O poder de aprender com a experiência

A experiência não é o que nos acontece, é a interpretação que fazemos do que nos acontece. Isso, e nada mais, fará a diferença quando se trata de ter uma vida mais ajustada, feliz e realizada.
O poder de aprender com a experiência
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Aprender com a experiência é o maior poder de qualquer organismo vivo. Não apenas os humanos fazemos isso, mas também animais, plantas e até bactérias realizam esses processos de indução para se adaptarem melhor a seus ambientes complexos. No entanto, quando se trata de seres humanos, há uma nuance curiosa que coloca esse tema em uma dimensão interessante.

John B. Watson, o famoso psicólogo e pai do behaviorismo, costumava dizer que todos os comportamentos são o resultado do processo de aprendizagem. As pessoas variam seus comportamentos com frequência com base na experiência que adquirem. No entanto, e aí vem o fato marcante, nem sempre fazemos induções corretas a partir das experiências vividas.

Isso explicaria por que sempre derivamos em relacionamentos afetivos que nos trazem infelicidade. Somos aquelas criaturas que não apenas tropeçam continuamente com a mesma pedra, mas também se apaixonam por ela. Por alguma razão singular, nem todas as experiências que o destino nos traz não servem para obter um aprendizado válido.

Como disse Oscar Wilde, a experiência não tem valor ético, é simplesmente o nome que damos aos nossos erros.

Estudos recentes nos mostram que, durante a infância, fazemos melhores induções com nossa experiência do que quando somos adultos.

Menina olhando para outras crianças brincando pensando em aprender com a experiência

Aprendizagem que vem da experiência

Diz o ditado que o pássaro velho não entra na gaiola. Talvez sim, talvez os animais e as crianças sejam as criaturas mais válidas quando se trata de aprender com a experiência. Eles fogem do que dói e aprendem quais estímulos e contextos são os mais enriquecedores para interagir.

Porém, a complexidade de se chegar à idade adulta é que a vida se torna mais complexa e nem sempre é fácil fazer boas deduções. Assim, existe algo comum que conhecemos bem na psicologia. Quando várias pessoas passam pela mesma experiência, às vezes constroem interpretações diferentes da experiência e assumem uma aprendizagem oposta.

A causa é que cada um olha e percebe a realidade desde sua própria perspectiva e personalidade. Aprender com a experiência é um grande poder, mas deve ser feito da forma mais objetiva e lógica possível. Embora tal tarefa não seja tão fácil.

Porque, como apontou o filósofo Gottfried Leibniz em sua época, a experiência do mundo não consiste na quantidade de coisas que foram vistas, mas na quantidade de coisas que se refletiram em profundidade.

Os adultos parecemos mais irracionais quando se trata de aprender com a experiência

O Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano em Berlim, Alemanha, conduziu um estudo revelador recentemente. Uma coisa que ele percebeu é que os bebês têm a capacidade intuitiva de fazer julgamentos estatísticos corretos desde tenra idade. Essa habilidade também é demonstrada pelos macacos, que são muito hábeis em inferir informações e tomar decisões quando confrontados com várias probabilidades.

A cognição na primeira infância é muito sofisticada, como a de alguns animais. Eles são criaturas capazes de fazer boas inferências intuitivas. Agora, à medida que crescemos na idade adulta, o poder de aprender com a experiência enfraquece. Somos talvez “mais tolos”? Obviamente, a resposta é não.

Ao atingir a idade madura, o ser humano filtra cada experiência por meio de sua personalidade, de seu estado emocional e de suas necessidades. Haverá quem possa deduzir lições valiosas de sua experiência de maneira lógica e racional. No entanto, nós, pessoas, somos o resultado de nossas emoções, nossos preconceitos cognitivos e nossas atitudes.

Nem sempre é fácil aprender com o que nos acontece quando a mente não nos permite analisar as coisas analítica e objetivamente.

“A experiência é o bastão dos cegos.”

Jacques Roumain

Para aprender com o que acontece com você… Conheça a si mesmo primeiro

Lembre-se da inscrição do templo de Apolo em Delfos, Temet Nosce ou ‘conhece a ti mesmo’. Poucas mensagens deixadas por nossos ancestrais são tão úteis e transcendentes ao mesmo tempo. O autoconhecimento é a raiz que tudo nutre, a luz que tudo ilumina.

Um maior conhecimento de nós mesmos nos permite otimizar o processo de aprendizagem com a experiência. As pessoas são um quebra-cabeça feito de nossas experiências passadas, nossos pensamentos, emoções, necessidades, sonhos, um corpo físico e uma consciência.

Devemos entrar em contato com cada uma dessas áreas e navegar nelas. Aos poucos, vamos traçando uma visão mais realista de quem somos. No momento em que nos conhecermos como merecemos, aprenderemos com a experiência conforme necessário. A partir daí, o que deduzirmos de cada evento vivido nos ajudará a construir um caminho mais seguro e enriquecedor.

Existem experiências dolorosas que retardam nosso progresso individual, mas ainda podem nos fornecer algumas lições importantes.

Mulher no campo com flores amarelas pensando em aprender com a experiência

Aprenda com experiências dolorosas

Há quem diga que a pessoa só descobre o que é a vida quando enfrenta as adversidades. Esta não é uma abordagem correta. As pessoas aprendem com eventos complicados, mas também com momentos felizes e momentos sem muita importância.

Somos organismos orientados para a experiência e sempre tiramos conclusões de cada coisa que vemos, ouvimos e sentimos. Agora, há outro fato indiscutível. Existem experiências dolorosas que nos bloqueiam e nos atrasam. Os desafios do destino nos colocam à prova e por mais dolorosos que sejam alguns acontecimentos, é possível obter alguns ensinamentos.

A chave é não parar de aprender, apesar dos anos, apesar dos estragos. Só a mente humilde que se conhece e se permite aprender a cada dia avança com dignidade e serenidade no caminho da vida.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Schulze C, Hertwig R. A description-experience gap in statistical intuitions: Of smart babies, risk-savvy chimps, intuitive statisticians, and stupid grown-ups. Cognition. 2021 May;210:104580. doi: 10.1016/j.cognition.2020.104580. Epub 2021 Mar 2. PMID: 33667974.
  • Skavronskaya L, Moyle B, Scott N. The Experience of Novelty and the Novelty of Experience. Front Psychol. 2020 Feb 26;11:322. doi: 10.3389/fpsyg.2020.00322. PMID: 32174872; PMCID: PMC7057242.
  • Lifshitz M, van Elk M, Luhrmann TM. Absorption and spiritual experience: A review of evidence and potential mechanisms. Conscious Cogn. 2019 Aug;73:102760. doi: 10.1016/j.concog.2019.05.008. Epub 2019 Jun 19. PMID: 31228696.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.