Heurísticas: os atalhos da nossa mente

Heurísticas: os atalhos da nossa mente
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Durante muito tempo, o ser humano foi considerado um animal racional que julga seu ambiente de forma exaustiva e precisa. Mas, de acordo com as palavras de S. E. Taylor, somos “deficientes cognitivos”. Uma metáfora para representar o ser humano como um otimizador máximo dos processos mentais. As estratégias cognitivas para alcançá-los são as heurísticas.

As heurísticas são atalhos mentais que usamos para simplificar a solução de problemas cognitivos complexos. São regras inconscientes para reformular problemas e transformá-los em operações mais simples e quase automáticas. Graças a eles, não precisamos fazer um raciocínio profundo sempre que surge um problema. No entanto, esses atalhos não são inteiramente precisos e às vezes nos levam ao erro.

Podemos encontrar vários tipos de heurísticas nos processos cognitivos que realizamos no dia a dia. Mas neste artigo vamos falar sobre aquelas que usamos com mais frequência. Estas são: a heurística de representatividade, a heurística de disponibilidade, a heurística de âncora e ajuste e a heurística de simulação.

Heurísticas de representatividade

Este atalho mental consiste em realizar inferências a respeito da probabilidade de que um estímulo (pessoa, evento, objeto…) pertença a uma determinada categoria. Através das características superficiais e com a ajuda de nossos esquemas anteriores, realizamos essa categorização. No entanto, o fato de que a informação disponível se encaixe com esses esquemas anteriores não significa que seja verdade; como dissemos anteriormente, podemos cair em erro.

Um exemplo de heurística de representatividade pode ser dado na seguinte situação: imagine que você é apresentado a três pessoas novas e anteriormente você tinha sido informado de que uma delas era uma professora infantil. Depois de uma pequena conversa, duas delas mencionaram que não gostam de crianças e a outra disse que sim. Se você usar a heurística representativa, pensará que quem disse que gosta de crianças é professor.

Colegas de trabalho conversando

Heurísticas de disponibilidade

Esta heurística é usada para estimar a probabilidade de um evento, a frequência de uma categoria ou a associação entre dois fenômenos. Esta estimativa é feita através da disponibilidade ou da frequência de casos que vêm à mente através da experiência. Seria equivalente a uma inferência estatística intuitiva, utilizando as memórias de nossa experiência como amostra.

Um exemplo disso pode ocorrer quando nos fazem perguntas do tipo: existem mais psicólogas ou psicólogos? Para responder a esta pergunta podemos fazer uso desta heurística e ver qual dos dois casos está mais disponível. Assim, se nos vêm à mente mais psicólogas do que psicólogos, responderemos que existem mais psicólogas.

Heurísticas de âncora e ajuste

Quando estamos numa situação de incerteza e não temos conhecimento experiencial sobre o evento, podemos tomar um ponto de referência. Se fizermos isso, usaremos a heurística de âncora e ajuste; onde o ponto de referência seria a âncora de onde partir e, por meio de ajustes intuitivos, resolver essa situação de incerteza.

Costumamos usar essa heurística, por exemplo, quando nos perguntamos qual será a renda média do Brasil. Neste caso, seria fácil recorrer à nossa renda anual e avaliar se estamos acima ou abaixo da média. E depois de realizar os ajustes relevantes, dizer o valor que inferimos que pode ser a renda média no Brasil.

Um erro que deriva dessa heurística é o efeito do consenso falso. Um viés cognitivo pelo qual superestimamos o grau de concordância que os outros têm conosco. Nós inferimos suas crenças, opiniões e pensamentos de acordo com os nossos e criamos esse falso consenso. Neste caso, nossa opinião age como uma âncora para inferir o pensamento dos outros.

Mulher pensando em suas ideias

Heurísticas de simulação

É a tendência de estimar a probabilidade de um evento com base na facilidade com que podemos imaginá-lo. Quanto mais fácil for criar uma imagem mental do mesmo, mais provável será acreditar que tal evento seja possível.

Esta heurística está altamente associada ao pensamento contrafactual. Uma forma de pensar a partir da qual procuramos alternativas a fatos ou circunstâncias passadas ou presentes com o objetivo de mitigar nossa dor, embora seja verdade que às vezes a única coisa que conseguimos é aumentá-la. Um exemplo de pensamento contrafactual é o típico “e se …?”, ou seja, a afirmação do que poderia ter acontecido se alguma coisa tivesse mudado.

Outro exemplo é o fato de que, às vezes, o segundo no pódio se mostre menos feliz que o terceiro. Isso acontece porque, para o segundo, é muito fácil simular a situação de ter ficado em primeiro, e agora ele está em pior situação. Por outro lado, para o terceiro é fácil imaginar a situação de que algo poderia ter falhado e feito com que ficasse fora do pódio, então agora está em melhor situação. Isso gera uma maior satisfação no terceiro do que no segundo.

Agora que conhecemos as heurísticas, tenho certeza de que você vai se lembrar de muitos exemplos em que as usamos. Apesar de não serem precisas e baseadas na intuição, são nossas “armas” evolutivas para enfrentarmos certos problemas de forma rápida e eficiente. Claro, não podemos cair no erro de usar esses atalhos mentais ao tomar decisões relevantes em nossas vidas. Muito cuidado.


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