O luto confuso: "Por que você me deixou?"

O luto confuso tende a complicar o processo de aceitar da realidade e seguir em frente. Embora o ideal seja que quem rompe o relacionamento explique os seus motivos, nem sempre é assim que acontece.
O luto confuso: "Por que você me deixou?"
Gema Sánchez Cuevas

Escrito e verificado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Última atualização: 15 junho, 2021

Muitas separações ocorrem sem uma explicação do motivo e, às vezes, nem sequer da forma. A pessoa que está se separando pode não querer magoar o outro ou pode simplesmente ter medo da reação dele. Isso deixa dúvidas que muitas vezes levam a um luto confuso.

Para o bem ou para o mal, os relacionamentos não ocorrem de forma simétrica. Além disso, os dois não sentem o mesmo e, em muitos casos, as mudanças não vão na mesma direção. É relativamente comum que um dos dois queira terminar, mas o outro não. Isso obviamente causa dor em ambos, mas é mais intenso em quem vê seus desejos contrariados.

A essa dor, muitas vezes se acrescenta uma dificuldade adicional: quem vai embora não sabe ou não quer dizer por que está fazendo isso. Isso pode complicar o enfrentamento do outro, pois a tristeza da perda é agravada por uma pergunta sem resposta: “Por que você me deixou?” Isso é o que dá origem a um luto confuso.

“Só as pessoas capazes de amar intensamente podem sofrer uma grande dor, mas essa mesma necessidade de amar serve para neutralizar seus lutos e as cura.”
-Liev Tolstói-

Casal terminando namoro

Uma situação inesperada

O mais comum é que a pessoa que não quer terminar, ou que é abandonada, sinta uma grande surpresa diante da situação. Quase ninguém vê o fim chegar, às vezes porque se recusam a ver, mas com maior frequência porque há uma deterioração na comunicação do casal e uma certa insensibilidade à relação.

Também há casos em que o outro é responsável por esconder deliberadamente suas intenções até que considere que é a hora certa. Isso acontece com muita frequência em casos de infidelidade.

Da mesma forma, há casos em que a pessoa que não toma a decisão é excessivamente dependente ou muito controladora e o outro opta mais por “fugir” do que terminar. O medo das reações que sua decisão pode suscitar o leva a esconder suas intenções até que elas se tornem um fato.

O comum em todos esses casos é que um dos dois membros do casal não esteja pronto para terminar, mas o outro sim. Em geral, não há tempo para se preparar. Nem sempre, mas em muitas ocasiões, o que se segue é um luto confuso, ou seja, um processo de assimilação da situação marcado pela dúvida.

O luto confuso

O luto confuso tem uma dose de estupor mais elevada do que o normal. Desde o início, é marcado por aquele pensamento de “não consigo acreditar”. É uma forma de expressar uma atitude de negação em relação aos fatos, que ao mesmo tempo protege de forma equivocada do sofrimento.

A partir de então, a pergunta passa a ser o sinal predominante. Muitas vezes o “por que você me deixou?”  torna-se uma obsessão. A questão paira o tempo todo na mente, e é assim que muitas pessoas se tornam espiões de seus ex.

Também é o caso daquelas que têm extrema dificuldade em assimilar os fatos e depois reproduzem comportamentos insistentes para não permitir o término com seus ex-companheiros. Repetidamente, elas procuram o outro para que responda à pergunta que as impede de seguir em frente.

Mulher triste

Por que você me deixou?

Na maioria das vezes, não vale a pena ir atrás dessa resposta. Se o outro não se explicou a tempo, provavelmente nunca o fará. Talvez tenha vergonha do seu egoísmo ou dos seus erros. Talvez se sinta vulnerável e não queira que a culpa o faça voltar atrás.

Também é possível que não haja um motivo específico, ou que, se houver, não seja muito apresentável: “Eu cansei”. Portanto, o outro geralmente não é um bom recurso quando se trata de resolver um luto confuso. Por que fomos abandonados? Os motivos mais frequentes são estes:

  • Outro amor. O motivo mais comum para o rompimento é se apaixonar por outra pessoa. O mais provável é que neguem, mas é isso que costuma acontecer.
  • Tédio. O relacionamento se torna rotineiro e um dos dois não consegue mais tolerar a estagnação. Raramente se admite ao outro que sua companhia não desperta mais motivação.
  • Exaustão emocional. Discutir demais ou ter que preencher uma lacuna muito grande pode ser exaustivo. Pode haver amor, mas o cansaço é mais forte.
  • Crises fortes. A morte de uma pessoa amada, a falência ou alguma crise de vida podem provocar o desejo de virar a página e começar do zero.
  • Mudanças existenciais. Alguma mudança pessoal, uma nova religião ou um novo interesse podem fazer com que o relacionamento não faça mais sentido no novo contexto.
  • Desilusão. Acontece quando os projetos iniciais não são cumpridos, quando a fé em um futuro juntos se esgota porque muitas decepções se acumularam ao longo do caminho.

Em cada luto, há perguntas que permanecem sem resposta. No luto confuso, pode ser mais importante olhar para dentro de si mesmo, porque é aí que podem ser encontradas respostas mais relevantes do que aquelas que quem nos deixou pode nos dar.


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  • Montoya, P. (2013). Duelo. Archipielago. Revista cultural de nuestra América, 11(41).


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