Relação entre luz artificial noturna e depressão
Sabemos que a poluição luminosa em nossas cidades costuma causar insônia, sem mencionar o óbvio impacto ambiental. Nos últimos anos, a relação direta entre a luz artificial noturna e a depressão se tornou evidente. Nossas lâmpadas LED, telas de telefones celulares, computadores e televisores estão se tornando sérios inimigos da nossa saúde psicológica.
Como pode ser? Desde que a luz elétrica apareceu e o mundo substituiu o gás pela eletricidade e as noites se “encheram de luz”, outras mudanças também começaram a ocorrer. De repente, por exemplo, os empregos noturnos começaram a aumentar. As fábricas começaram a funcionar sem interrupção.
Com a predominância da luz artificial, nossos ritmos biológicos começaram a se alterar. O mesmo aconteceu com os dos animais, especialmente pássaros e insetos. Assim, uma consequência direta do progresso foi o aumento da insônia na população, bem como as mudanças no humor. Os efeitos sobre a biodiversidade são, sem dúvida, outra evidência relevante.
Adaptamo-nos psicologicamente à luz artificial em nossas horas noturnas, sem saber que biologicamente essa adaptação nunca ocorreu e que as consequências são múltiplas.
Qual é a relação entre a luz artificial noturna e a depressão?
Estamos totalmente adaptados a uma vida mediada pela luz elétrica há mais de 130 anos. Às vezes, quase de brincadeira, costumamos dizer que só o rural vive de forma ajustada aos ritmos estabelecidos pela natureza e pela nossa biologia. Porque a realidade é que a maioria de nós vive desalinhada com o comportamento do ciclo solar.
Assim, por mais que alguns gostem de se definir como notívagos, a verdade é que somos seres de luz. Somos criaturas regidas por ritmos circadianos em que a escuridão total é necessária em certas partes do dia para realizar importantes tarefas hormonais. Substituir a escuridão pela luz artificial altera completamente nossos ritmos biológicos.
Nós sabemos que a vida moderna se constrói assim: trabalhamos à noite ou dedicamos essas horas noturnas ao nosso lazer. No entanto, quase sem saber, pagamos um preço silencioso por esta forma de construir a nossa existência.
A luz artificial noturna altera a estrutura do nosso cérebro
Neurocientistas da Ohio State University (Estados Unidos) realizaram uma interessante pesquisa sobre o assunto. O experimento foi feito em laboratório e com ratos. Algo que ficou evidente é que a exposição à luz artificial reduz a produção de melatonina. A falta desse hormônio polivalente deixou os animais apáticos e enfraquecidos.
Uma redução drástica no tamanho do hipocampo também pôde ser observada, diretamente associada a transtornos depressivos. Da mesma forma, como se não bastasse, outro efeito também foi observado. Um nível mais alto de uma proteína associada à necrose tumoral começou a ser identificado. Portanto, não apenas a relação entre a luz noturna artificial e a depressão ficou evidente, mas outros fatores também foram descobertos.
A luz azul dos nossos dispositivos e a relação entre luz artificial noturna e depressão
Não é a mesma coisa usar nossos dispositivos durante o dia e à noite. O ideal é que, ao cair da noite, deixemos de lado todas as tecnologias: celulares, laptops, tablets… Dessa forma, nosso cérebro não sofreria o impacto da luz azul desses aparelhos, que tem um efeito mais prejudicial nas horas noturnas.
Nossas retinas contêm um fotopigmento chamado melanopsina, que é especialmente sensível a ondas de luz azul. Essa superestimulação tem um sério impacto em nossos ritmos circadianos, alterando também a produção de melatonina, como explica um estudo publicado na revista Nature.
Além disso, essa hiperativação da melanopsina tem outros efeitos. Ativa redes nevrálgicas do tálamo que acabam alterando áreas do córtex pré-frontal, do hipocampo e da amígdala. Tudo isso altera nosso humor, levando a transtornos depressivos.
O que podemos fazer para reduzir o impacto das luzes artificiais em nossa saúde?
Sabemos que a luz artificial noturna e a depressão têm uma relação direta. No entanto, o que também está claro para nós é que não seremos capazes de nos adaptar totalmente aos ciclos da luz solar. O mundo moderno não pode ir para a cama quando o sol se põe e levantar ao amanhecer.
Continuaremos com nossos turnos noturnos de trabalho e indo para a cama, muitas vezes, entre 23h e meia-noite. O que fazer, portanto, para reduzir o impacto das luzes artificiais em nosso humor? Aqui estão algumas chaves.
Lâmpadas incandescentes
Muitas cidades estão substituindo as lâmpadas luminescentes por incandescentes. A razão? Elas produzem uma luz de comprimento de onda amarela mais longa; portanto, não têm tanto impacto sobre a melanopsina.
Luzes de cor âmbar
As luzes de tonalidade âmbar não são prejudiciais para os insetos, pássaros ou humanos, o que permite reduzir a poluição luminosa.
Filtros de luz azul e configurações em nossas telas
Atualmente, muitos dos nossos aparelhos já nos permitem ajustar o brilho e até mesmo aplicar o filtro de luz noturna para evitar os danos que a luz azul nos causa.
Reduza (se possível) a exposição à noite
O ideal é, pelo menos duas horas antes de dormir, desligarmos todos os nossos aparelhos eletrônicos. Nosso cérebro nos agradeceria, pois assim favoreceríamos uma produção adequada de melatonina e dormiríamos muito melhor. São pequenos gestos que, embora sejam difíceis de aplicar devido ao nosso estilo de vida, irão favorecer diretamente o nosso bem-estar.
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