Modelo comportamental cognitivo de baixa autoestima de Fennell
Como você se sente consigo mesmo hoje? Você se vê capaz de atingir os objetivos que traçou para si? Que pensamentos e avaliação você tem sobre si mesmo agora?
A autoestima é como esse sopro de vida que nos permite não apenas nos sentirmos valiosos, mas também capazes de alcançar o que queremos em um determinado momento. No entanto, deve-se notar que estamos diante de uma dimensão psicológica tremendamente frágil e variável. Esse construto pode aumentar e diminuir pelas razões mais complexas e sutis.
O que chama a atenção é que a autoestima está quase sempre condicionada pelo que nos rodeia, pelas pessoas que estão em nosso entorno e também pelos eventos que nos acontecem.
Ter crescido em um ambiente familiar marcado pela reprovação, por exemplo, é devastador para a identidade e a autoimagem. Ter um parceiro abusivo ou ser assediado na escola ou no trabalho prejudica a avaliação que fazemos de nós mesmos. Assim, e apesar de que gostaríamos que a autoestima fosse como o grafeno, dura e quase indestrutível, a verdade é que frequentemente ela se fragmenta.
Todos nós precisamos de alguma estratégia que nos permita trabalhar essa dimensão. Porque existem estratégias, abordagens e modelos altamente eficazes para desativar essa visão negativa que às vezes construímos sobre o nosso próprio ser. Vamos aprofundar em uma dessas ferramentas.
Nossas experiências de vida criam esquemas, percepções sobre como somos, o que merecemos e o que os outros pensam de nós.
Em que consiste o modelo comportamental cognitivo de baixa autoestima de Fennell?
Melanie Fennell é pesquisadora clínica do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford. Além de ser especialista em tratamentos baseados em evidências científicas para ansiedade e depressão, contribuiu de maneira notável para o desenvolvimento de guias para trabalhar a baixa autoestima. Seu livro, Overcoming Low Self-Esteem, (2009) é um exemplo disso.
Um de seus recursos mais notáveis é conhecido como o modelo cognitivo comportamental de baixa autoestima. É uma abordagem para entender de onde vem essa visão desvalorizadora de nós mesmos. E não só isso. Também nos ajuda a ter uma ideia de por que reforçamos certos esquemas negativos e como desativá-los.
Esse recurso tem suas raízes na própria terapia cognitiva de Aaron T. Beck. Dessa forma, se houve algo que esse famoso terapeuta nos ensinou é que, para além do que nos acontece, o mais importante é a forma como interpretamos tudo o que nos acontece. Isso nos convida a rever muitas de nossas crenças sobre nós mesmos para melhorar nossa autoestima.
Vamos ver o que o modelo da Dra. Fennell nos ensina.
Existem esquemas mentais que reforçam a ideia de que somos pessoas incompletas ou fracassadas. Essas crenças edificam a baixa autoestima e são as que devemos abordar.
1. Origem da baixa autoestima: nossas primeiras experiências
“Não valho nada”, “sou desajeitado”, “ninguém gosta de mim”, etc. De acordo com o modelo comportamental cognitivo de baixa autoestima de Fennell, nossas primeiras experiências são as que edificam a visão que temos de nós mesmos. Ter uma família ou pai muito crítico, pouco afetuoso ou mesmo autoritário age construindo um autoesquema debilitante e negativo.
Lembremos, um autoesquema é uma crença sobre nós mesmos que construímos e internalizamos, interpretando uma série de experiências. Essa dinâmica mental é um processo que começamos a construir na nossa infância.
- Dessa forma, as primeiras experiências com essas figuras de autoridade dão origem a crenças “fundamentais” sobre como somos e quanto valemos.
- Na infância e na juventude, também são criados o que Fennell define como “regras para viver”. A forma como se relacionaram e se vincularam conosco fará com que nos sintamos mais ou menos capazes de alcançar o que queremos. Se nos desvalorizavam e subestimavam, nos perceberemos como criaturas com pouco mérito para lutar pelo que sonham.
Mais uma vez, consolida-se a ideia de que o entorno em que nos toca crescer e a forma como somos tratados nos condiciona de forma incontornável.
2. Reforçadores da baixa autoestima: incidentes críticos e modelos de enfrentamento inúteis
Em sua pesquisa sobre baixa autoestima, a Dra. Melanie Fennell explica que ao longo de nossa existência passaremos por mais de um momento crítico. São momentos em que as adversidades ou as relações interpessoais voltam a colocar em risco a nossa autoestima.
Com isso queremos dizer que, às vezes, é possível superar as feridas da infância e construir gradualmente uma autoestima mais saudável. No entanto, nunca se está a salvo das inclemências da vida e de suas investidas. Porque fatos como um relacionamento traumático pode desmoronar todas as nossas forças novamente. Isso acontece porque não desenvolvemos estratégias de enfrentamento úteis. Essas que funcionam como coletes salva-vidas para não afundarmos.
A autoestima não é uma característica fixa e imutável; sucessos ou contratempos, tanto pessoais como emocionais e profissionais, podem provocar flutuações na forma como nos vemos, na imagem que temos de nós mesmos.
Como podemos desenvolver uma autoestima saudável e mais estável?
O Modelo comportamental cognitivo de baixa autoestima de Fennell também nos fornece estratégias para desenvolver uma visão mais saudável de nós mesmos. De fato, se há algo que devemos considerar mais uma vez, é que essa construção flutua e a única maneira de mantê-la estável é com as ferramentas certas.
Esse kit de primeiros socorros para curar a autoestima exige que façamos perguntas a nós mesmos, de acordo com essa abordagem. Só quando questionamos nossas crenças é que tomamos consciência desses esquemas errôneos que reforçam a subestimação, a crítica e a falta de amor por nós mesmos.
Vejamos onde devemos colocar nosso olhar para desativar essas ideias nocivas.
1. O que resta do que aconteceu há muitos anos?
Como era sua relação com seus pais? Você teve uma infância difícil? Que mensagens seus pais lhe deram sobre você e como eles fizeram você se sentir? Você acha que muitas das narrativas e visões que você tem agora sobre sua pessoa são condicionadas por como você foi criado?
Um primeiro passo para fortalecer os alicerces de nossa autoestima é analisar aquelas feridas que ocorreram na infância e que nos acompanharam ao longo dos anos .
2. Suas regras para viver
As regras de vida são ideias e concepções que construímos sobre o que merecemos e o que não merecemos, sobre como deve ser nossa existência. Abordar e navegar por esse conjunto de esquemas mentais costuma ser uma tarefa complexa e até trabalhosa, mas isso nos oferecerá muita luz para melhorar nossa saúde psicológica.
- Para conseguir isso, indague esses pensamentos que começam da seguinte forma: “eu tenho que, eu devo, eu deveria, se eu fizer isso…”, (eu deveria ser mais simpático e gentil para ser mais querido, eu tenho que ter um corpo 10 para agradar as pessoas, tenho que ser perfeita para conseguir o que quero, se eu fizer o que os outros querem e os agradar, eles vão me amar e não me rejeitarão, etc.).
Muitas das nossas regras para ser feliz ou ser aceito pelos outros são baseadas em ideias completamente preconceituosas que só nos levam ao sofrimento. Detectá-las nos será de grande ajuda.
3. A crítica pode nos fazer muito bem, mas a compaixão mais ainda
Você pode não estar ciente disso, mas muitas vezes você se desvaloriza, se critica e projeta em si mesmo pensamentos e ideias que outros lhe transmitiram. Você não percebe, mas sua voz crítica geralmente reflete as mensagens que algumas pessoas projetaram em você. Também o que a própria sociedade faz você acreditar (você deve ser perfeito, deve se esforçar mais, etc.).
Somente quando você abaixar o volume desse juiz interno é que vai curar sua autoestima e, para isso, você precisa ativar e dar presença a uma voz interna mais compassiva. Aquela que, longe de te afundar no poço por ter errado, gentilmente te levanta do chão para te lembrar que com tudo você aprende e que amanhã você fará melhor.
Para concluir, todos nós temos a capacidade de desenvolver uma visão mais saudável, brilhante e forte de nós mesmos. Precisamos apenas de estratégias adequadas e de um firme compromisso para promover essa mudança. Por que não começar hoje?
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- Beck, A. T. (1976). Cognitive therapy and the emotional disorders. New York: International University Press.
- Fennell, M. J. (1997). Low self-esteem: A cognitive perspective. Behavioural and Cognitive Psychotherapy, 25(1),
1-26. - Padesky, C. A. (1990). Schema as self-prejudice. International Cognitive Therapy Newsletter, 6(1), 6-7.
- McManus, Freda & Waite, Polly & Shafran, Roz. (2009). Cognitive-Behavior Therapy for Low Self-Esteem: A Case Example. Cognitive and Behavioral Practice. 16. 266–275. 10.1016/j.cbpra.2008.12.007.