O perdão como agente de libertação pessoal

O perdão como agente de libertação pessoal

Última atualização: 17 março, 2015

Em uma das lendas sobre Buda, uma mulher afligida pela perda do seu filho recorre a ele para que o ressuscite. Ele responde que é possível fazê-lo, ainda que seja difícil.  Ela aceita fazer o que for necessário para salvar seu filho.  Buda lhe ordena que traga sementes de mostarda de uma casa que não tenha sido tocada pela morte.  Depois de um dia angustiante indo de casa em casa, a mulher se dá conta de que não existe tal casa e que, de alguma forma, todos fomos tocados pela desgraça.

É muito raro, para não dizer que não existe, encontrar um ser humano que não tenha sido ferido por algum trauma ou evento difícil.  As vezes, estes eventos trazem consequências que podem durar a vida toda.  E aí reside a importância do perdão.

OK, te perdoo…

Culturalmente, aprendemos que o perdão é dar aos outros algum tipo de absolvição pela sua falta de tato, seu mau comportamento ou simples descuido conosco. Este perdão que damos aos outros são palavras ocas para que a superfície da situação se tranquilize, enquanto no fundo da nossa mente permeiam correntes poderosas que nos empurram em diferentes direções.

Este tipo de perdão não nos serve para criar algo de valor em nossas vidas.  Ao invés disso, podemos aspirar a entender o perdão como um processo para adquirir a paz interior frente a uma situação difícil.

Em busca do verdadeiro perdão

No livro “Perdoar é Curar”, o autor Fred Luskin revela que o verdadeiro perdão tem no seu coração as seguintes características:

  • Trata-se de encontrar a paz dentro de si mesmo, e na verdade não tem nada a ver com os outros.
  • É um processo no qual aprendemos a conviver com o passado de uma forma diferente, enfocados mais no nosso poder do que na nossa impotência.  Perdoar é nos convertermos em heróis da nossa vida, e não em vítimas.
  • Aceitar profundamente que não se pode mudar o passado, mas tendo consciência de que se pode sim mudar a forma como se reage a ele.
  • Você tem o poder de mudar seus sentimentos, e a responsabilidade de fazê-lo se alguma coisa na sua vida não está funcionando.
  • Encontrar a paz e o perdão não significa que o que ocorreu seja correto, permitido, nem que se admite qualquer comportamento.  Significa que, mesmo que isso tenha acontecido, podemos nos livrar da carga emocional e seguir em frente com nossas vidas.
  • Aprender a não tomar as coisas de forma tão pessoal, sabendo reconhecer que todos sofremos e temos que aprender a reencontrar nosso equilíbrio.

E este último ponto talvez seja o mais importante, pois chega ao cerne da questão e tem a capacidade de tocar nossos corações.

O que quer que tenha acontecido, certamente não foi somente conosco

Podemos reconhecer que o que nós vivemos, por mais difícil e tormentoso que possa parecer, é uma experiência compartilhada com a humanidade. Isto certamente ocorreu e continuará acontecendo, já que é parte da experiência humana, por mais incorreto que seja. Isto nos une e permite que não levemos as coisas para o lado pessoal.  Nos ajuda a dar mais importância ao que está diante de nós, do que ao que ficou pra trás.  Nisto reconhecemos nossa força e capacidade de superar as adversidades e deixar o que não nos serve pra trás.

Voltando a lenda, o final conta que:  esta mulher, ao chegar à conclusão de que era impossível mudar o que tinha acontecido, já que era muito comum viver uma perda profunda, encontrou a paz que ninguém lhe poderia ter dado.  Assim como essa mulher, cada um de nós pode encontrar paz onde somente se experimenta o sofrimento.

Foto cortesia de glamquotes.com


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