O falcão que não conseguia voar: uma história zen sobre autonomia
Esta história zen sobre a autonomia conta que, em um reino distante, havia um soberano muito querido pelo seu povo . Ele governava de maneira justa e por isso todos confiavam nele e obedeciam suas ordens sem muitos questionamentos. Também eram muitos que lhe traziam belos presentes, como sinal de admiração e afeto.
Certa vez, ele recebeu um homem que trazia um presente muito especial: dois falcões, ambos filhotes de um exemplar extraordinário . O soberano agradeceu pelo presente maravilhoso e, de imediato, chamou o mestre de falcoaria para se encarregar do treinamento dos animais. Não havia outra pessoa no reino que soubesse mais sobre falcões do que ele.
O mestre recebeu os filhotes e, desde o início, lhes concedeu um tratamento especial. Ele conseguia os melhores alimentos e se encarregava pessoalmente do cuidado de ambos. Os dias passavam e os falcões cresciam. No entanto, apesar de serem irmãos, os falcões eram muito diferentes .
“As pessoas costumam falar que fulano ou beltrano ainda não encontrou a si mesmo. Porém, a autonomia não é algo que se encontra, e sim algo que se cria.”
-Thomas Szasz-
Os dois filhotes e suas diferenças
Desde o início, o mestre de falcoaria notou que um dos filhotes parecia ser mais fraco e acanhado . Justamente por isso, a melhor comida ficava reservada para ele, a ponto de, inclusive, esquecer de alimentar o outro (ou dando-lhe pequenas quantidades). O mestre estava obcecado em não permitir que qualquer um dos dois morresse, e sentia que um deles precisava de mais.
À medida que crescia, o filhote esquecido começou a fazer seus primeiros voos, se afastando da pequena gaiola que permanecia aberta . Ele procurava um pouco mais de comida e, pouco a pouco, começou a se familiarizar com o ambiente. Acabou descobrindo diferentes plantas, grãos e vermes, que achou excelentes. Dessa maneira, conseguia compensar sua falta de cuidados.
Essa história zen sobre a autonomia conta que ambos os filhotes se tornaram falcões magníficos. O mais protegido adquiriu o costume de esperar que lhe dessem alimento e cuidados, ao passo que o outro se tornou muito independente. Entretanto, a maior diferença entre os dois era que, enquanto um deles permanecia quieto, o outro aprendia a voar . Aprendeu, também, a voltar para casa.
Uma história zen com um ensinamento sobre a autonomia
O mestre de falcoaria aceitou que não era capaz de encontrar uma solução para o problema. Por mais que tentasse, não conseguia fazer com que o falcão protegido alçasse voo . O máximo que conseguia era tirá-lo da gaiola e colocá-lo sobre um duro galho de uma árvore. Ali, ele permanecia o dia inteiro, mas não mostrava sinais de que queria voar. Vendo isso, o mestre decidiu contar ao rei o que estava acontecendo.
Quando o soberano soube desta diferença enorme entre os dois exemplares, decidiu lançar um decreto. De acordo com esta história zen sobre a autonomia, o decreto oferecia uma valiosa recompensa para aquele que fosse capaz de ensinar o falcão resistente a voar .
Então, chegaram diversos especialistas àquele reino. Eles vinham, inclusive, de países distantes, motivados pelo desejo de cair nas graças do rei e, consequentemente, obter a generosa recompensa. Cada um deles achava que possuía a estratégia certa para fazer isso.
Passaram-se vários meses e, ainda assim, nenhum dos especialistas conseguia fazer com que o falcão voasse . Eles tentavam cativar o animal com especiarias deliciosas, porém o falcão não saía do seu galho. Também traziam outros falcões para lhe mostrar diferentes técnicas de voo, porém sem sucesso. Um dos aventureiros, inclusive, chegou a realizar um ritual mágico e aplicar seus feitiços sobre o animal, porém nem isso fez com que ele se mexesse de seu galho, no qual permanecia durante todo o dia.
De acordo com a história zen sobre a autonomia, certa manhã um camponês humilde chegou ao castelo. Para a maioria das pessoas, ele passou despercebido. O homem, de idade avançada, simplesmente se sentou junto à árvore e observou atentamente o falcão e permaneceu assim durante todo o dia , até que os raios de sol foram embora.
No dia seguinte, o humilde camponês se apresentou perante o rei e lhe pediu para que olhasse pela janela. O soberano se espantou quando viu que o falcão planava pelos céus .
Ele chamou o mestre de falcoaria para se certificar de que era o mesmo animal acanhado que, até então, não saía de seu galho. O mestre confirmou. Diante do sucesso, o rei perguntou ao homem como havia conseguido fazer aquilo. O camponês, com muita simplicidade, respondeu: “ Foi muito fácil. Só cortei o galho ” .
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Rajneesh (Bhagwan Shree). (1987). Y llovieron flores: charlas sobre historias Zen. Barath.