Mar adentro

Este filme baseado em fatos reais te faz refletir sobre a vida, a morte e o amor.
Mar adentro
María Vélez

Escrito e verificado por a psicóloga María Vélez.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Em Mar adentro vemos a história de Ramón Sampedro, que está acamado há quase trinta anos. Ele depende de sua família para tudo desde que um acidente o deixou paraplégico. Desde então, ciente de que sua condição nunca vai melhorar, ele luta para poder morrer com dignidade.

Além de sua família, Ramón conta com a ajuda de Julia, uma advogada que apóia sua causa, e por outro lado, Rosa, uma vizinha que tenta convencê-lo de que morrer não é uma alternativa, que a vida ainda pode guardar muitas surpresas agradáveis para ele. Assim, a determinação de Ramón em atingir seu objetivo testará a força e o afeto daqueles que o cercam.

E na leveza do fundo
onde os sonhos se realizam
duas vontades se unem 
para realizar um desejo.”

Texto do roteiro do filme.

Neste drama de Alejandro Amenábar e soberbamente interpretado por Javier Bardém, ele nos conta a verdadeira história de Ramón Sampedro. Este marinheiro e escritor, que sofria de tetraplegia desde os 25 anos, que reivindicou o seu direito de morrer, pois as condições em que se encontrava não lhe permitiam levar uma vida plena e digna. Graças à sua luta e ao impacto que teve na mídia, Ramón foi pioneiro na abertura do debate sobre a eutanásia na Espanha.

A morte

A morte é o eixo central deste filme, assim como um fator elementar da vida. É o fim dela, onde a existência termina. Não há vida sem morte e vice-versa. Então… Por que é tão difícil para nós pensar nela? E, sobretudo, por que temos tanto medo de enfrentá-la?

Desde que nós, humanos, nascemos, não fazemos nada além de aprender e conhecer. Não concebemos que nossa mente pare de funcionar, de deixar de sentir completamente. Não podemos imaginar uma desconexão total. Por isso, diante da própria morte, ou do desejo de antecipá-la, geralmente são geradas duas perspectivas, representadas em Mar Adentro por Rosa e Julia.

A vida

Rosa tenta convencer Ramón a descartar a opção da eutanásia. Segundo ela, a vida ainda pode lhe trazer muita gratidão, que ainda vale a pena.

Essa visão positivista de Rosa é baseada na resiliência, otimismo e humor. Assim, muitas pessoas não entendem que morrer pode ser desejado ou permitido, pois consideram que devemos nos adaptar aos problemas e enfrentá-los. Apesar do negativo, devemos manter a esperança e uma visão positiva do futuro, desdramatizando a situação e, além disso, viver plenamente.

Eutanásia

Pelo contrário, Julia, que é advogada e também sofre de uma doença neurodegenerativa, apoia sua luta e tenta, sem sucesso, ser autorizada a realizar a eutanásia. Assim, Mar adentro oferece esse debate ao espectador.

A eutanásia (morte digna, por tradução literal do grego antigo) é a intervenção voluntária que é realizada para acelerar a morte de um paciente terminal com o objetivo de poupar sofrimento e dor. Atualmente, a eutanásia ou suicídio assistido não é permitida na maioria dos países. No momento, apenas na Holanda, Bélgica, Suíça, Luxemburgo, Colômbia, Canadá e alguns estados dos Estados Unidos e Austrália. Além disso, recentemente, a Espanha iniciou os procedimentos para implementar a lei que a descriminaliza.

Aqueles que defendem esta prática consideram que a pessoa tem a capacidade de decidir se quer continuar com a sua própria vida. Quem solicita esta intervenção são pessoas conscientes, em sã consciência, mas que não suportam mais viver em condições dolorosas ou com incapacidade de autonomia. Portanto, o direito de viver e morrer com dignidade é protegido.

No debate sobre a eutanásia, muitas vezes são levantados princípios morais sobre se proteger a vida de uma pessoa não pesa mais. Mas, geralmente, esses argumentos são levantados de um ponto de vista privilegiado, de quem tem uma vida saudável e com qualidade de vida. É possível ter a mesma opinião sabendo que você será incapacitado durante sua vida?

O amor

Mar adentro é definitivamente uma história de amor. Amor à vida, de poder vivê-la plena e livremente, amor aos outros. Assim, curiosamente, é Rosa quem, como um ato de amor, ajuda Ramón a atingir seu objetivo, repensando todos os seus princípios e forma de ver o mundo.

Portanto, a melhor maneira de se preparar para o fim da vida, se é que realmente nos preparamos, é aceitar a morte como um episódio natural da vida. Não devemos esquecer que a morte é uma parte intrínseca e inseparável de nossa vida, e que as situações podem determinar os pensamentos que temos em relação a ela.

Todos lidam com esta situação da melhor forma possível. É plausível que diante dela sintamos incerteza e medo, portanto, se conseguirmos ser honestos conosco mesmos e adotar a morte como parte de nossa essência, todos os nossos medos desaparecerão.


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