Inserção de pensamento: quando nossas idéias não nos pertencem

Existem vários romances e filmes que têm uma trama em que alguém manipula diretamente os pensamentos das pessoas. Agora, o que isso tem a ver com a realidade?
Inserção de pensamento: quando nossas idéias não nos pertencem
Ebiezer López

Escrito e verificado por o psicólogo Ebiezer López.

Última atualização: 28 dezembro, 2022

Surgiram no cinema, na literatura e na televisão personagens que têm a capacidade de inserir pensamentos na mente de outras pessoas. Embora possa parecer uma situação que só existe na ficção, a verdade é que ela não está tão longe da realidade. Os pacientes que sofrem de inserção de pensamento têm uma experiência semelhante.

Uma pessoa pode ter pensamentos que não sejam seus? Essa rara condição levanta questões como a integração do ego, a consciência e o contexto do sujeito. A alteração será, então, estudada levando em consideração as evidências científicas disponíveis.

O que é a inserção de pensamento?

Trata-se de uma condição psicológica do pensamento que produz na pessoa a convicção de que existem idéias em sua mente que não lhe pertencem. Em outras palavras, algum agente externo teria inserido certos pensamentos no indivíduo.

Geralmente é considerado um tipo de delírio que as pessoas com esquizofrenia costumam ter. No entanto, há uma discussão aberta sobre se é apenas uma crença ou uma experiência mais estruturada.

A inserção do pensamento é um sintoma típico de quadros psicóticos em que a percepção da realidade é alterada. É notado por meio da fala do paciente, que expressa que em sua mente existem ideias que não são dele. Os agentes que “implantam” os pensamentos podem ser variados, desde outras pessoas até seres de outros mundos. Em alguns casos, o paciente não consegue identificar de onde eles vêm.

Na mesma linha, o conteúdo dos pensamentos também é diverso, provocando, na maioria das vezes, um forte impacto na pessoa afetada. Pessoas que sofrem de inserção de pensamento podem afirmar que tais idéias podem levá-los a cometer atos terríveis; portanto, eles tentam bani-las de suas mentes. Além disso, é possível que esses pensamentos inseridos motivem diferentes comportamentos que podem ou não ser perigosos.

Homem com esquizofrenia

Este fenômeno é um delírio ou outro tipo de experiência?

Os delírios são alterações que geram falsas crenças e perturbam a forma como a realidade é processada. Alguns exemplos são delírios de grandeza, erotomania, onirismo, etc.

Ao longo da história, a inserção do pensamento foi classificada como uma forma de delírio típica da esquizofrenia. No entanto, há uma controvérsia sobre sua fenomenologia que tem dificultado seu estudo. Em uma revisão, López-Silva (2018) explica que os pesquisadores não chegaram a um consenso sobre a descrição dessa alteração.

Segundo o autor, a experiência relatada por pacientes com inserção de ideias tem duas partes. Por um lado, existem as mudanças experienciais que ocorrem antes do episódio delirante. A outra parte seriam as características subjetivas da síndrome ativa. Assim, ele ressalta que os trabalhos até hoje se concentram neste último.

Consequentemente, o fenômeno não pode ser tratado adequadamente até que suas propriedades sejam claramente definidas.

Causas da inserção de pensamento

Apesar dos problemas em relação à sua descrição, existem pesquisas que especulam, no bom sentido, sobre a causa do sintoma. Em um estudo, Martin e Pacherie (2013) o associam com a falta de integração da consciência e experiências internas inconsistentes de pacientes com esquizofrenia.

Sua hipótese é de que a falta de integração na consciência também afeta o modo como as informações no contexto são processadas. Portanto, a inserção do pensamento seria uma falha na integração das informações contextuais de uma ideia específica. Em outras palavras, o pensamento surge, mas não é organizado com o resto do contexto do paciente. Como resultado, certas idéias são percebidas como “estranhas”.

Por outro lado, Walsh et al. (2015) apresentou um trabalho sobre o fenômeno do controle alienígena em pessoas com esquizofrenia. Esses são os casos em que os afetados afirmam que seus movimentos e ideias não vêm de si mesmos, mas de criaturas extraterrestres. Os pesquisadores analisaram os cérebros desses indivíduos com imagens de ressonância magnética.

Os resultados revelaram que a implantação do pensamento estava associada a baixos níveis de atividade em diferentes redes neurais. Entre eles estavam a linguagem, o movimento e a percepção do próprio ser. Uma baixa ativação da região motora suplementar esquerda (RMS) também foi observada. Isso causou problemas na conexão funcional do RMS com as áreas de linguagem e movimento.

Cérebro

É possível curar esse sintoma?

Como mencionado anteriormente, a inserção do pensamento está relacionada aos quadros de esquizofrenia. Portanto, a intervenção para lidar com a esquizofrenia é a mais adequada para eliminar essa perturbação do pensamento.

Os planos de intervenção podem incluir tratamento antipsicótico para controlar alucinações, delírios e quaisquer sintomas. Além disso, costumam ser complementados com psicoterapia para psicoeducar o paciente, bem como para tratar possíveis distorções cognitivas, entre outros.

Até o momento, não há tratamentos conhecidos específicos para aliviar os sintomas das ideias implantadas. Como acredita-se que sua causa seja a esquizofrenia, não seria útil concentrar esforços na eliminação de um problema isolado.

Concluindo, essa condição típica de quadros psicóticos merece mais atenção da comunidade científica. Ainda não está claro quais são suas características específicas e os estudos sobre suas causas também não são conclusivos.

Tudo parece indicar que a inserção do pensamento responde às dificuldades na integração das informações do cérebro. Desta forma, as ideias “implantadas” não seriam mais do que pensamentos próprios que não se organizam com os outros.


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  • López-Silva, P. (2018). Mapping the psychotic mind: A review on the subjective structure of thought insertion. Psychiatric Quarterly, 89(4), 957-968.
  • Martin, J. R., & Pacherie, E. (2013). Out of nowhere: Thought insertion, ownership and context-integration. Consciousness and Cognition, 22(1), 111-122.
  • Walsh, E., Oakley, D. A., Halligan, P. W., Mehta, M. A., & Deeley, Q. (2015). The functional anatomy and connectivity of thought insertion and alien control of movement. Cortex, 64, 380-393.

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