Gritar e pedir que não gritem com você
Você tem todo o direito de pedir que não gritem com você. A única condição prévia para exigir isso é que você não grite com os demais, já que do contrário não faz sentido exigir essa demanda. Não é raro ver pessoas que respondem com um grito ou outro no meio de uma discussão, aumentando o volume da conversa para chamar a atenção.
A maioria acaba discutindo com pessoas irracionais e descontroladas. É um grande desafio, principalmente quando esse alguém é um chefe, colega de trabalho ou até mesmo um parceiro. O maior desafio está em não permitir que a pessoa faça você ser mal educado como ela, mas sabemos que isso não é nada fácil.
Gritos são sinais muito difíceis de derrotar, pois são ofensivos e facilmente perturbadores. Para pedir que não gritem com você, o segredo está exatamente em aprender a reagir diante desse tipo de agressão. Da mesma forma, se você faz parte do “grupo dos gritões”, terá pouca autoridade para exigir que os demais não façam o mesmo com você.
“Os homens gritam para não se ouvir”.
– Miguel de Unamuno –
Gritar como forma de expressão
Gritar é um ato que não tem nenhuma utilidade além de intimidar ou expressar raiva. A raiva é o principal motor dos gritos. Por outro lado, essa forma de manifestação demonstra pouco controle.
Há muitos lugares comuns e frases feitas que tentam justificar os gritos. “Grito porque você não me escuta”, dizem algumas pessoas. “Parece que você só entende quando eu grito!”, dizem outras. Como estas, há muitas outras fórmulas estereotipadas da linguagem que tentam dar explicações racionais para o ato irracional de gritar.
Os gritos só indicam que há instabilidade emocional na pessoa que sobe o volume de sua voz. A pessoa grita porque quer demonstrar ser mais forte do que é e tenta exercer domínio sobre a situação. No entanto, o que ela acaba demonstrando é que não tem controle suficiente nem sobre si mesma.
As razões pelas quais as pessoas gritam
As pessoas também gritam quando se sentem assustadas ou encurraladas, e acabam atacando para se defender. A ameaça pode ser real ou imaginária. Muitas vezes, ela só existe porque as inseguranças determinam isso. Quando a pessoa é muito dependente da aprovação alheia, ou muito sensível à crítica, por exemplo, qualquer gesto pode ser interpretado como uma agressão potencial da qual deve se defender.
Outras pessoas gritam pela simples força do hábito. Por exemplo: quem foi educado aos gritos internaliza esse ato como uma forma de comunicação “normal” em sua vida. Então, ao se deparar com qualquer decepção ou frustração, acaba gritando para expressar sua desorientação ou desconforto.
Por outro lado, há pessoas que desenvolvem tendências agressivas, seja por um temperamento mal canalizado, ou porque cruzam com situações que as estressam. Nestes casos, não somente utilizarão os gritos como um mecanismo cotidiano, como também terão episódios regulares de hostilidade e acessos de raiva.
Pedir que não gritem com você
Frequentemente, quem levanta o tom de voz recebe exatamente o mesmo em troca. Assim, podemos perceber claramente a inutilidade dos gritos: de fato, não só sua inutilidade, mas também seu efeito altamente nocivo sobre a comunicação e as reflexões humanas. Pedir que não gritem com você é um direito, então conquiste-o e defenda-o. Para fazer isso, você precisa dar o primeiro passo.
Frequentemente observamos uma regra de conduta na qual, em relações de poder, o superior aparentemente tem o direito de gritar, mas quem está sob seu domínio, não. Isso é visto entre pais e filhos, professores e alunos, chefes e funcionários, e inclusive em relacionamentos construídos sob esquemas de poder assimétricos.
É em cenários como esses, nos quais há um poder vertical e severo, que o padrão de gritar e pedir para não gritar é visto mais frequentemente. A mãe grita com seu filho, mas considera uma falta de respeito receber o mesmo tom de voz como resposta. Alega-se que existe uma hierarquia e que esta deve ser respeitada, o que é verdade, mas a pessoa acaba deixando de lado o fato de que a autoridade nasce da coerência e do exemplo, não da agressividade.
A mãe, o professor, o chefe ou o parceiro podem sair gritando à vontade. Acabam intimidando ou inibindo o outro, mas também semeiam a falta de respeito nas relações. Quem diz uma coisa e faz outra não gera respeito. Ou seja, quem está descontrolado e pede controle é contraditório. Os gritos não contribuem com nada e, embora todos nós já tenhamos caído na tentação de aumentar o volume da nossa voz em algum momento, fazer isso vai continuar sendo um erro.
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Shelton, N., & Burton, S. (2004). Asertividad. Haga oír su voz sin gritar. FC Editorial.