Jogos colusivos nos relacionamentos amorosos

As relações conjugais não são fáceis. Além disso, é preciso levar em conta que em todas as relações existem conflitos, mas apenas quando estas se tornam inflexíveis o casal passa a se sentir disfuncional ou colusivo.
Jogos colusivos nos relacionamentos amorosos
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 19 abril, 2020

Costuma-se dizer que “toda panela tem a sua tampa” no mundo dos relacionamentos. No entanto, usar esse ditado como guia para encontrar um companheiro é seguir padrões inconscientes, resultantes da relação afetiva que se tem com os pais na infância. Sendo assim, relações disfuncionais entre pais e filhos poderiam prejudicar as relações das pessoas no futuro, levando aos chamados jogos colusivos.

Em sua origem, o conceito de colusão é encontrado nos estudos do psicólogo austríaco Paul Watzlawick, que o aplicou em sua Teoria da Comunicação Humana. Posteriormente, o psicoterapeuta Henry Dicks, em sua obra Tensões Matrimoniais, introduziu o conceito de colusão nas relações conjugais.

No entanto, foi o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Jurg Willi que popularizou o termo colusão ou jogos colusivos para se referir às condutas involuntárias e disfuncionais entre os membros de um relacionamento.

Tais comportamentos são manifestados nos conflitos matrimoniais. Além disso, estes dinamismos tóxicos e inconscientes unem-se intrinsecamente aos membros da relação.

“Há quem busque o casamento por medo de ficar sozinho”.
-Jurg Willi-

Casal chateado um com o outro

Segundo Willi, o comportamento colusivo forma um “inconsciente comum” na relação de casal, em que o conflito se repete constantemente em uma sucessão de distanciamento ou proximidade.

Os membros do casal não suportam a separação, muito menos a intimidade. Isso faz com que, na proximidade, se sintam asfixiados, e com que comecem a sofrer pela distância quando se distanciam.

O casal passa de um “eu individual” a um “nós hermético” em que os limites individuais se sobrepõem. Assim, não se pode mais falar de uma patologia individual, mas sim de uma patologia da relação.

“O abraço forte demais afoga o amor”.
-Jurg Willi-

Polaridade colusiva no casal

Na dinâmica diática colusiva, cada membro da relação manifesta um papel polarizado. Ou seja, cada membro da relação recria uma função de divisão de comportamento de atividade/passividade, submissão/dominação, dependência/independência. De forma inconsciente, a atividade de um membro da relação provoca a inatividade no outro.

O membro fraco tende a uma atitude regressiva e imatura, enquanto o membro mais ativo representa um papel progressivo ou uma falsa maturidade. Isso porque ele atua forçosamente no papel de adulto em relação ao outro. Ao colidirem um com o outro, o casal entra em um círculo vicioso defensivo.

Os jogos colusivos no relacionamento normalmente surgem a partir de feridas emocionais infantis reprimidas ou não curadas. Ambos necessitam do outro para a cura recíproca das frustrações e desejos não cumpridos na infância.

“Como é fácil se apaixonar e como é difícil se manter apaixonado!”
-Enrique Rojas-

Cada um dos cônjuges espera que o outro o salve de seu próprio conflito interno e o liberte dos medos passados; curando-se das feridas existentes de todas as relações amorosas ou paternais que não foram satisfatórias.

Na tentativa de querer sanar suas próprias feridas emocionais, cada membro da relação volta a ter os mesmos padrões ineficazes e as mesmas dificuldades para solucionar sua problemática conjugal e individual, causando dor, desilusão e projetando no outro seus próprios medos e culpas.

Nesse cenário, são comuns frases como “Eu sou assim porque você…”, etc. O paradoxo dessa situação conjugal é que nenhum dos membros da relação realmente deseja mudar nada de si mesmo, aumentando ainda mais a gravidade da situação.

“Amar não é olhar um para o outro; é olhar juntos na mesma direção”.
-Antoine de Saint-Exupéry-

Porta de saída dos jogos colusivos

Os jogos colusivos são uma armadilha que mantém mecanismos tóxicos de culpabilidades, repressões e inseguranças, e poucas vezes uma das partes se dá conta de onde está a porta de saída.

Assim, durante uma crise conjugal, pode-se permanecer em uma relação doentia de forma colusiva, ou não participar mais de tais jogos e romper com a relação.

Em outros casos, existe também a possibilidade de procurar um psicólogo especializado que guie os membros da relação em direção a uma solução em função do desgaste sofrido.

No entanto, o amor só pode ser construído quando os membros do casal abandonam as expectativas e começam a reconhecer o outro como igual.

“Assim como o resto dos impulsos, o amor romântico constitui uma necessidade, um desejo”.
-Helen Fisher-

Casal brigado

Criar expectativas impossíveis de alcançar e não ser responsável pelas próprias feridas provoca frustrações, e introduz na relação um caos doentio capaz de destruir a autoestima de cada cônjuge.

Deve-se levar em conta que um casal é a aula magna do amor em que se pode aprender a cair e levantar. É possível, além disso, aprender a desenvolver todo o potencial humano que há dentro, sempre com respeito e responsabilidade de cada um.

Existe a crença de que o êxito do relacionamento está em “durar muito“. No entanto, o segredo poderia ser outro bem diferente: durar “até quando for saudável”.


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  • Willi,J.(1978). Pareja: relaciones y conflictos. Morata.

  • Willi,J.(1978). Psicología del amor: el crecimiento personal en la relación de pareja. Herder.


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