No meu coração mando eu: desde que me levanto até eu ir para a cama

No meu coração mando eu: desde que me levanto até eu ir para a cama

Última atualização: 30 junho, 2017

Nosso coração não deve ter dono, nem parcelas alugadas ou cantos fornecidos. É nosso, tem apenas um único proprietário e somos nós mesmos, porque graças a ele promovemos a nossa autonomia, graças a ele bombeia o suficiente amor próprio e o oxigênio da autoestima para poder amar plenamente, para podermos ser donos de nossos caminhos e arquitetos uma vida digna.

Alcançar esta autonomia pessoal onde por sua vez esteja integrado o sentimento de intimidade com as pessoas significativas que amamos não é exatamente uma tarefa fácil. De fato, se olharmos para esse esquema mais clássico e tradicional dos relacionamentos em casal, iremos perceber que autonomia e intimidade têm sido declarados, de alguma forma, como incompatíveis.

“Um coração grande, nenhuma ingratidão fecha, nenhuma indiferença cansa.”
-Leon Tolstoy-

Por outro lado, não faltam as correntes filosóficas que nos lembram de que ninguém está livre de influências na hora de marcar o destino e traçar o caminho. Estamos todos sujeitos a certas normas sociais, culturais e até mesmo ideológicas. Mas, longe de internalizar esse tipo de enfoque em momentos deterministas e um pouco carentes de otimismo, sempre é bom lembrar o que dizem os estudos sobre psicologia individual.

Nós temos que fazer um esforço para incorporar em nossos pilares um compromisso genuíno para com nós mesmos. A autonomia pessoal e a capacidade de decidir o que queremos e o que não queremos em cada momento é um princípio básico de bem-estar psicológico, que merece parte de nosso esforço diário. Nosso coração, entendido como essa dimensão metafórica onde está contido nosso mundo emocional e até mesmo a nossa identidade, é um universo em constante crescimento.

Permitamos então que se expanda, se sentindo sempre dono de si mesmo, mas, ao mesmo tempo, sendo humilde e sensível o suficiente para saber se conectar com as pessoas que o cercam de forma autêntica. Porque no equilíbrio está a mágica.

Mulher segurando flor

Perdemos a autonomia nas pequenas decisões diárias 

Deixar de lado o projeto profissional porque nosso parceiro está pedindo. Renunciar ao amor da nossa vida porque não é do agrado de nossos pais. Mudar nossos passatempos porque nossos amigos sempre têm outros planos. Render-nos antes do tempo, porque ninguém apoia nossos objetivos (…)

Estes seriam alguns exemplos genéricos e amplos do que se supõe atentar contra a nossa própria dignidade, nossa autoestima e identidade. Tal sabotagem, e isso é importante considerar, não parte exclusivamente das pessoas que nos rodeiam; vem também, e em muitos casos especialmente, de nós mesmos.

Não devemos culpar apenas quem nos coloca suas rédeas de controle e suas cercas. Assumamos a responsabilidade ao entender que quem cede e sucumbe a tal prisão e violação somos também nós mesmos.

Por outro lado, lembre-se de que quem deixa o leme da vida nas mãos de outras pessoas não o faz de forma pontual ou espontânea. Na verdade, é um exercício diário que descuidamos voluntariamente, como quem um dia decide parar de tomar banho, ir ao banheiro, escovar o cabelo ou aparar suas unhas. É higiene psicológica e um princípio de saúde emocional que procrastinamos e que inclusive cedemos para os outros. Não é o adequado.

Mulher regando flores

A dignidade própria não deve ser tocada por mãos alheias. Ninguém pode (ou deve) plantar as sementes de seus desejos egoístas no nosso coração, nem nos vender metas que não se encaixam com os nossos valores. Além disso, não importa se essas mãos acostumadas a boicotar a nossa identidade sejam as de nosso parceiro, nossos pais ou nosso suposto melhor amigo.

Existem territórios que são privados e que ninguém pode ultrapassar. Atender as propriedades de nosso ser é algo que diz respeito a nós mesmos, é uma tarefa de higiene diária que não pode ser negligenciada em nenhum momento.

Respire, conte até 10 e recupere a sua autonomia

A doutora Carol D. Ryff, da Universidade da Pensilvânia, é um dos maiores expoentes da psicologia positiva. Entre 1989 e 1998 ela desenvolveu o interessante modelo do “Bem-estar Psicológico”, que nos dias de hoje continua sendo uma das contribuições mais gratificantes para o crescimento pessoal das pessoas. Tem muito a ver com o princípio da saúde do qual acabamos de falar anteriormente.

“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.”
– Saint-Antoine Exupéry –

Nós propomos refletir sobre seus principais pontos para começar a trabalhar em sua própria autonomia emocional e psicológica a partir de agora.

Mulher plena e feliz

O modelo de bem-estar psicológico que todos nós deveríamos praticar

Um dos pontos mais interessantes da abordagem da doutora Ryff é a que tem a ver com a neurociência. Como ela mesma explica, quando algo acontece ao nosso redor que vai contra os nossos valores ou quando alguém nos impõe a sua opinião ou nos obriga a fazer algo que não gostamos, quem reage instantaneamente é o nosso sistema límbico.

Esta estrutura do cérebro relacionada com as emoções é como um alarme. É essa sirene interior que nos sussurra aquilo de “cuidado, algo está errado”. Instantaneamente surge o estresse e o cortisol navegando em nossa corrente sanguínea. O ideal nesses casos é que fôssemos capazes de perceber essa sensação, e simplesmente, contar até 10. Depois disso, reagir de acordo com nossas necessidades reais.

Não é fácil, mas podemos conseguir pouco a pouco se aprendermos a integrar em nossa vida estes princípios de bem-estar psicológico.

  • Praticar a autoaceitação diária.
  • Ter como prioridade estabelecer relações positivas e enriquecedoras com as pessoas. Se uma relação específica, seja de amizade ou de casal, não harmoniza com estes princípios, considere fazer uma mudança.
  • Ter um propósito de vida claro e objetivo. Lutar por ele.
  • Investir em seu crescimento pessoal. Cada momento é adequado para realizá-lo.
  • Manter um controle adequado sobre a sua realidade. É você quem conduz, orienta, decide, inicia, termina, delimita, e você quem deve se responsabilizar por suas decisões.

Para concluir, estamos conscientes de que estas estratégias não são alcançadas de um dia para o outro. É preciso vontade, coragem e perseverança. No entanto, lembre-se, se em algum momento você se sentir bloqueado ou notar que está perdendo a autonomia, aplique o remédio mais clássico de todos: respire, conte até 10 e REAJA, porque em seu coração só manda VOCÊ.

Imagens cortesia de Orestes Bouzon.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.