A importância do tédio para as crianças

Parece que, na era digital, as crianças só podem se divertir através de dispositivos eletrônicos, já que se não os utilizam, costumam dizer que estão entediadas. Mas será que o tédio tem alguma importância para as crianças?
A importância do tédio para as crianças

Escrito por Gonzalo Villanueva

Última atualização: 22 dezembro, 2022

O cérebro humano foi desenhado para buscar uma estimulação constante. É difícil falar com alguém se há uma televisão ligada ao fundo, por exemplo. De forma inconsciente, os olhos procuram a tela uma vez ou outra, e acabam prestando atenção nas imagens, independentemente do conteúdo que está passando. Essa mudança constante é um alimento para o nosso cérebro; toda mudança é uma nova informação, mesmo que pareça inútil. Se isso acontece até com os adultos, imagine o que acontece com as crianças. Essa necessidade de estimulação se torna ainda mais problemática quando levamos em conta a importância do tédio para as crianças.

Cérebro humano iluminado

A importância do tédio para as crianças

Infelizmente a televisão, o celular e os tablets ocupam grande parte do nosso dia. Nós os usamos com muita frequência como ferramenta principal para saciar a necessidade de estímulos. No entanto, isso tem um alto custo no caso das crianças, pois quando essa superestimulação é tirada, o cérebro da criança não descansa: não quer descansar e segue pedindo a continuação da estimulação.

É aí que aparece aquela frase, em geral com um tom triste, melancólico, ou mesmo com um certo ar de protesto: “Estou entediado”. Apenas dois minutos depois de desligar uma tela, a criança olha para o mundo à sua volta e percebe que não encontra nada equiparável à torrente sensorial que os eletrônicos podem fornecer.

Para os pais e as mães, fazer uso desse tipo de ferramenta pode ser útil porque mantém os filhos concentrados em algo, e então eles não incomodam. Em qualquer mesa de restaurante, café ou bar é possível ver um dispositivo eletrônico nas mãos de uma criança. Enquanto isso, os adultos podem conversar tranquilamente.

São muitos os carros, inclusive, que possuem telas na parte de trás do banco da frente do carro, fazendo com que aqueles que estão no banco de trás possam assistir algo e espantar o tédio. Dessa forma, o motorista e o passageiro no banco da frente podem falar tranquilos.

Parece que existe todo um esforço para evitar que a criança fique entediada. Ou será que fazemos isso mais por nós do que por eles? É tão ruim assim uma criança sentir tédio? Qual é a relação das crianças com o tédio? E qual é a importância do tédio para o desenvolvimento das crianças?

Eu me lembro que, quando era pequeno e ainda não existiam celulares e tablets, nos sentávamos no banco de trás e olhávamos pela janela. E pronto, só isso. Só olhávamos pela janela e escutávamos. E mesmo esse pouco se tornava algo mágico.

Era possível ver um lindo cavalo galopando junto ao carro. Um garanhão preto de costas largas e uma crina negra saltando todos os obstáculos que o cenário oferecia. A imaginação tinha um grande poder, essa ferramenta tão apreciada pelos psicopedagogos, mas esquecida pelo resto de nós.

O tédio pode ser uma grande oportunidade para estimular a imaginação das crianças.

Criança entediada

Como perceber e estimular a capacidade imaginativa das crianças

Nesse contexto, como estimular a imaginação de uma criança?

Faça um teste. Deixe que ela fique entediada. Deixe que ela mesmo busque a estimulação de que o seu cérebro precisa. No caso da criança apresentar dificuldades, você pode tentar colocar em prática alguma das seguintes dicas:

  • Incentive-a a brincar com algo que não tem pilhas ou baterias. Não faça isso como se fosse um castigo, mas presenteie a criança com um brinquedo novo ou proponha um desafio.
  • Como um modelo a seguir, faça o mesmo, não use durante esse tempo a televisão ou outro equipamento eletrônico.
  • Não ofereça alternativas, deixe que ela busque ao seu redor o que a estimula.
  • Se a criança escolher um brinquedo, preste atenção no tipo escolhido: personagens de desenho, veículos em miniatura, quebra-cabeças, jogos de construção, jogos manuais, leitura… Você poderá entender como a criança gosta de se entreter e, então, estimular a imaginação ampliando esse tipo de jogo.
  • Se você notar que a criança está enfrentando dificuldades, brinque com ela. Pouco a pouco e em espaços de tempo curtos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando assim que seja criada uma dependência da sua presença.
  • Se a criança não descobrir nada que seja do seu agrado, ajude-a a reorganizar seus brinquedos. Será um bom momento para se desfazer de tudo aquilo que não é mais necessário. Doe para alguma organização e faça seu filho participar desse ato.
  • Recompense a autonomia infantil na gestão do tempo de ócio. Mostre interesse pelo que a criança faz, como faz, que novos projetos ela tem e do que precisa para colocá-los em prática.
  • Faça uma tabela semanal do tempo dedicado aos eletrônicos que estão disponíveis em casa. Coloque metas e cumpra-as.

Nem todas as crianças são iguais e é possível que alguns não respondam bem diante da retirada ou redução das horas de exposição a um eletrônico como, por exemplo, o vídeogame ou a televisão.

É aí que deverá haver insistência por partes dos pais, que não devem se deixar levar pelas contínuas demonstrações de insatisfação por parte dos filhos. Na verdade, será a alta intensidade e frequência de protesto, crítica e sentimento de tédio por parte da criança que revelará o quanto essa intervenção é necessária.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.