É mais fácil falar com estranhos do que com conhecidos

É mais fácil falar com estranhos do que com conhecidos
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Sêneca disse há séculos que “uma das mais belas qualidades da verdadeira amizade é entender e ser entendido”. No entanto, o que acontece quando você não se sente compreendido pelos amigos ou familiares? Talvez você prefira falar com estranhos para compensar isso e pode até se sentir muito melhor. Agora, é normal que você ache que é mais fácil falar com estranhos do que com conhecidos? Quais mecanismos são colocados em prática para produzir esse fenômeno tão curioso?

A verdade é que, embora não seja usual, pode ser considerado normal. Ou seja, existem perfis que têm dificuldades em se relacionar com pessoas conhecidas. É mais difícil, elas se sentem mais inseguras. A razão se deve ao medo de uma avaliação negativa, e até mesmo positiva, que os outros podem fazer.

Por que nos sentimos confortáveis conversando com estranhos?

Conversar com estranhos pode ser algo que não achamos desconfortável. Quando dizemos ‘conversar’, podemos nos referir também a estabelecer outros tipos de relações sociais. Ou seja, tomar banho no vestiário da academia ou se envolver em conversas no trabalho, por exemplo.

No entanto, quando estamos na presença de um amigo ou de uma pessoa conhecida com quem mantemos um vínculo mais estreito, podemos nos sentir terrivelmente envergonhados ou com medo. Isto é, nos sentimos mal. Tememos o que os outros podem pensar de nós, que formem uma imagem negativa ou que descubram as nossas deficiências. Isso realmente obedece ao conceito ruim que temos de nós mesmos. Ou seja, de certa forma, nos envergonhamos do nosso físico, das nossas habilidades sociais, etc.

Falar com estranhos pode ser benéfico

Curiosamente, o medo que sentimos não se refere apenas a uma avaliação negativa que podem nos fazer. Além disso, mesmo que a avaliação seja positiva, pode ser uma fonte de vergonha, como já dissemos. Isso geralmente indica que somos inseguros.

A questão é, ao conversar com estranhos, os temas abordados são geralmente banais, rotineiros… Ou seja, é como se seguíssemos um script não escrito, mas com o qual estamos acostumados e nos sentimos confortáveis. Mesmo nessas situações, podemos chegar a desempenhar um papel, ou seja, nos mostrarmos como queremos, porque provavelmente será de curta duração e é muito pouco provável que voltemos a ver a outra pessoa.

Até mesmo os psicólogos acreditam que interagir com estranhos traz benefícios diferentes daqueles que podemos obter falando com pessoas conhecidas. De acordo com um estudo conduzido por Elizabeth Dunn, professora de psicologia da University of British Columbia, falar com estranhos deixa as pessoas mais alegres; elas se comportam de maneira mais amigável e se sentem parte da comunidade.

Por que falar com estranhos livremente?

A chave está na trivialidade da conversa. Se você trabalha com o público, não terá nenhum problema em se mostrar de uma maneira agradável na frente de pessoas que não conhece. Você sabe que vai falar sobre o tempo ou como está a vida e, certamente, não as verá novamente.

No entanto, quando a conversa ganha privacidade, você pode começar a se mostrar como é. É aí que vem o medo do julgamento, a vergonha de nos mostrarmos como realmente somos.

Assim, surge um fenômeno muito curioso. Ou seja, não estamos preocupados com o que uma pessoa desconhecida pensa de nós. No entanto, a opinião de alguém próximo ou conhecido pode ser embaraçosa.

É evidente que, quanto mais intimidade tivermos com uma pessoa, mais ela se concentrará em nossos atributos positivos, mas também perceberá as nossas falhas e defeitos. Talvez o efeito que vamos causar nessa pessoa seja difícil de aceitar.

O que fazer se você se sente assim?

O psicóloga clínica Encarni Muñoz Silva nos oferece uma série de dicas que podemos colocar em prática quando conversamos com pessoas conhecidas. São as seguintes:

  • Enquanto conversa com uma pessoa conhecida, pense sobre o que realmente lhe dá medo e o que você acha que pode acontecer. Certamente não será algo tão grave.
  • Considere que você não pode viver sob uma máscara ou um escudo em todos os momentos. Você não será capaz de agradar a todos, quer goste disso ou não. Às vezes você poderá ser rejeitado, mas temos que aprender a viver com isso.
  • Certifique-se de que o seu segredo não seja tão grave. É realmente tão vergonhoso? O que você precisa esconder?
  • Talvez você tenha medo de se machucar. No entanto, se você vive envolto em uma armadura, talvez ninguém o machuque externamente. Mas, você mesmo se machuca porque não confia em ninguém e não desenvolve habilidades sociais indispensáveis ​​para viver em grupo.
  • Você não deve ter medo de se mostrar como é, com erros, defeitos e sucessos. Você só tem que tentar corrigi-los se não gostar deles, mas não os esconda daqueles que confiam em você, pois eles também têm os seus defeitos, como acontece com todos nós.

“O maior presente da vida é a amizade, e eu a tenho recebido”.
-Hubert H. Humphrey-

Pessoas conversando diante do pôr do sol

Observe que é relativamente normal ficar à vontade com estranhos e se sentir mal falando com pessoas próximas, mas não precisa ser assim. O ideal é se sentir confortável com pessoas conhecidas. Se esse é o seu problema, esqueça o drama e evite criar tensão e ansiedade, porque eles não o levarão a lugar nenhum.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.