Graças ao psicólogo e pedagogo Howard Gardner, pudemos saber que não existe apenas um tipo de inteligência, e sim oito. Até…
O que é a memória declarativa?
A memória é o relato da nossa história. Por meio dela sabemos quem somos, e também como nos projetamos para o futuro. Por causa dela também sabemos como dirigir ou andar de bicicleta. Seu conteúdo é um dos nossos mais valiosos recursos. Hoje, vamos falar sobre um tipo de memória especial, a memória declarativa.

Para fins teóricos, a memória é dividida em memória não declarativa ou procedimental, relacionada com a aprendizagem de habilidades, e em memória declarativa.
Na memória não declarativa armazenamos procedimentos como, por exemplo, dirigir, andar de bicicleta ou fazer as tarefas mais rotineiras no computador.
Por outro lado, a memória declarativa, também chamada de memória explícita, é a que armazena as nossas memórias que podem ser evocadas de forma consciente.
Ela, por sua vez, divide-se em duas. Dentro da memória declarativa temos a memória episódica e também a memória semântica.
Memória declarativa episódica
A memória episódica guarda as lembranças relacionadas com eventos pessoais. Dessa forma, é a responsável por nos lembrarmos de uma viagem gostosa ou das tardes durante a infância nas quais brincávamos com os amigos no parque. Ela nos permite relatar nossas recordações.
Essa informação está localizada no tempo e no espaço uma vez que a força do contexto que rodeia a lembrança é muito forte. Além disso, também é importante destacar que a referência da memória é a própria pessoa.
Portanto, muitas vezes o gatilho que faz com que uma lembrança retorne à nossa consciência são as circunstâncias, como em que momento ou em que lugar algo aconteceu.
Devido a essa forte conexão temporal, a memória episódica é mais suscetível ao ruído e à interferência. É por isso que muitas vezes ocorrem distorções nos detalhes de memórias autobiográficas, por exemplo, causando confusão entre os lugares ou o espaço de tempo.
Isso acontece principalmente quando alguém pede detalhes sobre algum evento, como é o caso dos depoimentos em julgamentos.
Nesse caso, as expectativas que a outra pessoa tem em relação ao nosso discurso, a possível influência de perguntas ou o nosso desejo de agradar o interlocutor podem causar modificações na memória.
Estruturas cerebrais envolvidas
O lobo temporal medial, onde se encontra o hipocampo, está relacionado com a criação de novas memórias episódicas.
O córtex pré-frontal parece ter uma grande importância na hora de codificar as memórias espacial e temporalmente. Ou seja, ele ajuda a lembrar onde e quando uma experiência aconteceu, ajudando a organizar melhor as lembranças.
Transtornos da memória episódica
O principal transtorno que afeta a memória episódica é a doença de Alzheimer. A amnésia em relação às memórias aparece logo nas primeiras fases da doença, pois o hipocampo é uma das primeiras estruturas afetadas.
A falha na memória episódica também é comum na amnésia por envenenamento por mariscos, podendo causar danos até mesmo irreversíveis. O mesmo pode ser dito em relação à Síndrome de Korsakoff.
O estresse e o consumo de drogas, como o ecstasy ou o MDMA, também se relacionam com um comprometimento significativo desse tipo de memória.
Memória declarativa semântica
Esse tipo de memória contém a informação sobre conhecimento, sobre a língua e sobre os fatos do mundo.
Atuando como uma enciclopédia ou um dicionário, essa é a memória que lhe permite saber, por exemplo, o que é uma banana e o que é uma fruta, e saber também qual é a relação entre essas duas coisas.
Esse tipo de conhecimento tem um caráter genérico e descontextualizado, ainda que frequentemente possa estar ligado a uma memória episódica, e isso pode até mesmo facilitar a recuperação da memória.
Por exemplo, você pode saber que a praia de Copacabana fica no Rio de Janeiro porque foi para lá nas férias passadas.
Estruturas cerebrais envolvidas
Há autores que defendem que a memória semântica se baseia nas mesmas estruturas cerebrais que a memória episódica. No entanto, há estudos que não encontram uma relação entre o hipocampo e a memória semântica, mas encontram com a episódica.
Outros autores relacionam essa memória com o neocórtex temporal, e outros ainda indicam que são várias as estruturas que estão implicadas em função do conhecimento que se deseja recuperar.
Por exemplo, o conhecimento relacionado com o som de uma peça de vidro que cai e se quebra estaria relacionado ao córtex auditivo. Lembrar de que cor é uma vaca ativaria o córtex visual. Além disso, o lobo temporal bilateral se relaciona com a integração de toda a informação semântica.
Transtornos da memória semântica
A demência semântica é um transtorno neurodegenerativo que afeta o lobo temporal. Nela, tanto a capacidade de nomear objetos quanto o acesso ao significado dos mesmos pode ser afetada.
Quem padece dessa doença terá sua capacidade para categorizar conceitos de forma detalhada gradualmente comprometida. A capacidade para utilizar palavras familiares ou reconhecer objetos de maneira visual, por exemplo, será afetada.
Além disso, a doença de Alzheimer costuma provocar um comprometimento de categorias específicas, já que os pacientes falham na hora de nomear ou descrever alguns objetos em fases mais avançadas da doença.