O que é a memória emocional?
Muitas pessoas acreditam que a memória tem a ver apenas com coisas que acontecem conosco. Com as lembranças em si, com as vivências. No entanto, a memória vai muito além disso e também abrange as respostas fisiológicas e emocionais associadas às vivências e às lembranças. É disso que trata a memória emocional, o tema principal do nosso artigo.
Sabemos que as lembranças estão impregnadas de muitos detalhes: do momento ou da situação em questão, das sensações associadas, do que sentimos naquele momento e até do que pensamos. As lembranças são permeadas por todos esses elementos, e a emoção não pode ser separada deles.
Descubra como a emoção e a memória se inter-relacionam por meio desse tipo de memória.
Como memória e emoção se relacionam?
Tudo que vivemos de forma intensa, ou seja, as experiências de grande carga emocional, são lembradas muito mais do que experiências que não nos fizeram sentir nada. A questão é que a memória está intrinsecamente vinculada à emoção. E quanto mais emoção, mais lembrança. Isso acontece tanto com as emoções positivas quanto com as negativas (desde que sejam intensas).
Além disso, outra causa que explicaria por que nos lembramos mais das experiências emocionais é porque tendemos a lembrar delas com mais frequência, o que faz com que os circuitos cerebrais responsáveis por fazer essas lembranças perdurarem sejam reforçados. Ou seja, quanto mais nos lembramos de um acontecimento, mais essa lembrança é reforçada na memória (tornando-a mais acessível para nós).
O que é a memória emocional?
A memória emocional tem muito a ver com o que comentamos sobre a memória e a emoção. Consiste na aprendizagem, no armazenamento e na lembrança dos eventos associados às suas respostas fisiológicas e emocionais. Ou seja, na memória emocional, há o acréscimo dos seguintes fatores: o evento em questão, a emoção sentida naquele momento e como nosso corpo respondeu em termos fisiológicos.
Perdura mesmo que esqueçamos o evento: um exemplo
A memória emocional é um tipo de memória muito característico porque pode perdurar mesmo que esqueçamos o evento em questão. Para entender melhor, vamos considerar um exemplo: a aquisição de uma fobia. Vamos imaginar que um dia, quando éramos muito pequenos, um cachorro nos mordeu e nos machucou, e que vivemos esse acontecimento como algo realmente traumático. Como resultado disso, desenvolvemos uma fobia de cães.
Depois de alguns anos, pode ser que tenhamos esquecido do evento em questão, porque éramos muito jovens quando aconteceu, mas mesmo assim a fobia permanece. Por quê? Porque a memória emocional pode perdurar mesmo quando esquecemos os fatos em questão.
Assim, nesse exemplo da fobia, podemos não lembrar mais o que aconteceu naquele dia (ou pode ser que tenhamos esquecido muitos detalhes do evento), mas nosso corpo se lembra disso. Embora não de forma consciente, o organismo se lembra das sensações fisiológicas associadas àquele momento da mordida (respiração agitada, mal-estar, ansiedade, suor, dor, etc.). E é isso que faz a fobia ser mantida, embora já tenhamos esquecido o evento traumático em um nível mais explícito.
Lembrar o que aconteceu, lembrar o que sentimos
A memória emocional tem outros significados além do que já foi explicado. Konstantin Stanislavski, um famoso pedagogo, deu o nome de memória afetiva a uma técnica de interpretação que consiste em relembrar acontecimentos para evocar certas emoções na pessoa.
Assim, quando nos lembramos de certos eventos, geralmente também nos lembramos do que esses eventos nos fizeram sentir (especialmente se tiverem sido emoções intensas). E o inverso também é válido: lembrar ou sentir certas emoções nos transporta, quase inevitavelmente, a lembranças em que aquela emoção foi predominante.
Por esse motivo, algumas teorias psicológicas afirmam que, quando uma pessoa tem depressão, ela tende a se lembrar de eventos mais negativos e tristes de sua vida (e essas lembranças retroalimentariam essa depressão).
Memória emocional: do que exatamente nos lembramos?
Por que nos lembramos mais facilmente daquelas coisas que nos afetaram emocionalmente? Do que realmente nos lembramos? Foi levantada a possibilidade de que, na realidade, o que recordamos é aquele estado fisiológico em que nos encontrávamos quando passamos pela experiência.
E é disso que trata a memória emocional: “lembrar” como o corpo foi ativado e a emoção que sentimos. É uma memória implícita, à medida que, por meio dela, não nos lembramos do evento em si (é disso que tratam outros tipos de memória, como a autobiográfica), mas das respostas que foram ativadas em nosso organismo com esse evento.
E você, o que lembra da sua vida?
Como vimos, a memória emocional tem a ver com tudo o que sentimos durante certas experiências; podemos esquecer essas experiências, mas a memória dessa emoção perdura. Se perguntarmos a você, fazendo um pequeno balanço da sua vida, quais são as suas lembranças mais vívidas? O que você diria?
São lembranças emocionais ou situações que fizeram você sentir “nada”? Você acha que é possível se lembrar muito bem de algo que não despertou emoções ? Provavelmente não, porque essa lembrança nunca deixou sua marca em nosso cérebro ou em nossa alma.
“Tudo está guardado na memória, no sonho da vida e da história”.
-León Gieco-
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