Leonard Cohen, a poesia em música

Leonard Cohen, a poesia em música

Última atualização: 03 novembro, 2022

Com 82 anos e uma vida repleta de realizações em suas costas, Leonard Cohen nos deixou. Ele já sabia que seu coração iria parar a qualquer momento. Em uma das últimas entrevistas ao jornal The New Yorker, declarou que já estava preparado para morrer e que a única coisa que pedia era ter tempo suficiente para terminar o trabalho que havia começado.

Ano passado tivemos a notícia de que a academia sueca concedia o Nobel de Literatura a Bob Dylan, e alguns estavam reclamando, não sem razão, pois se alguém fundiu a poesia e a música, esse alguém foi Cohen. Se alguém merecia um prêmio como este por suas letras, sem menosprezar a Dylan, era Leonard. Hoje, quando seu coração já não bate mais, nós que tivemos a sorte de desfrutar da sua arte pensamos que teria sido uma linda e merecida homenagem.

Nesse pequeno espaço, hoje mais triste pela sua partida, gostaríamos de prestar nossas homenagens.

Toda uma vida dedicada à música e às letras

Canadense de nascimento e admirador de Lorca por escolha, em suas letras falava de temas como a sexualidade, a religião, a política ou o isolamento, mas, sobretudo, suas mensagens falam de amor. Um sentimento que em suas palavras aparece como sensual, erótico e empoleirado sobre o corpo nu da mulher. No amor das suas letras não há dor pela perda, pelo contrário, é um amor que cicatriza e cura.

Embora seus primeiros passos tenham sido dados com a guitarra acústica, o encontro com um guitarrista espanhol fez com que ele se apaixonasse pelos acordes que podiam sair da guitarra clássica. Outra referência sua foi Layton, sobre o qual falou “Eu lhe ensinei a se vestir, ele me ensinou a viver para sempre”.

Depois de deixar para trás uma experiência universitária em Nova Iorque, a qual não lhe agradou muito, o mesmo a descreveu como uma “paixão sem carne, um amor sem clímax”, voltou ao Canadá, especificamente a Montreal, onde combinou a poesia com outras atividades que, naquele momento, lhe permitiam viver economicamente falando.

Viajante incansável, conheceu aquela que seria o amor da sua vida em Hidra, no mar Egeu. Marianne Ihlen tinha acabado de se separar do então norueguês Axel Jensen, com quem tinha um filho. Diz a história que ela estava chorando em uma loja de mantimentos do porto de Hidra quando um desconhecido se comoveu, convidando-a para juntar-se com seus amigos. Era Leonard Cohen e ali começava um idílio apaixonado que duraria, entre altos e baixos, sete anos.

De fato, So long, Marianne, que inicialmente tinha o título de Come on, Marianne, pretendia ser um convite do cantor para tentar novamente. Um amor que nunca terminaria, tão profundo quanto o que sentiu pelas palavras, fosse através da literatura, poesia ou música.

Marianne morreu em julho do ano passado, vítima da leucemia, e deixou nele um vazio que nunca pôde nem tentou cobrir. “Que saibas que eu estou tão perto de você, que se esticasse sua mão, acredito que alcançaria a minha”, escreveu Cohen em uma carta dedicada à mulher da sua vida.

O Prêmio Príncipe de Astúrias e sua visão da poesia

Quando recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias (2011), nos deixou um discurso que ficou gravado em todos os amantes da poesia. Cohen, com seu traje elegante e sorriso atravessado, utilizando o tom tranquilo que identifica a vida, disse que os prêmios que ele recebeu por seu trabalho como poeta foram um pouco enganadores.

Por quê? Pensava que era a poesia que acudia ele e que, portanto, era algo que ele não dominava. Quanto a isso, ele afirmou, com sua particular ironia, que se soubesse onde estava, iria procurar sua companhia mais frequentemente. Assim, em parte se sentia um charlatão por receber um prêmio no qual enxergava naturalidade, e não mérito.

Com mérito ou não, o que está claro é que sua obra é indiscutível e sua qualidade como autor foi um presente que todos nós recebemos. Neste breve discurso, também disse que tinha uma guitarra espanhola há mais de 40 anos, e sentiu o desejo de sentir o cheiro dela antes de sair para a Espanha. Relatava também que cheirando-a, teve uma sensação de que a madeira nunca morreria.

Ele, com sua obra, com sua genialidade, garantiu ser a madeira que nunca morrerá em nossos corações.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.