A Lei de Wilcox-McCandlish e os debates nas redes sociais

A lei de Wilcox-McCandlish se refere à maneira como muitas pessoas iniciam e insistem em debates em que o mínimo é o conteúdo e o mais importante é estar acima do outro.
A Lei de Wilcox-McCandlish e os debates nas redes sociais
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 14 novembro, 2021

A lei de Wilcox-McCandlish não é realmente uma lei, mas um adágio. Isso significa que ela não tem uma categoria científica nem é apoiada por qualquer estudo sistemático, mas é dada como certa por quão bem a realidade parece segui-la. Trata-se de um tema atual: os debates nas redes sociais.

As redes sociais acabaram se tornando um espaço de debates intensos. Antes de existirem, as chances de dois estranhos entrarem em uma discussão sobre assuntos triviais eram baixas. No entanto, agora este parece o cenário perfeito para esse tipo de disputa, nem sempre respeitosa e enriquecedora.

A lei de Wilcox-McCandlish alude a alguns princípios lógicos, ou melhor, ilógicos, que estão presentes nesses debates. O engraçado é que ocupam grande parte do tempo de muitas pessoas e parecem fazer parte da identidade das próprias redes sociais, como o Twitter.

“O Twitter é um bom lugar para dizer ao mundo o que você está pensando antes de ter a chance de pensar sobre isso.”
-Chris Pirillo-

Lei de Wilcox-McCandlish

A lei de Wilcox-McCandlish, declarada amplamente, diz que “a probabilidade de sucesso de qualquer tentativa de mudar o assunto ou a direção de uma discussão em um fórum online é diretamente proporcional à qualidade do conteúdo atual”.

Isso significa que quanto mais precário for um conteúdo ou uma abordagem, mais difícil será encerrar a disputa e passar para outro assunto. Da mesma forma, os tópicos e debates mais relevantes ou inteligentes são mais propensos a introduzir mudanças no tópico ou nas linhas de discussão.

Essa lei funciona porque os debates sobre trivialidades, como muitos dos que acontecem nas redes sociais, não têm por objetivo elucidar algo ou chegar a uma conclusão. Nem procuram persuadir o outro de algo considerado razoável. O objetivo básico é vencer ou estar acima daqueles que ocupam uma posição diferente.

Pessoa manipulando um celular

Corolários da lei

A lei de Wilcox-McCandlish também inclui alguns corolários relacionados à sua formulação geral. O primeiro corolário é de McCandlish e diz: “a possibilidade de mudar de assunto ou de direção de uma discussão, sendo essa mudança para melhor, é inversamente proporcional à qualidade do conteúdo anterior à mudança”.

Isso ratifica o princípio geral: quanto mais pobre for a abordagem de um debate, menos provável que ela acabe sendo enriquecedora. Afinal, um tema ou uma abordagem superficial pouco contribui. Qualquer expressão, por mais boba que seja, vira argumento quando o objetivo não é tecer uma troca de opiniões, mas sim “superar o outro”.

O segundo e terceiro corolários de McCandlish reforçam o que já foi dito. Na ordem, eles dizem: “o consumo de largura de banda gerado como resultado de uma discussão aumenta de forma inversamente proporcional à sua qualidade” e “qualquer tentativa de recorrer à lógica formal ou de identificar falácias clássicas simplesmente aumentará a irracionalidade da discussão”.

O segundo corolário se refere ao fato de que quanto mais elementar for uma discussão, mais ela tende a se arrastar. E o terceiro tem a ver com o fato de que se alguém tentar colocar o debate em termos lógicos, receberá automaticamente uma rejeição, pois isso significaria elevar o nível da discussão a patamares que podem ser inatingíveis para alguns.

Batalha verbal entre duas pessoas

Ansiedade, anonimato e transitoriedade

Muitos usuários das redes sociais iniciam e mantêm discussões porque essa ação tem valor por si só para eles. Não ouvem ou leem o outro pensando que ele tem algo a contribuir, mas o fazem pensando em como refutá-lo.

Em muitos casos, a satisfação ou a frustração aumentam dependendo do número de apoiadores que cada um consegue agregar à sua posição. Um jogo em que, dialeticamente, vale quase tudo.

Nas redes sociais não há moderador, no sentido estrito do termo. A voz do “big brother” só intervém quando limites extremos são ultrapassados. Ao contrário da realidade, insultar os outros não tem consequências no ambiente imediato.

As redes sociais são campos abertos nos quais a liberdade de expressão é frequentemente pervertida. Sites aos quais muitas pessoas recorrem para acertar contas pendentes, protegidos pela impunidade proporcionada pelo anonimato.


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  • Guallar, J., Suau, J., Ruiz-Caballero, C., Sáez, A., & Masip, P. (2016). Redistribución de noticias y debate público en las redes sociales. El profesional de la información, 25(3), 358-366.


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