A hipersexualização da sociedade

Estamos cercados por imagens de mulheres atraentes fazendo atividades cotidianas, de meninas se passando por adultas... tudo isso responde ao que chamamos de hipersexualização. Parece familiar? Vamos refletir sobre isso.
A hipersexualização da sociedade
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 27 janeiro, 2023

Por hipersexualização entende-se o fato de colocar toda ou boa parte da atenção nos atributos e valores sexuais, delegando para um segundo plano outras qualidades que um indivíduo (especificamente, as mulheres) possui. Embora a hipersexualização como fenômeno não seja nova, o debate que existe em torno dela, assim como o uso desse termo, é mais recente.

Para compreender o fenômeno é preciso voltar, por um lado, aos anos 60 e, por outro, aos 80. Na década de 1960, o que foi denominado movimento de “revolução sexual” originou-se no Ocidente. Isso nasceu do desejo e da necessidade de viver a sexualidade de forma livre, bem como com a intenção de quebrar os códigos que regulavam o comportamento sexual das pessoas.

Embora a revolução sexual tenha sido uma libertação para todas as pessoas, foi uma faca de dois gumes para alguns setores da população. Para muitos homens, essa revolução tornou fácil “usar” sua sexualidade livremente fora do casamento. Em contraste, para as mulheres, que também queriam desfrutar de uma sexualidade ilimitada, isso também significava estar sexualmente disponível para os homens.

Por outro lado, por volta dos anos 80, através da moda, da estética ou da televisão, um padrão sexual representado pela mulher começou a se estabelecer. Elas estavam a serviço do mercado livre, onde a figura feminina sexualizada representava uma forma de promoção de produtos.

Hipersexualização e sociedade

A forma mais eficiente de transmitir e modificar pensamentos em uma sociedade é a mídia: é assim que a hipersexualização venceu a batalha. Através da publicidade, programas de televisão, filmes, videoclipes… os meios de comunicação têm contribuído para a criação de uma representação social de como a mulher deve ser, valorizando o seu corpo: jovem e magra.

Essas qualidades que governam o corpo feminino não respondem a nada além da ideia de que uma mulher deve ser sexualmente atraente. Deve sempre parecer bonita, saudável e sedutora. É desenhada uma imagem promovida como referência que pode levar a riscos para a saúde física e psicológica das mulheres.

Embora seja verdade que os homens também estão sujeitos aos padrões de beleza, o problema estrutural e hegemônico que ocorre nas mulheres atinge maiores proporções. A feminilidade foi objetificada. Elas, com maquiagem, dão prêmios aos atletas, mas não ganham. Elas, acompanhadas por outras mulheres e com pouca roupa, movem seus corpos em posições que nem mesmo permitem que seus rostos sejam vistos ao redor dos homens. Garotas em catálogos posando de forma sedutora…

Causas e consequências

A origem da hipersexualização reside, fundamentalmente, na cultura do sexo que se construiu em torno da figura feminina. Essa centralização e o “dever” de manter a atratividade sexual tornaram-se um modelo normativo que afeta as mulheres em todas as fases de sua vida.

Essa cultura do sexo é seu próprio perpetrador. A imagem da mulher continua sendo comercializada. Essa imagem é internalizada com pouco ou nenhum espírito de crítica e, dessa forma, o sistema de desigualdade de gênero é mantido ao longo do tempo.

Por sua vez, as mulheres continuam a ser vítimas e, porque não, escravas da imagem que lhes é imposta. O problema, segundo Susan Sontag, não é querer ser bonita, mas sentir a obrigação de sê-lo.

Além disso, essa representação já faz parte do imaginário coletivo em que o homem heterossexual se acostuma com uma beleza extrema e idealizada, bem como objetificada e da ordem dos seus desejos (como indica a pornografia). Isso pode levar a demandas, avaliações e julgamentos em relação ao resto das mulheres que não se enquadram nesse padrão (que são a maioria, senão todas).

A hipersexualização infantil

O problema cresce e se perpetua porque a mercantilização sempre precisa de novos produtos e novas maneiras de vender uma ideia. Com as novas tecnologias, essa mensagem se espalhou para as redes sociais: um meio muito mais poderoso em relação aos que conhecíamos até agora e capaz de atingir um público cada vez mais jovem.

A ideia que se torna um vírus é aquela que afirma que o sucesso social é determinado pela imagem que projetamos para os outros. Isso também é reforçado pelo número de likes que as jovens recebem no Instagram, TikTok ou Twitter quando publicam conteúdo pessoal e sexualizado.

A hipersexualização infantil é um conceito que começou a ser utilizado em 2001 e que parece ter cada vez mais peso. É definida como a sexualização de expressões, posturas ou códigos de vestimenta considerados muito precoces para uma determinada idade. Entre meninas e adolescentes, é natural a vontade de imitar os comportamentos dos adultos. A diferença é que agora elas têm os meios para fazer isso, sem estarem maduras o suficiente para administrar as consequências.

As redes sociais são a melhor vitrine comercial que existe hoje, sendo uma fonte inesgotável de entretenimento. Nelas, os comportamentos de exposição são altamente reforçados, uma vez que aqueles que os apresentam ganham popularidade e reconhecimento social, dois aspectos muito valorizados na adolescência.

Em suma, a hipersexualização está tão arraigada em nossa sociedade que não estamos cientes de todas as vezes em que nos deparamos com ela. É preciso abrir os olhos e criticar esse tipo de valores e reconhecimentos que só fazem mal às pessoas e à sociedade, perpetuando desigualdades e complexos. É preciso combatê-la principalmente quando atinge meninos e meninas, pois ao acelerar a sua sexualização, adulteramos a sua infância e os condenamos às demandas dos adultos que eles ainda não estão preparados para enfrentar.


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  • Cobo Bedía, E. (2015). El cuerpo de las mujeres y la sobrecarga de sexualidad. Investigaciones Feministas, 6, 7–19.

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