O que motiva a existência da religião?

O que motiva a existência da religião?
Roberto Muelas Lobato

Escrito e verificado por o psicólogo Roberto Muelas Lobato.

Última atualização: 22 dezembro, 2022

Afinal, o que motiva a existência da religião? Na atualidade, se nos referirmos apenas ao cenário da cultura ocidental, poderemos notar que a religião é considerada um assunto particular. É uma coisa que cada um deve guardar para si mesmo, de maneira que a exteriorização de determinados símbolos pouco a pouco foi perdendo o sentido. Esse processo foi chamado de secularismo. As pessoas devem ser religiosas, mas da porta de casa para dentro.

Ainda que isso aconteça apenas na teoria, pois os maiores grupos religiosos continuam mantendo relações vantajosas com os Estados. Enquanto a prática de religiões minoritárias é proibida com base no argumento da secularização, as majoritárias as mantêm em um nível maior no que se refere à representação em atos coletivos.

No entanto, independentemente das normas sociais ou legais que impedem práticas religiosas, cada pessoa vive a religião de uma maneira diferente. Seja qual for a religião praticada, as pessoas podem viver sua religião de três formas diferentes.

Alguns aspectos interessantes sobre a existência da religião

Religião versus religiosidade

Antes de falar da orientação religiosa, é fundamental fazer uma distinção entre religião e religiosidade. As religiões, por definição, são atemporais e universais (não mudam com o tempo nem no espaço), ao passo que a religiosidade é a maneira como os seguidores vivem a religião. A religiosidade é uma experiência subjetiva que depende de cada religião e, em muitos casos, de cada religioso: sua forma de viver e representar a religião.

Dessa maneira, entendemos que a forma como as pessoas vivem a religião (religiosidade ou orientação religiosa) não tem que, necessariamente, estar em consonância com os preceitos da religião. Dentre todas as formas de religiosidade que foram descobertas em vários âmbitos, na psicologia social se destacam quatro tipos de orientações religiosas. Elas são: a orientação extrínseca, a orientação intrínseca, a orientação de busca e o fundamentalismo religioso.

Orientação religiosa

Motivação religiosa extrínseca e intrínseca

Inicialmente foram propostas duas categorias, a orientação extrínseca e a intrínseca. Elas serviam para diferenciar as pessoas que consideram suas práticas religiosas de maneira instrumental – com o fim de conquistar objetivos pessoais ou sociais (por exemplo, a aceitação no grupo) – daquelas que interpretam suas práticas religiosas como um fim em si mesmas. Isto é, as pessoas com orientação extrínseca usam a religião, ao passo que aquelas com orientação intrínseca têm suas vidas motivadas pela religião.

Dessa maneira, as pessoas apresentariam uma orientação intrínseca quando a existência da religião for para elas um fim em si mesma, um motivo fundamental da vida, eixo e critério absoluto das suas decisões. Por outro lado, aquelas com uma orientação extrínseca considerariam a religião como utilitária e instrumental, como um simples meio a serviço de interesses e fins próprios (segurança, status social, entretenimento, autojustificação, apoio para o estilo de vida pessoal, etc.). Para muitas pessoas, assim como em outras áreas, existem as duas motivações.

Fiéis rezando em Meca

Orientação de busca

Posteriormente às orientações intrínseca e extrínseca, foi acrescentada uma nova orientação: a da busca. Essa orientação se caracteriza por uma questão fundamental sobre a existência como um todo. As pessoas com essa orientação veem e vivem as dúvidas religiosas com algo positivo e estão abertas às possíveis mudanças nas questões religiosas.

A orientação de busca em relação à religião estimula e promove um diálogo aberto e dinâmico sobre as grandes perguntas existenciais que surgem nas contradições e nas tragédias da vida. A orientação de busca é uma orientação cognitivamente aberta, crítica e flexível. Inclusive, poderia ser mais uma expressão da atitude caracterizada pela dúvida e pela busca da identidade pessoal.

Os monges budistas e a religião

Fundamentalismo religioso

O fundamentalismo religioso é definido como a crença de que há um conjunto de ensinamentos religiosos que dão forma à verdade fundamental sobre a humanidade e a divindade. Essa verdade essencial é oposta às forças do mal, as quais é preciso combater. Essa verdade deve ser seguida hoje em dia de acordo com as práticas fundamentais e imutáveis do passado.

Pessoas que têm uma orientação fundamentalista afirmam ter uma relação especial com a divindade. Elas costumam acreditar que seu grupo sempre tem razão, ao passo que todos os outros estão errados. Isso as leva a cultivar e manter preconceitos (as afasta de outros grupos e, portanto, não conseguem conhecê-los a fundo e, dessa maneira, a experiência lhes permite apenas reforçar o estereótipo). Os fundamentalistas também costumam ter uma orientação extrínseca, ao passo que a intrínseca e a de busca são opostas a esta.

Dentro do fundamentalismo, é possível encontrar outra orientação religiosa fundamentalista. O fundamentalismo intratextual. As pessoas com essa orientação acreditam, acima de tudo, na veracidade dos textos sagrados. Essas pessoas são as que mais seguem os ritos sagrados da sua religião e a interpretação que fazem desses ritos é bastante literal.

O que motiva a existência da religião?

A existência da religião e a religiosidade

As formas de viver a religião são diversas, particularizadas por cada grupo e, dentro desse grupo, por cada pessoa. Ainda que a religião e o contexto influenciem a maneira como cada pessoa vive a religião, cada um vai se adaptar de maneira diferente. Não devemos esquecer que nenhuma forma é melhor ou pior que outra. Nem mesmo uma orientação religiosa fundamentalista tem por que ser ruim ou pior do que as outras.

O problema surge quando se tenta impor aos outros uma forma de viver a religião. Adaptar-se a outra forma de religiosidade é complicado e requer tempo. Quando respeitamos os outros, a convivência pode e deve ser pacífica. Da mesma maneira, os Estados também não deveriam impor uma forma de viver a religião nem estimular determinada forma sem pensar nas consequências.

E você? O que pensa sobre a existência da religião e a forma como ela pode ser praticada em nossas vidas?


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