Consiste na imitação de algo que não está presente. Aparece como um preâmbulo da capacidade de representação, já que constitui uma imitação de atos materiais mas não de pensamentos. Considera-se um dos primeiros comportamentos semióticos que aparecem no ciclo de vida da criança.
  • Jogo simbólico. Trata-se de uma atividade muito típica da infância. Os participantes do jogo simbólico utilizam elementos como se aqueles objetos fossem outros – como usar os gravetos como espadas. Estão, dessa forma, fazendo uso da função semiótica.
  • Desenho. Outra das formas por meio das quais a criança começa a demonstrar a sua capacidade de representação é por meio do desenho. Temos que ter em mente que essa atividade é muito mais do que a mera cópia da realidade. Ao fazer um desenho, representamos uma imagem interna de tal modo que o que está sendo representado pela criança costuma ser o que ela já sabe sobre o objeto ou cena que está desenhando.
  • Linguagem. Esse é o comportamento semiótico por excelência. Quando uma criança começa a utilizar a fala, podemos observar como utiliza signos arbitrários, separando por completo significado de significante.

Como conclusão, não é exagero dizer que a função semiótica é uma das capacidade mais importantes do ser humano. Graças a ela, fomos capazes de criar um sistema de comunicação que nos permitiu desenvolver uma cultura e uma história que provocou o avanço e a sobrevivência da comunidade humana.

Estudar e investigar o desenvolvimento da semiótica, portanto, ajudou muito o homem a compreender profundamente as fortes implicações que essa capacidade tem na vida da pessoas.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.