O interessante conceito de infância em Walter Kohan

Walter Kohan argumenta que a infância é uma forma de consciência que pode ser mantida viva ao longo do tempo. Vamos nos aprofundar nesse conceito e em outras ideias levantadas pelo filósofo.
O interessante conceito de infância em Walter Kohan
Sergio De Dios González

Revisado e aprovado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Escrito por Edith Sánchez

Última atualização: 15 março, 2023

Walter Kohan é um filósofo especializado em questões educacionais. Ele abordou o conceito de infância como poucos, contribuindo com uma série de ideias interessantes e inovadoras. Hoje, esse pensador trabalha como “educador de bebês” de 6 a 70 anos na cidade do Rio de Janeiro (Brasil).

Para Kohan, a infância não é uma fase da vida, mas uma forma de consciência. Ele acha que, embora seja o primeiro momento que cada pessoa experimenta, também constitui um estado que pode e deve continuar a ser cultivado. Ele está convencido de que só assim a vida se torna interessante. Também que todo ser humano deve ser estimulado a filosofar.

O especialista também destaca os benefícios do método socrático de ensino. Em particular, considera que o professor não deve impor sua visão de mundo aos bebês (de qualquer idade), mas acompanhá-los na busca de seus próprios conhecimentos e verdades. A seguir veremos com mais detalhes o conceito de infância em Kohan e suas implicações na educação.

«Penso, talvez, que o mais importante é que a filosofia me permitiu recordar que sou criança, recordar a minha infância e ver a minha infância, não como algo passado e que tenho de ultrapassar para ser adulto, pelo contrário, como uma possibilidade de ser mais adulto como quero ser do que fui».

-Walter Kohan-

A sensibilidade infantil deve ser aplicada aos adultos
Kohan refere-se à infância como uma condição aberta ao surpreendente.

Walter Kohan e a infância

Walter Kohan pensa que a infância é, antes de tudo, um estado. É uma condição de liberdade , aberta ao surpreendente e curiosa diante do desconhecido. Está intimamente associada à plenitude do ser e pode ser mantida viva ao longo do tempo. Kohan aponta que o conceito de infância compreende pelo menos as três conotações seguintes:

  • Cronos. Refere-se à temporalidade da infância e está associada ao conceito clássico da mesma. A ciência trata disso. Aborda essencialmente o desenvolvimento biológico e psicossocial que ocorre nos primeiros anos de vida.
  • Aión. Tem a ver com o passar do tempo, com a evolução. Mais exatamente, com todas aquelas experiências que invadem o estabelecido e o alteram. O tempo da criação, da descoberta, da inovação. É uma forma pela qual a infância se expressa ao longo da vida.
  • Kairós. É um período indeterminado, no qual algo importante acontece. Esse “algo” não tem utilidade ou benefício imediato, mas cria uma certa desordem ou excesso que leva à plenitude. Ou seja, aqueles momentos em que a emoção nos sequestra, as borboletas no estômago ou o pulsar do universo nas veias. Felicidade em toda a sua expressão.

Infância e escola

Kohan garante que a escola tradicional não é feita para transformar, mas para reproduzir o que é aceito em uma sociedade. Parte-se da ideia de que a infância não tem voz ou nada tem a dizer. Quem tem o uso da palavra, basicamente, são os professores e a instituição. Parece que sua função é “tirar as crianças da ignorância” ou do “erro”.

Nessa concepção, a escuta é relegada, exceto no que pode atrapalhar o processo de transmissão. No entanto, para alguém que está prestando atenção, a criança sinaliza algo novo, proporcionando até novas maneiras de falar e nomear as coisas. Há uma lucidez infantil que deve ser compreendida e não tanto controlada.

O acima não se aplica apenas à criança como tal. Como vimos, para Kohan, a infância não termina quando se atinge certa idade, mas está sempre presente. Particularmente, em momentos de plenitude emocional, criação e invenção. Também nestes casos deve ser ouvida, em vez de controlada.

O filósofo Walter Kohan considera a escola como uma entidade reprodutiva que busca corrigir a autenticidade das crianças
O filósofo sugere ouvir as crianças, em vez de controlá-las e fingir que não têm voz.

Sensibilidade para a infância

Mais do que indicar um método ou implantar uma nova concepção, o que Kohan pretende é promover uma sensibilidade para a infância. Isso, é claro, deve começar com pais e professores, com crianças pequenas. Sua função é mais deixá-las ser e acompanhá-las do que condicioná-las.

A sensibilidade para a infância também deve se aplicar aos adultos. A expressão da criança genuína em um adulto deve ser bem-vinda e celebrada. O que é infantil não é o capricho, nem as manifestações de egocentrismo, mas o espontâneo, a abordagem do brincar, a exploração do possível e a vivência profunda das emoções.

A infância, diz Walter Kohan, é, antes de tudo, fonte de alegria e liberdade. Na criança pequena é preciso protegê-la e no adulto, reivindicá-la. Talvez assim gostássemos mais da aventura de viver.


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