A liderança e a discriminação feminina

A liderança e a discriminação feminina
Alejandro Sanfeliciano

Escrito e verificado por o psicólogo Alejandro Sanfeliciano.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Muitas pessoas pensam que a desigualdade de direitos entre os gêneros é um tema do passado, mas essa afirmação está muito longe de ser verdade. Ainda podemos observar uma cultura e uma sociedade que favorece os homens em detrimento das mulheres. Apesar de todos os avanços já alcançados pelos movimentos feministas, o machismo segue existindo e se manifestando em diversos contextos. Nesse artigo vamos falar sobre como a discriminação feminina ocorre no contexto das lideranças.

Uma das evidências mais notáveis da existência de um machismo enraizado na cultura é a ausência de mulheres em postos de liderança. Tradicionalmente, a liderança sempre foi um assunto masculino. Apesar de cada vez estarmos mais acostumados a ver algumas mulheres em poucas posições de responsabilidade, a proporção de líderes femininas segue sendo muito menor. Na verdade, se falarmos de cargos de direção em grandes empresas, a porcentagem de mulheres não alcança nem 0,5%.

Diferenças entre homens e mulheres no que diz respeito à liderança

Nas últimas décadas vários estudos foram realizados com o objetivo de encontrar a relação entre liderança e discriminação feminina. Uma das primeiras hipóteses que foram exploradas foi a existência ou não de diferenças entre homens e mulheres quando assumem cargos de liderança, e se essas diferenças eram a causa da escassa presença de mulheres em postos de responsabilidade e poder.

Julgamentos machistas contra as mulheres

Eagly e Johnson realizaram uma metanálise em 1990 envolvendo 162 estudos sobre a liderança. Nessa pesquisa eles analisaram separadamente os diferentes comportamentos dos homens e das mulheres quando cada um se encontrava em um cargo de poder. Os resultados mostraram que existiam diferenças de gênero no comportamento de líderes.

Os homens têm uma tendência a ser mais autoritários, agressivos e muito orientados para a tarefa. As mulheres, no entanto, lideram com um estilo mais democrático, participativo e orientado para o bem-estar das relações. Os dois estilos estão muito associados aos estereótipos de gênero existentes na cultura atual.

Agora, depois de analisar as diferenças existentes, aparece a primeira evidência comprovando a existência de uma relação entre a liderança e o gênero. As pesquisas sugerem que os líderes democráticos, participativos e orientados para o bem-estar das relações são muito mais eficazes do que aqueles que não são assim. Então, como é possível que as mulheres, que apresentam um padrão de um bom líder, não tenham uma porcentagem mais ampla dos cargos de responsabilidade?

Efeitos que surgem da liderança e da discriminação feminina

A seguir, vamos falar dos efeitos que surgem a partir da presença do machismo na sociedade e dificultam o acesso da mulher a cargos de liderança. É importante entender que ainda que não exista uma desigualdade de gêneros explícita, o machismo implícito em nossa cultura e educação tem um efeito igualmente prejudicial para o coletivo feminino.

O efeito do teto de vidro

O termo teto de vidro faz referência à existência de uma barreira invisível que impede as mulheres de subirem a postos de direção e liderança. A existência e influência dos estereótipos de gêneros são a principal explicação e justificativa para esse teto de vidro.

Não esqueçamos que a figura de líder não é algo individual, já que sem seguidores não há liderança. Devido aos preconceitos existentes em relação a mulheres, muitos acham que os seguidores irão rejeitar uma mulher no poder e sua legitimidade como líder.

Além disso, existe uma forte tendência a associar os cargos de responsabilidade com o gênero masculino. A autora Schein cunhou o termo think manager-think male para se referir a esse fenômeno.

Por outro lado, um efeito associado ao teto de vidro é o teto de cimento. Esse último termo se refere a situações em que a própria mulher se limita na hora de alcançar um cargo de responsabilidade. Isso ocorre também por culpa do machismo implícito nos estereótipos de gênero, gerando na própria mulher uma ansiedade por ultrapassar ou não corresponder ao que a sociedade espera dela.

Desigualdade profissional entre homens e mulheres

O efeito do precipício de vidro.

Já falamos que existem muitas dificuldades impostas à mulher na hora de chegar a cargos de responsabilidade, mostrando a existência clara de uma relação entre discriminação feminina e liderança. Mas o que acontece quando uma mulher chega lá e assume um cargo de liderança? É aqui que aparece o efeito do precipício de vidro.

O precipício de vidro faz referência ao fato de que quando as mulheres alcançam um cargo de poder, estes costumam ser mais precários e estão associados a uma possibilidade maior de fracasso e de críticas que os cargos ocupados pelos homens. Parece que o think manager-think male deixa de existir quando o posto de liderança está associado a uma situação de risco ou crise.

Então, quando alguém é escalado para um posto de responsabilidade com altas possibilidades de fracasso, costuma-se buscar uma mulher. Desse modo, temos o fenômeno think crisis-think femaleMais pesquisas devem ser feitas para determinar as causas desse efeito, mas as hipóteses principais são aquelas que falam sobre o melhor manejo da mulher quando falamos de situações críticas de crise, ou até mesmo a hipótese de uma manipulação masculina para aumentar o fracasso das mulheres nos cargos de liderança.

Como conclusão, é importante nos darmos conta de que a desigualdade entre gêneros segue estando muito presente em nossa cultura e sociedade atuais. A única maneira que temos para combater esse fato é pesquisando e ficando atentos de modo crítico a todos os aspectos sociais, culturais e educativos que fomentam a existência dessa relação entre liderança e discriminação feminina.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.