Ioga e depressão: qual é a relação entre elas?

Ioga e depressão: qual é a relação entre elas?
Sara Clemente

Escrito e verificado por psicóloga e jornalista Sara Clemente.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

A relação entre ioga e depressão pode ser difícil de entender, principalmente tendo em conta que um dos principais sintomas deste transtorno é a apatia por quase todo tipo de atividade. Porém, a prática desta disciplina oferece muitos benefícios a quem sofre de depressão.

Depois do diagnóstico deste transtorno, costuma se estabelecer uma combinação de tratamento psicológico com farmacológico. Porém, sua alta prevalência e os possíveis efeitos colaterais que alguns remédios antidepressivos podem causar levaram a um aumento do interesse pelas terapias complementares, como a ioga.

O que é a depressão?

Mulher olhando pela janela

A depressão é um transtorno do humor que apresenta sintomas predominantemente afetivos. Ela se caracteriza pela presença de outras alterações a nível cognitivo e somático. É, portanto, uma alteração cuja afetação é tanto psíquica quanto física, ainda que influencie especialmente a esfera emocional.

Os maiores sintomas de depressão, dependendo do plano no qual se manifestem, podem ser:

  • Afetivos: anedonia, irritabilidade, sensação subjetiva de mal-estar, falta de esperança, sentimento de inutilidade ou culpa, diminuição do interesse ou do prazer pela maioria das atividades e pensamentos de morte recorrentes.
  • Cognitivos: diminuição da capacidade de concentração e tomada de decisões.
  • Somáticos: perda ou ganho de peso sem fazer dieta, insônia ou hipersonia, agitação ou atraso motor e fadiga ou perda de energia.

Este transtorno pode variar segundo a intensidade, a frequência com a qual os sintomas se manifestam, e a forma como afeta a esfera social, profissional ou familiar do paciente. Além disso, pode ser transitório ou permanente e causar uma incapacidade parcial ou total.

Como a depressão afeta quimicamente o nosso cérebro?

Como vemos, uma pessoa deprimida tem um grau de afetação global em seu organismo. Isso não somente se manifesta em uma baixa autoestima ou em um cansaço crônico, mas pode chegar a levar ao suicídio.

A nível químico, este transtorno grave altera diversos tipos de neurotransmissores (células que ajudam os neurônios do cérebro a se comunicarem):

  • Noradrenalina: é um hormônio que responde diante do estresse, ou seja, prepara o corpo para enfrentar uma situação ameaçadora. Estar constantemente em uma atitude de luta faz com que nosso sistema imunológico se enfraqueça, aumente o risco de desenvolvermos câncer e surjam transtornos como a depressão ou a ansiedade.
  • Dopamina: seu déficit está relacionado com a apatia, fadiga, mudanças de humor, aborrecimento crônico. Ainda, reduz a sensação de recompensa e prazer.
  • Serotonina: sua diminuição pode precipitar uma depressão. Causa desânimo, perda de apetite e sono, alterações da temperatura corporal e do comportamento social.

O que a ioga oferece?

Agora que já sabemos como a depressão age, entenderemos melhor os benefícios da ioga em relação a este transtorno. Sua prática é muito mais do que um mero exercício físico, já que envolve também um estado mental e espiritual. De fato, procede do termo “yuj” que em sânscrito significa yugo ou união: harmonia entre corpo, mente e espirito. Você já consegue intuir a relação entre ioga e depressão?

Praticar ioga nos ajuda a nos conhecermos melhor, tanto mental quanto fisicamente. Nos permite explorar os lugares mais profundos do nosso ser. Tudo isso por meio da aprendizagem de posturas, respirações e mantras (sons e palavras).

“Minha felicidade está em mim, não está lá fora. Só eu tenho o poder a cada momento.”
– Tantra Yoga –

Mulher praticando ioga

As pessoas são multidisciplinares. Não somos meramente sintomas ou pensamentos, mas sim o fruto de sua interação. Esta disciplina nos ensina a harmonizar nossas ideias, comportamentos, estados de humor, memória e sistemas corporais. Assim, podemos viver em paz no momento em que estas dimensões se conectarem entre si. Por isso, este equilíbrio orgânico é o ponto de união entre a ioga e a depressão.

Ioga e depressão: principais benefícios

A nível químico, esta prática originária da Índia estimula a produção de proteínas, que são as substâncias encarregadas de reparar os neurônios. Isso faz com que aumente a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do nosso cérebro de formar e modificar conexões neuronais segundo as experiências que vivemos.

Além disso, fazer ioga regula os níveis de serotonina e dopamina, aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e libera endorfinas. Tudo isso contribui para a melhora do humor de forma natural.

As diferentes posturas fortalecem o sistema locomotor, aumentam a flexibilidade dos músculos e os tornam mais fortes, assim como os ligamentos, tendões e fáscias.

Praticar ioga favorece um estado de relaxamento, o que nos permite dormir melhor e mais profundamente.

Praticar ioga melhora a sintomatologia afetiva

Como dissemos, os sintomas predominantes neste transtorno são de porte afetivo. A boa notícia é que a ioga pode agir diretamente sobre eles. Diminui sua intensidade e, com isso, proporciona efeitos imediatos.

  • Favorece um estado de relaxamento e tranquilidade: a realização de certas posturas transfere uma sensação acolhedora e de bem-estar ao corpo. Estimula diferentes partes do mesmo e contribui para melhorar o humor.
  • Combate o estresse e a ansiedade: a respiração pausada e profunda destes exercícios ajuda a alcançar a paz mental e emocional. A meditação e a concentração nas diferentes partes do corpo permitem reduzir os níveis de estresse e de ansiedade. Isso, por sua vez, aplaca inflamações e fortalece o sistema imunológico.
  • Facilita a conexão com o interior: a ioga permite substituir os pensamentos negativos por outros mais positivos e que, além disso, sejamos capazes de controlar as emoções mais difíceis e complexas. Deste modo, a irritabilidade diminui, assim como a sensação de desesperança e apatia.
Mulher fazendo ioga

Estas são algumas das razões pelas quais a ioga se transformou em uma prática integral contra a depressão e outros tipos de transtornos. Assim, ioga e depressão estão muito relacionadas.

Ainda que, como vimos, existam muitos benefícios, convém ter cautela e não atribuir unicamente à ioga a melhora ou cura da depressão. Esta disciplina não pode substituir os tratamentos farmacológicos e nem psicológicos. A ioga age como coadjuvante de ambos.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.