A lei de Fraisse e a percepção do tempo

O horário de trabalho parece eterno para você? Talvez você esteja sendo afetado pela lei de Fraisse. Neste artigo, você aprenderá o que é e como pode usá-la a seu favor.
A lei de Fraisse e a percepção do tempo
Ebiezer López

Escrito e verificado por o psicólogo Ebiezer López.

Última atualização: 29 dezembro, 2022

Você sente que o tempo passa mais rápido quando você relaxa, mas as horas no trabalho parecem eternas? Embora possa parecer que seu relógio está brincando com você, na realidade não é assim. Existe uma explicação psicológica para esse fenômeno e é conhecida como lei de Fraisse. Ela nos permite analisar nossa própria percepção do tempo e como ela pode ser alterada.

Essa lei foi proposta por Paul Fraisse, um psicólogo francês que fez inúmeras contribuições para a chamada psicologia do tempo. Além disso, é um conceito importante no campo organizacional, pois está diretamente relacionado à produtividade.

O que é a lei de Fraisse?

“O final de semana passou muito rápido” é uma frase comum. É provável que em mais de uma ocasião você tenha ouvido alguém reclamar da velocidade com que percebe o tempo passar. Assim como alguns falam sobre o quão rápido ele passa, outros se incomodam com o quão lento ele pode ser. “Sinto que estou no escritório há três horas, mas só estou no escritório há uma hora”.

Embora a maioria de nós tenha pensamentos e frases como essa, nem todos sabem a razão por trás desse fenômeno. Nesse sentido, Paul Fraisse realizou diversos estudos sobre a percepção do tempo e descreveu a lei de Fraisse. Dessa forma, ele determinou que podemos falar de tempo em duas dimensões: uma objetiva e mensurável e outra subjetiva.

A parte objetiva é aquela que marca o relógio. Enquanto isso, nossa subjetividade lida com outro tipo de tempo. A lei menciona que a percepção psicológica do tempo varia de acordo com o interesse que a pessoa sente pelo que faz.

Ou seja, se você está fazendo uma atividade que gosta, é provável que perceba que o tempo passa rápido. Por outro lado, se você estiver estudando um assunto denso e chato, poderá sentir que os ponteiros do relógio estão desacelerando.

Mulher olhando para o relógio no trabalho
De acordo com o interesse que temos no que estamos fazendo, então vamos perceber o tempo.

Por que esse fenômeno ocorre na percepção do tempo?

A partir do trabalho de Fraisse, outros pesquisadores realizaram estudos sobre a percepção subjetiva do tempo. Desta forma, podemos agora compreender melhor os mecanismos psicológicos envolvidos na lei de Fraisse.

Em primeiro lugar, as evidências sugerem que há um componente neurobiológico por trás desse fato. Simen e Matell (2016) publicaram um estudo sobre por que o tempo parece voar quando estamos nos divertindo. Como bem sabemos, a dopamina é um neurotransmissor que participa do prazer que aparece como recompensa em determinadas situações. Seu estudo sugere que também tem a capacidade de alterar nossa percepção do tempo quando fazemos coisas que gostamos.

Por outro lado, Gable e Poole (2012) realizaram uma investigação sobre a influência da motivação na percepção do tempo. Em suas conclusões, eles explicam que quanto maior e mais focada a motivação para fazer algo, maior a distorção do tempo.

Nessa mesma linha, os traços de personalidade parecem ter uma influência significativa na percepção do tempo. Um artigo científico aponta que pessoas com traços de personalidade narcisista tendem a ver tarefas chatas como perda de tempo. Consequentemente, percebem a passagem do tempo como mais lenta do que o normal (O’Brien, Anastasio, & Bushman, 2011).

Implicações na avaliação do prazer

A lei de Fraisse tem implicações em diferentes áreas da vida, uma delas é a avaliação do prazer. A pesquisa mostrou que as pessoas usam a medição subjetiva do tempo para determinar o quão prazerosa é uma experiência (Sackett et al., 2010).

Por exemplo, com a música, às vezes é comum que as pessoas sintam que suas músicas favoritas são “muito curtas”. Então, essa percepção subjetiva do tempo é tomada como uma medida de quão “bom” ou “ruim” algo é. Em outras palavras, se sentimos que algo tem vida curta, tendemos a classificar essa experiência como melhor do que outras.

Mulher olhando para o relógio com Síndrome da Vida Ocupada
Muitas vezes temos a sensação de que o tempo passa devagar quando trabalhamos, o que influi em nossos níveis de satisfação.

Lei de Fraisse e produtividade

Continuando com o exposto, esta lei influencia significativamente a produtividade. As pessoas geralmente sentem que as horas passam devagar quando estão no escritório e que não estão sendo muito produtivas. Consequentemente, o trabalho torna-se uma tarefa muito cansativa.

A sensação de que o tempo está passando rapidamente aumenta o valor competitivo das distrações. Podemos pensar que ainda temos um longo caminho a percorrer antes que seja hora de partir e, portanto, decidir que é um bom momento para fazer uma pausa, pois com o que nos resta, pensamos que é muito provável que cheguemos ao final do dia de trabalho com nossos objetivos cumpridos.

Assim, podemos cair no círculo vicioso da procrastinação, o que prejudica significativamente nossa produtividade. Diante disso, é melhor buscar alternativas que transformem o trabalho em uma atividade prazerosa. Ou pelo menos para tentar que não seja percebido como uma experiência desagradável, mas como algo neutro.

Para concluir, é possível dizer que a percepção subjetiva do tempo é um fator chave na satisfação no trabalho. Se sentirmos que o tempo passa lentamente no trabalho, nos sentiremos menos à vontade com nosso trabalho. Por outro lado, se sentirmos que passa rapidamente, nosso cérebro o reconhecerá como uma experiência agradável e gostaremos mais dele.


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  • Fraisse, P. (1963). The psychology of time.
  • Gable, P. A., & Poole, B. D. (2012). Time flies when you’re having approach-motivated fun: Effects of motivational intensity on time perception. Psychological science, 23(8), 879-886.
  • O’Brien, E. H., Anastasio, P. A., & Bushman, B. J. (2011). Time crawls when you’re not having fun: Feeling entitled makes dull tasks drag on. Personality and Social Psychology Bulletin, 37(10), 1287-1296.
  • Sackett, A. M., Meyvis, T., Nelson, L. D., Converse, B. A., & Sackett, A. L. (2010). You’re having fun when time flies: The hedonic consequences of subjective time progression. Psychological science, 21(1), 111-117.
  • Simen, P., & Matell, M. (2016). Why does time seem to fly when we’re having fun?. Science, 354(6317), 1231-1232.

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