Irmãos que atuam como pais: esse foi o seu caso?
Alguns pais cometem o erro de delegar certas responsabilidades a um de seus filhos. Em particular, tendem a delegar parte do cuidado dos pequenos a eles. Às vezes, na verdade, eles acabam sendo uma espécie de “segundos pais”.
Esse tipo de comportamento também é muitas vezes reforçado por outros adultos, com comentários como “você tem que cuidar do seu irmãozinho”, como se isso fosse responsabilidade deles. Desta forma, o irmão recebe o papel de cuidador.
É comum que, depois de ser o destinatário dessa mensagem, repetidamente, a criança acabe assumindo que deve ser assim. Ou seja, ela pensa “se todo mundo disser que esse é meu trabalho, será porque é meu trabalho”. Assim, muitos pais acabam modelando uma criança perfeita por fora, mas quebrada por dentro.
Em outros casos, a pressão pode ser tanta que a criança se rebela contra essa ideia e, longe de proteger e cuidar do irmão, acaba atacando-o: simplesmente não consegue encontrar outra forma de assumir uma responsabilidade com a qual não consegue lidar.
“ Para o resto do mundo, todos nós crescemos e envelhecemos. Mas não para irmãos e irmãs. Conhecemo-nos como sempre fomos. Sabemos como é o coração do outro. Nós compartilhamos as piadas internas da família. Recordamos as brigas e os segredos, as tristezas e as alegrias. Vivemos como se o tempo nunca tivesse passado”
-Clara Ortega-
Irmãos mais velhos e suas responsabilidades
Quando os irmãos mais velhos são seis ou sete anos mais velhos do que os que estão abaixo deles, essa tendência provavelmente aparecerá quase naturalmente. É claro que, uma vez que os adultos a identificam, ela tende a ser reforçada. Nesse caso, dependendo da situação, o que podem conseguir é justamente o efeito contrário ao que pretendem, e o irmão deixa de atuar como cuidador.
Nesse contexto, também podemos encontrar uma criança que negligencia totalmente suas necessidades (cuidador) e, ao mesmo tempo, outra que delega a satisfação das suas ao irmão ( criança que recebe o cuidado). Além disso, a dedicação de quem cuida pode motivar uma atitude extraordinariamente vigilante, evitando que seu irmão cometa erros e, portanto, também aprenda e ganhe autonomia. Tenha cuidado porque a educação é uma tarefa complexa o suficiente para que apenas um adulto possa realizá-la.
Entre a responsabilidade e o medo
Os irmãos mais velhos nem sempre ficam felizes com a chegada de outra criança em casa, principalmente se forem pequenos. Os pais muitas vezes se recusam a ver essa realidade, assumindo que o irmão agirá naturalmente como um protetor do recém-chegado.
Eles terão muito medo de quebrar as expectativas de seus entes queridos, contrariar os adultos ou perturbá-los e é por isso que tentarão cumprir o papel que lhes é atribuído, mesmo que não gostem.
Não é incomum que eles comecem a sentir que qualquer coisa negativa que aconteça com seus irmãos é, de uma forma ou de outra, culpa deles. Esse filho teme que seus pais deixem de amá-lo se ele não cumprir plenamente a tarefa que lhe foi confiada. Com o tempo, tornam-se adultos que não reconhecem suas próprias necessidades e tendem a assumir qualquer outro problema como seu.
Contraindicações de atribuir esta função de cuidador à criança
Há certas exigências que nunca devemos fazer a um pequeno. A primeira delas é a de substituir um pai ou uma mãe. Não é a sua responsabilidade garantir o bem-estar de seu irmão. Esta função deve estar nas mãos de um adulto, caso os pais não possam realizá-la.
Os irmãos mais velhos também não precisam priorizar sistematicamente a satisfação das necessidades de seu irmão sobre a satisfação das suas próprias. Deixe-os fazer isso quando puderem e quiserem.
Por outro lado, como com qualquer criança, a educação consiste em grande parte em que as crianças internalizem a importância do comportamentos corretos, mas existe uma enorme lacuna entre isso e o fato de eles terem que ser um modelo para seu irmão.
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