5 habilidades que se instalam antes do nascimento
Conhecer as habilidades que se instalam antes do nascimento é algo que sempre foi do interesse de psicólogos e médicos. No entanto, descobrir o que acontece dentro do útero da mãe durante o desenvolvimento do feto deixou de ser um mistério, pelo menos em parte, há algumas décadas.
Já ao nascer, muitos bebês apresentam habilidades que não podem ser explicadas pelo simples ato da imitação ou da resposta a determinados reflexos. Por exemplo, aquelas que têm a ver com receber carinho e cuidados daqueles ao redor.
Além disso, eles também possuem uma variedade de habilidades para obter estímulos sem colocar a sua sobrevivência em risco, juntamente com habilidades de observação e atenção. Isso ocorre porque, durante o tempo dentro do útero materno, o feto já está aprendendo de alguma forma.
Gravidez: um período de aprendizado e apego emocional
As batidas do coração da mãe e o som dos seus intestinos são os primeiros sons que o bebê ouve. Entretanto, mãe e filho não estão conectados apenas através dos sentidos.
Quando uma mulher grávida dá uma gargalhada ou fica com raiva e os seus vasos sanguíneos se contraem, o seu filho experimenta algo semelhante porque está conectado a ela através da placenta e do cordão umbilical.
Por causa da unidade física, a mãe influencia o desenvolvimento da criança muito mais do que o pai durante esse período. Assim, a forma como ela vive, o que come e como ela se sente afeta o bebê, especialmente o seu cérebro em desenvolvimento.
Quanto mais imaturo o organismo, mais sensível ele é às influências externas. É como aprender um idioma. Quanto mais jovem uma pessoa, mais rápido ela aprende. Uma vez que o bebê, o feto, é tão receptivo durante a gravidez, os pesquisadores falam em um processo de “programação fetal”, uma hipótese formulada por Barker em 1980.
A programação fetal
Essa programação consiste em um processo de adaptação através do qual alguns fatores ambientais e nutricionais alteram as vias de desenvolvimento durante o período de crescimento pré-natal.
Assim, durante a programação fetal, forma-se o cérebro, ajustam-se os circuitos de controle hormonal e adapta-se a leitura dos genes de tal forma que certos traços de personalidade já estarão em processo no nascimento. Isso poderia influenciar o metabolismo pós-natal e a suscetibilidade a certas doenças.
Portanto, de acordo com essa hipótese, a tendência de um bebê ser tranquilo ou muito ativo, ou de mamar muito ou pouco, depende em parte do tempo no útero. “Assim como o bebê é quando nasce, assim também será mais tarde na vida”, dizem muitas parteiras.
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, uma vez que podem existir outros fatores e aspectos que influenciam o desenvolvimento das diferentes doenças.
Habilidades que se instalam nos bebês antes do nascimento
A pesquisa sobre a cognição neonatal é um desenvolvimento muito recente em comparação com a longa história da pesquisa sobre o comportamento infantil. Os últimos sessenta anos forneceram uma grande quantidade de evidências sobre as muitas habilidades dos bebês.
É plausível que, embora os seus sentidos não sejam tão aguçados quanto os dos adultos, os recém-nascidos também tenham algum meio de formar uma representação coerente, porém incompleta, de objetos, eventos e pessoas.
De fato, os recém-nascidos podem ser dotados de uma grande coleção de predisposições cognitivas que permitem que extraiam e representem as invariantes do seu entorno. Esse status de “bebê competente” se deve em grande parte ao desenvolvimento de duas técnicas: a técnica do olhar preferencial e a técnica da habituação.
1. Eles prestam atenção aos sons de suas figuras de apego
Os recém-nascidos podem reconhecer vozes e melodias familiares. No final da gestação, os bebês já prestam atenção aos sons que ouvem. Mas como sabemos disso? Graças ao avanço de técnicas como o ultrassom.
Em vários estudos, os pesquisadores usaram o ultrassom para ver como os bebês respondiam aos sons. Por exemplo, quando os bebês ouvem os seus pais falarem, eles se “tranquilizam” temporariamente e desaceleram os seus movimentos corporais durante vários segundos (por exemplo, Voegtline et al 2013; Marx e Nagy 2015).
2. Eles podem reconhecer as vozes de suas mães
Em experimentos realizados apenas 12 horas após o nascimento, os pesquisadores apresentaram aos bebês reproduções de áudio de uma mesma história, uma vez narrada por uma desconhecida e uma vez narrada por sua própria mãe.
Cada bebê recebeu uma chupeta para sugar. Se um bebê quisesse continuar ouvindo uma voz, ele simplesmente precisava continuar sugando. Para interromper uma história, os bebês tinham que pausar a sucção durante dois segundos ou mais.
Conforme esperado, os bebês demoraram alguns minutos para perceber essa dinâmica, mas, uma vez que a percebiam, mostravam uma clara preferência: passar mais tempo ouvindo a mãe (DeCasper e Fifer 1980).
3. Eles são capazes de reconhecer melodias
Em um estudo, os pesquisadores pediram que mulheres grávidas ouvissem gravações da música “Twinkle, Twinkle, Little Star” várias vezes ao dia. Então, pouco depois do parto, os pesquisadores cantaram Twinkle, Twinkle para os bebês e mediram a atividade elétrica no cérebro dos recém-nascidos.
Além disso, os pesquisadores também avaliaram um grupo controle: recém-nascidos que não haviam sido submetidos a sessões de música no pré-natal. Os resultados? Os bebês Twinkle, Twinkle mostraram sinais neurais de familiaridade com a melodia. Os bebês do grupo controle não (Partanen et al 2014).
Isso é consistente com pesquisas observacionais anteriores que indicam que os recém-nascidos podem reconhecer os temas musicais dos programas de televisão favoritos de suas mães (Hepper 1991).
4. Eles podem selecionar palavras individuais dentro de um fluxo de fala
Em um estudo recente usando a tecnologia de imagem cerebral, os pesquisadores descobriram que bebês com três dias de vida eram capazes de selecionar palavras individuais dentro de um fluxo contínuo de fala (Flo et al 2019).
Como eles conseguiram? Os pesquisadores apontam para dois caminhos como prováveis.
- Primeiramente, os recém-nascidos provavelmente confiam na natureza prosódica e musical da fala. Às vezes, destacamos palavras com mudanças de tom, por exemplo. Isso parece ser usado pelos bebês como um sinal para detectar os limites das palavras.
- Em segundo lugar, parece que os recém-nascidos também detectam associações estatísticas, rastreando padrões comuns na forma como um idioma combina os sons para formar palavras. Por exemplo, com dados suficientes, um bebê que ouve o inglês poderia perceber que a maioria das palavras termina em consoantes.
Assim, os recém-nascidos não se deixam levar pela linguagem, mas os seus cérebros estão tentando dar sentido a ela. E também há algo mais que eles fazem que os ajuda a aprender: prestar atenção especial ao registro melódico, lento e repetitivo que usamos quando falamos com eles.
Experimentos mostram que os bebês estão em sintonia com essa nossa maneira tão particular de falar com eles, e por uma boa razão. É mais difícil dar sentido à fala quando ela é rápida e monótona.
Assim, quando falamos mais melodicamente, variando o nosso tom, conseguimos captar melhor a atenção de um recém-nascido.
5. Eles tentam decifrar o mundo visual
Os bebês pequenos não conseguem enxergar muito bem. Sua visão é embaçada e eles ainda não desenvolveram uma boa percepção de profundidade. No entanto, os recém-nascidos se interessam bastante pelos estímulos visuais, principalmente aqueles que sugerem o movimento de um ser vivo.
Por exemplo, a atenção que os recém-nascidos prestam ao movimento de um conjunto de pontos dependerá de qual padrão for seguido pelo movimento desses pontos.
Mais especificamente, se cada ponto se mover de maneira aleatória, os bebês ficarão menos interessados. Entretanto, se todos os pontos se moverem juntos na mesma direção (o que os cientistas chamam de “movimento biológico do ponto de luz”), os recém-nascidos realmente vão percebê-los (Bidet-Ildei et al 2014).
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