Movimento LGBTQIA+: em que consiste e qual é a sua história?
Se olharmos de perto, a heterossexualidade como norma parece ser mais um mito, a imposição de um desejo, do que uma realidade. Por meio da arte, da literatura e de testemunhos históricos, é possível traçar a presença de sexualidades dissidentes que foram perseguidas e banidas, obrigadas a viver na escuridão do armário. A história do movimento LGBTQIA+ reúne essa discriminação histórica para transformá-la em uma luta política pelo direito de existir em seus próprios termos, de amar em liberdade.
É uma história de muitas histórias, pois em cada país do mundo ocidental as lutas, conquistas e transformações alcançadas pelo movimento foram diferentes. No entanto, é uma história que se articula coletivamente em torno do amor, da resistência e, acima de tudo, do orgulho.
Stonewall: o marco da fundação
A data: 28 de junho de 1969. Os tumultos que ocorreram neste dia no Stonewall Inn, um bar localizado no Greenwich Village de Nova York, podem ser vistos como um ponto de inflexão histórico em termos de diversidade sexual.
O movimento pelos direitos civis e os movimentos de libertação das mulheres foram o terreno fértil perfeito para que outras demandas sociais ocorressem.
Em resposta às contínuas batidas policiais e cercos à comunidade gay, em 28 de junho aqueles em Stonewall decidiram dizer: chega!
As manifestações e motins duraram três dias; no entanto, o mais importante é que lá foram lançadas as bases para o que seria uma das lutas políticas mais importantes da segunda metade do século XX.
Pouco depois do levante de Stonewall, organizações de ativistas gays como a Frente de Libertação Gay e a Aliança de Ativistas Gays apareceram na cena política. Essas organizações foram fundamentais para estabelecer os pontos de encontro e desacordo dentro da comunidade homossexual, as lutas conjuntas, as diferenças de identidade e a construção de uma agenda política para garantir que nem a identidade nem a orientação sexual fossem elementos que justificassem a discriminação, a violência e a perseguição.
Um ano depois, em 28 de junho de 1970, a primeira marcha do Orgulho Gay aconteceu em Nova York e Los Angeles e se espalhou progressivamente pelo planeta, tornando-se uma data para celebrar a diversidade e tornar visíveis as lutas, as conquistas e demandas ainda pendentes.
LGBTQIA+: um movimento pela diversidade
Cada uma das letras que compõem a sigla do movimento LGBTQIA+ fala tanto sobre as orientações sexuais quanto sobre as diferentes construções identitárias em torno do gênero.
Nos primeiros dias do movimento, o termo “gay” parecia englobar todas as expressões de dissidência sexual. No entanto, logo ficou claro que era necessário tornar visíveis as discriminações e demandas específicas de cada uma das identidades que compunham o que nos anos 70 (e mesmo nos anos 80) era chamado genericamente de comunidade gay.
Assim, passo a passo, foi gestada a sigla que conhecemos hoje:
- L corresponde à orientação sexual lésbica, mulheres que se sentem sexualmente e afetivamente atraídas por outras mulheres.
- G significa orientação sexual gay ou homossexual, homens que se sentem sexualmente e afetivamente atraídos por outros homens.
- B corresponde à bissexualidade, que pode ser entendida como atração sexual e afetiva tanto por pessoas do mesmo sexo quanto por pessoas de sexo diferente do seu.
- T nomeia pessoas transexuais e transgêneros, ou seja, pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele atribuído ao nascer.
- I se refere a pessoas intersexo, e busca descrever aquelas pessoas que nasceram com características sexuais anatômicas que não correspondem às expectativas típicas associadas ao masculino ou feminino. Assim, o intersexo não é uma identidade de gênero nem uma orientação sexual.
- Q vem da palavra queer, um termo genérico que agrupa todas as identidades não binárias, como gênero fluido e gênero neutro.
- O sinal +, acrescentado recentemente, refere-se a identidades como pansexualidade, assexualidade e outras que não se sentem refletidas nas letras que compõem a sigla, mas que vivem fora do cis/heteronorma.
Orgulho: a importância da visibilidade
Em 1978, o artista e ativista dos direitos gays Gilbert Baker desenhou o icônico arco-íris que agora conhecemos como a bandeira do orgulho LGBTQIA+. Baker surgiu pela primeira vez com sua criação na Marcha do Orgulho Gay daquele ano na cidade de San Francisco, e desde então se tornou um importante símbolo da diversidade sexual.
Embora o design original de Baker apresentasse oito listras, a bandeira atual tem seis listras. Nela, cada cor tem um significado associado: o vermelho representa a vida, o laranja simboliza saúde e cura, o amarelo se refere aos raios do sol, o verde à natureza, o azul simboliza a harmonia e serenidade e o violeta representa o espírito.
A quantidade de locais onde esta bandeira é hasteada, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, é um símbolo de todo o percurso percorrido até agora pelo movimento LGBTQIA+, da importância da visibilidade e, é claro, da necessidade de persistir na luta pelo reconhecimento e respeito à diversidade sexual.
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