O que é desejo erótico?

A palavra desejo vem da união dos termos “de” e “sidere”, ou seja, vem do sideral, daquele mundo que transcende a mente e até a pele para alcançar as estrelas, o divino e o ininteligível. Analisaremos agora o que é o desejo erótico.

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 24 janeiro, 2023

Se nos perguntarmos o que é o desejo erótico, é muito provável que mais de uma pessoa pense quase imediatamente no mero impulso de fazer sexo. Não é bem correto. Falar de desejo é transcender a um plano superior, sofisticado e delicado. É desejo de carícias, de contato físico, é motivação para sentir-se próximo e sentir prazer, é desfrutar do mimo, do riso, da cumplicidade da pele.

É curioso pensar que algumas figuras da nossa história interpretaram o desejo como um simples impulso irracional. Quando na verdade, quando se fala desse comportamento, poucas coisas são tão regidas pela escolha racional de com quem se envolver em uma atividade erótica. Nem todos despertam em nós essas emoções, esses sentimentos, instintos e desejos.

Tanto que desde o campo da psicologia sabemos bem que o desejo erótico é muito mais que uma experiência regida unicamente por fatores hormonais. Requer também ativação mental, aquela sinfonia perfeita do emocional que nos impulsiona, direciona e motiva para aquela pessoa desejada.

Platão até nos apontou que o desejo pertencia à esfera das almas…

3 chaves para entender o que é desejo erótico

Podemos definir o desejo erótico como a motivação que envolve e impulsiona o comportamento sexual. Mas vamos lembrar, o único objetivo nem sempre é conseguir relações sexuais; é deliciar-se com tudo o que envolve o sexo e este pode dar forma a toda uma série de experiências e sensações tão amplas quanto variáveis de uma pessoa para outra.

Assim, algo que estudos como os realizados na Universidade de Wisconsin-Madison (Estados Unidos) nos apontam é que se nos perguntamos o que é o desejo erótico, devemos entender que estamos diante de uma das dimensões mais complexas do o ser humano.

Nossa erótica pode mudar de um casal para outro, ser mais simples ou, ao contrário, ser mais rica em linguagens e comportamentos. Da mesma forma, o que esta pesquisa destaca é que também não podemos ignorar os fatores sociais e culturais. Muitas vezes, até mesmo o peso dos papéis de gênero, fatores educacionais e até religiosos podem limitar completamente a capacidade de expressar e até sentir nosso desejo erótico livremente.

Vamos cavar um pouco mais fundo.

Os três componentes do desejo erótico

Um dos pioneiros no campo da sexologia foi, sem dúvida, a Dra. Helen Singer Kaplan, da Cornell University. Livros como A nova terapia sexual ou Os distúrbios do desejo sexual lançaram as bases dessa ciência. Assim, caso nos perguntemos o que é o desejo erótico, é quase obrigatório mergulhar nos componentes que o compõem e que a própria Dra. Kaplan definiu. São os seguintes:

• O impulso define o efeito que surge da ativação das bases biofisiológicas, é a excitação que uma pessoa nos causa.
• Anseio. Refere-se ao desejo e necessidade de tocar, sentir e ter aquela pessoa por perto. Também inclui todos aqueles desejos eróticos que muitas vezes sentimos quando alguém nos atrai (desejo de carícias, mimos, beijos, abraços, etc.).
• O motivo representa a disposição para aquela conduta erótica e também sexual. Esse componente vai além das bases fisiológicas e hormonais, pois inclui também fatores pessoais. Às vezes, não amamos alguém só porque nos sentimos fisicamente atraídos por essa pessoa. Existem outros elementos subjetivos igualmente decisivos (faz-nos lembrar alguém, desperta-nos emoções intensas…).

Por outro lado, é importante destacar um detalhe. Desejo erótico não é o mesmo que excitação sexual, o primeiro parte sempre de uma dimensão subjetiva (Bozman e Beck, 1991).

Características que nos definem quando queremos alguém eroticamente

Os sexólogos admitem que é muito difícil definir exatamente o que é o desejo erótico. No entanto, é uma dimensão que todos nós já experimentamos mais de uma vez e, portanto, é quase mais fácil especificar essa dimensão por meio de suas características. Nós os analisamos:

• Você nem sempre pode controlar por quem sente desejo erótico. Às vezes, e sem saber por quê, você pode se sentir atraído por alguém que odeia. Como pode ser? O mundo das emoções e da atração às vezes é inexplicável.
• É involuntário. Ela surge espontaneamente, não é algo que possa ser forçado a aparecer ou reprimido para que nunca mais apareça na frente daquela pessoa.
• Complexo. O desejo erótico é algo mais do que complexo, é florido, flexível, impulsivo, criativo… A mente vive de fantasias, formas de expressar aquele impulso, aquela saudade e motivação. Se esse desejo for recíproco com a outra pessoa, podemos dar rédea solta a todas as nossas fantasias.

O que é desejo erótico segundo a filosofia?

Além do campo da sexologia e da psicologia, existe aquele outro cenário interessante que sem dúvida abre o mundo da filosofia. Aristóteles, por exemplo, apontou que um dos componentes do desejo é o apetite, mas este, longe de ser um mero impulso ou necessidade biológica, é um ato premeditado onde cada um escolhe a quem deseja e o que deseja dele. Portanto, estamos diante de um desejo deliberado.

Para Platão, por sua vez, o desejo erótico é também uma paixão da alma. Agora, é interessante falar de um referencial atual da filosofia como Michel Onfay e especificamente seu livro Theory of the Body in Love. Nessa interessante obra, ele nos lembra que a palavra desejo deriva etimologicamente dos termos de e sidere (do sideral) .

Ou seja, o desejo se une ao celeste, ao divino, a essas estrelas do cosmos onde dançam Saturno e Vênus, Marte e Júpiter, e se misturam melancolia e amor, guerra e poder… Estamos diante de uma dimensão onde tudo é forçado a se unir e se reconciliar para finalmente atingir o êxtase.