Mitos e verdades sobre o uso da maconha
O uso da maconha ou cannabis sativa se tornou ainda mais popular na última década. Apesar de ser uma das drogas mais consumidas, até hoje muitas pessoas têm informações incorretas sobre os benefícios e possíveis danos do uso da mesma. Ou seja, seu consumo foi ampliado, mas o tipo de informação que se conhece sobre os efeitos da maconha não foi melhorado. Além disso, os mitos que giram em torno dela são tão numerosos quanto perigosos.
Portanto, neste artigo vamos explicar os principais mitos e verdades sobre o uso da maconha. Veremos algumas das ideias mais comuns sobre o uso da maconha, como seus possíveis efeitos terapêuticos, se é ou não uma droga que vicia e se ajuda na concentração e na criatividade.
Efeitos terapêuticos do uso da maconha, eles realmente existem?
A maconha, em termos gerais, tem vários tipos de canabinoides (compostos de maconha), pouco mais de 100. Embora os efeitos psicoativos da maconha sejam em grande parte devido ao canabinoide THC, o mais poderoso potencial médico terapêutico é o do canabinoide CBD. A maconha para uso terapêutico deve ser consumida por via oral e não fumada, uma vez que o dano pulmonar gerado pelo fumo pode não compensar os efeitos terapêuticos.
Ou seja, ao consumir maconha, vários tipos de canabinoides são ingeridos; o mais conhecido e procurado pelos usuários da maconha é o Delta-9-Tetraidrocanabinol (THC), embora os efeitos terapêuticos sejam obtidos do canabidiol (CBD). Este, quando tem indicações terapêuticas, pode ser consumido apenas por cápsulas, óleos ou soluções contendo CBD. Não é necessário nem saudável buscar os efeitos terapêuticos do CBD através do consumo da maconha.
“As drogas são inimigas do futuro e da esperança, e quando lutamos contra elas, lutamos pelo futuro”.
-Bob Riley-
O CBD em si tem demonstrado, através de estudos científicos, ter benefícios terapêuticos. Entre os benefícios do CBD estão: anti-inflamatório, antiemético, anticonvulsivante, ansiolítico e antitumoral. Todos eles são os efeitos terapêuticos mais conhecidos do CBD, sendo que não é essencial obter o CBD através do consumo de maconha, pois existem preparados especiais para obter os benefícios terapêuticos desse tipo de canabinoide.
O uso da maconha gera dependência? Você pode se tornar viciado em maconha?
A resposta para estas duas perguntas é sim. O consumo da maconha gera dependência, porque é uma substância psicoativa que modifica o funcionamento das vias de reforço cerebral (área tegmental ventral e núcleo accumbens). Mesmo que a interrupção do uso da maconha não tenha uma síndrome de abstinência com sinais importantes e sintomas físicos, não significa que não gere dependência. A maconha em si é uma droga viciante.
Da mesma forma, até o momento, os sinais e sintomas que compõem a síndrome de abstinência da maconha foram estudados e identificados. Os critérios diagnósticos para esta síndrome de abstinência, de acordo com o manual do DSM 5, são os seguintes:
A. Interrupção abrupta do consumo da maconha, que tenha sido intenso e prolongado (por exemplo, consumo diário ou quase diário, durante um período de vários meses, pelo menos).
B. Ocorrência de três (ou mais) dos seguintes sinais e sintomas aproximadamente dentro de uma semana após o Critério A:
- Irritabilidade, raiva ou agressividade.
- Nervosismo ou ansiedade.
- Dificuldades para dormir (isto é, insônia, pesadelos).
- Perda de apetite ou peso.
- Inquietação.
- Desânimo.
- Pelo menos um dos seguintes sintomas físicos que causam desconforto significativo: dor abdominal, espasmos e tremores, sudorese, febre, calafrios ou dor de cabeça.
C. Os sinais ou sintomas do Critério B causam sofrimento significativo ou prejuízo nas áreas de relacionamento social, no trabalho ou outras áreas importantes de funcionamento.
D. Os sinais ou sintomas não podem ser atribuídos a qualquer outra condição médica e não são melhor explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação ou abstinência de outra substância.
Assim, se uma pessoa sente estes sintomas após a interrupção do consumo de THC, estamos diante de um caso de síndrome de abstinência de maconha, e este é o resultado de mudanças no cérebro provocadas pelo uso desta droga a longo prazo. Em suma, a verdade é que a maconha é uma droga que vicia e, sim, causa abstinência. Embora seja legal em alguns países, não significa que não seja viciante.
A maconha é uma substância natural e, portanto, seu consumo não causa danos significativos ao nosso corpo. Isso é verdade?
Este é o mito mais difundido e mais refutado pela pesquisa científica. As principais consequências negativas do uso da maconha são observadas no funcionamento cognitivo de nosso cérebro (memória, atenção, raciocínio) e no sistema imunológico (as defesas do nosso corpo). Portanto, falamos de dois efeitos nocivos: problemas neuropsicológicos e problemas no sistema imunológico.
Desta forma, o consumo de maconha provoca um pior desempenho na memória, tanto a curto quanto a longo prazo. Também foi demonstrado que o THC, a longo prazo, causa dificuldades significativas na retenção de novas informações e na concentração. E tudo isso é observado quando se compara um grupo de pessoas que consomem maconha com relação a outro grupo que não consome, da mesma idade, sexo, cultura e nível educacional.
“Eu gostaria que os fãs fizessem meditação em vez de usar drogas.”
-Ringo Starr-
Além disso, a nível do sistema imunológico, o uso da maconha faz com que este sistema trabalhe menos e com menos eficiência. Tecnicamente falando, o THC “deprime” o sistema imunológico, o que, a longo prazo, nos torna mais propensos a doenças de todos os tipos, e principalmente a doenças autoimunes ou carcinogênicas. Também devemos ter em mente que entre os efeitos do consumo da maconha muitas vezes se encontram o nervosismo e a ansiedade. Essas duas experiências também prejudicam o sistema imunológico, pois estão intimamente relacionadas às nossas experiências emocionais.
Portanto, mesmo que seja uma substância natural, tem efeitos prejudiciais para o organismo e, além disso, quando consumido pela via pulmonar, ao fumar, as consequências negativas da combustão e do monóxido de carbono são obtidas. Nesse caso, natural não é igual a inofensivo.
Existe alguma relação entre o uso da maconha e uma maior criatividade?
A relação entre a maconha e a criatividade é complicada de entender. Por um lado, é verdade que inibir o lobo frontal – e as limitações sociais que nele existem – nos ajuda a sermos mais criativos. No entanto, para melhorar a criatividade há maneiras muito mais eficazes (e menos perigosas) do que consumir maconha. O estudo aprofundado da área artística em que trabalhamos (pintura, fotografia, cinema, música, etc.), juntamente com a exposição a estímulos artísticos e novos, favorece notavelmente a criatividade.
A maconha pode deixá-lo mais criativo, mas apenas a curto prazo, apenas sob os efeitos do THC, e por outro lado, não ajudará em um aspecto fundamental se você quiser que a criatividade dê frutos: a perseverança. O uso da maconha pode aumentar a criatividade, mas ao mesmo tempo, atrapalhar sua capacidade de ser constante. A maconha pode fornecer muitas ideias novas, mas em contrapartida, ela vai atrapalhar o processo necessário para realizá-las.
Finalmente, se uma pessoa decide consumir maconha apesar dos efeitos nocivos, é muito importante levar em conta as diretrizes para o consumo responsável, como: ter informações exatas sobre o que está sendo fumado (tipo de planta, quantidade de THC, pesticidas, toxinas adicionadas), manter hábitos alimentares saudáveis, praticar exercícios físicos e evitar usar maconha para conseguir dormir. Lembre-se de que um psicólogo especializado em vícios pode ajudá-lo a reduzir seu consumo e fazê-lo de maneira responsável ou a abandonar completamente esse hábito viciante.