Modelo de integração neurovisceral: a conexão cérebro-coração

O modelo de integração neurovisceral aborda como a conexão cérebro-coração ocorre e as implicações que ela tem no gerenciamento das nossas emoções.
Modelo de integração neurovisceral: a conexão cérebro-coração
Paula Villasante

Escrito e verificado por a psicóloga Paula Villasante.

Última atualização: 05 janeiro, 2023

Cerca de 150 anos atrás, Claude Bernard estabeleceu uma conexão entre o cérebro e o coração. O cientista propôs que o córtex cerebral pré-frontal tinha uma função reguladora sobre a atividade dos circuitos subcorticais relacionados à resposta motivada. Anos depois, Thayer e Lane (2000) chamaram essa conexão de modelo de integração neurovisceral.

Dessa forma, esse modelo estabeleceria uma rede de estruturas neurais relacionadas à regulação fisiológica, cognitiva e emocional. Essa rede é chamada de Rede Autônoma Central. Assim, essa rede faz parte de um sistema de regulação interna. Através dela, o cérebro pode controlar as respostas visceromotoras, neuroendócrinas e comportamentais, todas necessárias para o comportamento adaptativo.

Essa rede autonômica central da qual falamos inerva o coração através dos sistemas nervosos simpático e parassimpático. No entanto, essa interação é considerada a fonte da variabilidade da frequência cardíaca (VFC).

“Quando o coração é afetado, isso se reflete no cérebro, e o estado do cérebro se reflete novamente através do nervo pneumogástrico (vago) no coração, de modo que sob qualquer excitação haverá muita ação e reação mútua entre estes dois órgãos mais importantes do corpo”.
– Darwin –

O modelo de integração neurovisceral e a variabilidade da frequência cardíaca

Acontece que a VFC é, portanto, o resultado das interações do sistema nervoso autônomo (SNA) e do mecanismo intrínseco do funcionamento do coração. Portanto, a atividade do SNA é baseada no equilíbrio entre o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso parassimpático (SNP).

A ativação do SNS produz um aumento na frequência cardíaca por impulsos lentos de baixa frequência. Também é responsável pelas alterações na frequência cardíaca devido ao estresse físico e mental. Por outro lado, o SNP diminui a frequência cardíaca por impulsos elétricos vagais de alta frequência.

“Mesmo quando a frequência cardíaca (FC) é relativamente estável, o tempo entre dois batimentos (R-R) pode se diferenciar substancialmente. A variação no tempo entre os batimentos é definida como a variabilidade da frequência cardíaca (VFC)”.
– Achten e Jeukendrup –

Dessa forma, os mecanismos cardíacos intrínsecos e a atividade articular dos nervos simpáticos e parassimpáticos (vagos) atuam no nodo sinoatrial.

O modelo de integração neurovisceral

Para que o entendamos, para todos os efeitos práticos, a VFC é definida como a variação da frequência de pulsação durante um intervalo de tempo definido. A maneira mais comum de medi-la é a partir do eletrocardiograma (ECG).

Recentemente, as pesquisas sobre este modelo propõem que existe uma relação entre a VFC mediada pelo SNP e os índices cardíacos de atenção e emoção.

«Todos estes processos de regulação cognitiva, regulação afetiva e regulação fisiológica podem estar relacionados entre si no serviço de comportamento dirigido ao objetivo»
– Tayer and Lane, 2000 –

É assim que pesquisas recentes estabelecem essa conexão entre o cérebro e o coração. Vários estudos mostraram uma redução da VFC em algumas patologias caracterizadas por regulação emocional inadequada.

Regulação fisiológica

Dessa forma, o modelo de integração neurovisceral propõe uma associação entre a regulação de certos sistemas com função vagal e a VFC. Assim, determinados fatores de risco para doenças cardiovasculares ou ataques cardíacos estariam relacionados a uma diminuição na função do nervo vago.

Fatores de risco biológicos

  • Hipertensão.
  • Diabetes.
  • Colesterol.

Fatores de risco relacionados ao estilo de vida

  • Fumar.
  • Sedentarismo.
  • Excesso de peso.

Fatores de risco não modificáveis

  • Idade.
  • Histórico de doenças cardiovasculares.

Outros fatores de risco

  • Inflamação.
  • Fatores psicossociais.

Regulação emocional

De acordo com o modelo de integração neurovisceral, a VFC também tem relação com a regulação emocional. As emoções refletem o estado de ajuste de cada pessoa para se adaptar às mudanças vitais do seu ambiente.

Assim, recentemente foi descoberto que indivíduos com níveis mais elevados de VFC em repouso, comparados com aqueles com níveis de repouso mais baixos, produzem respostas emocionais mais apropriadas de acordo com o contexto, mediante respostas de sobressalto moduladas pela emoção.

Além disso, o aumento da VFC associado à regulação emocional é acompanhado por alterações concomitantes no fluxo sanguíneo cerebral em áreas identificadas como importantes na regulação emocional e nos processos inibitórios.

Expressar diferentes tipos de emoções

Regulação cognitiva

Finalmente, as pesquisas determinaram as relações entre a VFC e a regulação cognitiva. Assim, muitas das tarefas que realizamos diariamente implicam processos cognitivos. Algumas delas são:

  • Memória de trabalho.
  • Flexibilidade mental.
  • Atenção sustentada.

Além disso, as pesquisas concluíram após alguns estudos que quanto maior a VFC, melhores são as funções executivas de desempenho em todos os níveis. Esta é uma informação valiosa para a compreensão da nossa psique e do nosso corpo em geral.


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  • Achten, J., & Jeukendrup, A. E. (2003). Heart rate monitoring. Sports medicine, 33(7), 517-538.
  • Charles, D., Paul, E., & Phillip, P. (1872). The expression of the emotions in man and animals. Electronic Text Center, University of Virginia Library.
  • Fonfría, A., Poy Gil, R., Segarra, P., López, R., Esteller, À., Ventura, C., … & Moltó Brotons, J. (2011). Variabilidad de la tasa cardíaca (HRV) y regulación emocional.
  • Thayer, J. F., & Lane, R. D. (2009). Claude Bernard and the heart–brain connection: Further elaboration of a model of neurovisceral integration. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 33(2), 81-88.

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