O que é má-fé para o existencialismo?

A má-fé está relacionada à autenticidade e à liberdade, dois conceitos presentes na filosofia existencialista. O que é ser inautêntico? O que é má-fé? Como podemos evitá-la? Descubra neste artigo.
O que é má-fé para o existencialismo?

Última atualização: 16 julho, 2023

O existencialismo é um movimento filosófico iniciado em 1930. Alguns dos mais importantes filósofos desta corrente foram Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. Esses autores abordaram questões fundamentais da existência humana.

O pensamento de Sartre caracteriza-se por separar o ser humano de Deus, concedendo ao indivíduo liberdade ilimitada. Porém, ao fugir dela, pode incorrer no que o filósofo chama de ato de má-fé.

Com a intenção de esclarecer melhor o assunto, neste artigo iremos explorar o conceito de má-fé (mauvaise foi) segundo o existencialismo. Para isso, abordaremos outros conceitos correlatos, como autenticidade, inautenticidade, responsabilidade moral, liberdade e consciência.

Má-fé para o existencialismo

A má-fé é definida, pelo existencialismo de Sartre, como um mecanismo de autoengano, no qual a consciência mente para si mesma. No entanto, um artigo da Revista Otrosiglo sugere a não identificação entre má-fé e mentira.

De acordo com isso, não há diferença entre aquele que engana e o enganador, pois ambos ocorrem na mesma consciência. Ou seja, o enganador e o enganado é ele mesmo.

Este ato de autoengano supõe uma plena consciência ou conhecimento dele. Sabemos que é uma farsa, mas ainda assim disfarçamos e escondemos. Assim, vivemos uma vida inautêntica, porque fugimos do que realmente somos.

Sartre acredita que cada indivíduo é livre para fazer o que quiser. É o que se chama de concepção sartriana de liberdade: o ser humano pode escolher e decidir seu projeto de vida, o que quiser ser. Evitar essa liberdade implica um ato de má-fé.

Inautenticidade, autenticidade e má-fé

A inautenticidade corresponde à definição negativa de autenticidade. No entanto, uma dissertação de mestrado publicada pela Universidad Obrera de Catalunya expõe um significado positivo.

Autenticidade implica assumir a responsabilidade por quem somos e podemos ser. Desta forma, apresenta-se como o conceito oposto de má-fé. Uma vida autêntica é aquela em que o ser humano cria, por meio da cultura, seus sentimentos e experiências.

Por sua vez, as ações inautênticas e, consequentemente, a má-fé, representam uma ameaça a todo projeto do ser humano. Nessa perspectiva, o sujeito é percebido como objeto do mundo e não como um ser com liberdade para escolher seu próprio caminho e projeto. Portanto, podemos dizer que a má-fé nega a liberdade.

Ser seres inautênticos implica representar a nós mesmos em um papel fixo e predeterminado. Isso tira de nós a responsabilidade de buscar nossa própria identidade.

Má-fé e responsabilidade moral

A moral da filosofia existencialista está na autenticidade. Isso significa que, conforme noticiado na Revista de Direito Mario Alario D’Filippo, nossa responsabilidade está na liberdade de escolher a vida que queremos. Fugir dessa responsabilidade é tornar-se um objeto do mundo.

Estamos esperando para se tornar um projeto em que outros nos digam como devemos continuar. Ou seja, quando uma pessoa nos identifica com determinadas características e modos de vida, nós os tomamos como nossos. Assim, estamos diante de um ato de má-fé.

Mecanismos de má-fé

Segundo uma tese da Universidade Alberto Hurtado, podemos encontrar na obra de Sartre três mecanismos pelos quais se executa a má-fé para o existencialismo. Nós os apresentamos a você abaixo.

Transcendência e facticidade

Transcendência significa ir além do concreto. Para Sartre, essa é a definição de decisão. Por outro lado, a facticidade implica aquelas coisas que não podemos mudar. Entre algumas delas está a cultura, o momento histórico e a família.

Nesse mecanismo, a má-fé opera naqueles casos em que consideramos que não podemos mudar algo, quando, na verdade, pode haver mudança, porque somos seres livres. Por outro lado, existem situações que não podem ser mudadas, como uma doença. Não escolhemos adoecer, mas acontece apesar do nosso desejo.

Evasão do ser-para-si para o ser-para-outro

O segundo mecanismo sustenta que a má-fé ocorre quando me considero o que outra pessoa pensa que sou. Nesse aspecto, o conceito de ser-para-si significa que não temos uma identidade completa. Em vez disso, o conceito de ser-para-outro sustenta que outras pessoas não nos veem como carentes de identidade.

Este mecanismo de má-fé implica que somos seres completos e identificados de acordo com nossa aparência. Sartre dá o exemplo de um garçom. Ele se identifica com seu trabalho; no entanto, sua identidade não é ser garçom, é apenas mais um aspecto de sua existência que não o define completamente. De fato, ele pode escolher ser outra coisa.

Identificação com períodos de tempo limitados

Este terceiro mecanismo de má-fé sustenta que nos enganamos quando nos identificamos com um período limitado de nossas vidas. Essa identificação pode ser sobre o nosso passado, presente ou futuro. Ficar preso nesses tempos é um ato de má-fé, segundo Sartre. Somos muito mais do que períodos curtos e passageiros de tempo.

Má-fé e psicanálise

Sartre, como muitos filósofos existencialistas, era altamente crítico da teoria da psicanálise. A Enciclopédia de Filosofia de Stanford argumenta que tal crítica é dirigida à explicação mecanicista da má-fé. Isso indica que o mentiroso está dentro da mesma consciência. No entanto, uma parte é consciente e a outra inconsciente.

Sartre nega o conceito de inconsciente, ou seja, para ele o inconsciente não existe. Só podemos falar de uma consciência pura e total. Apesar disso, o filósofo alertou que essa consciência é limitada, pois não basta uma simples introspecção ou autoconhecimento.

Como então podemos estar cientes da má-fé? Sartre argumenta que nossos comportamentos são vistos por nós mesmos e por outras pessoas. A má-fé é, portanto, uma questão de perspectiva, na qual a afirmação própria ou de outra pessoa a constitui e determina.

Conclusão

Após as reflexões expostas neste texto sobre o que é má-fé para o existencialismo, podemos concluir que má-fé e responsabilidade moral estão intrinsecamente ligadas. Dada esta relação, fugimos à nossa responsabilidade por má-fé. Além disso, vivemos uma vida inautêntica através dela.

Em suma, nossa única saída é tomar nossa própria existência em nossas próprias mãos e criar um caminho único. Só nós temos a liberdade de escolher quem somos.


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