O rancor faz mal à saúde?

O rancor faz mal à saúde?
Sergio De Dios González

Escrito e verificado por o psicólogo Sergio De Dios González.

Última atualização: 21 março, 2019

Quem nunca se sentiu maltratado alguma vez? Quem nunca foi invadido pelo ressentimento? Estas reações são relativamente normais, mas precisamos saber que o rancor faz mal à saúde.

Às vezes um amigo fez uma brincadeira de mau gosto ou uma crítica pelas costas. Ou você precisou de alguém que acabou colocando-o no último lugar da sua escala de prioridade.

Talvez seja sua professora que não reconheceu seu esforço, seus pais que não perceberam as dificuldades de sobreviver no mundo atual ou seu parceiro que se apaixonou por outra pessoa. Todos, em algum momento, passamos por situações como as descritas anteriormente.

Emoções e saúde

Seria bom se as emoções negativas fossem acompanhadas por mensagens de advertência e se os programas educacionais dedicassem algumas de suas seções ao ensino de como controlá-las. Falamos sobre um material perigoso. Há uma prova irrefutável de que as emoções negativas mal gerenciadas podem ser consideradas o maior perigo que nossa saúde enfrenta.

Jovem sentindo rancor

Por exemplo, a depressão está associada a mudanças mensuráveis ​​no funcionamento imunológico. Pessoas com depressão possuem um maior risco de ter um ataque cardíaco do que pessoas sem histórico de depressão. Por outro lado, nas mulheres a depressão parece aumentar o risco de osteoporose. Nos homens, a depressão prevê uma diminuição da força muscular após um período de três anos.

A ansiedade também parece estar associada ao desenvolvimento de problemas cardíacos. Além disso, pode atrasar a recuperação após uma cirurgia. Por outro lado, está bem documentado que a hostilidade crônica pode ser um fator de risco para doenças cardíacas e até mesmo a morte.

O que entendemos por rancor?

O rancor é um sentimento que representa muito bem o estado emocional de muitas pessoas. Ele se destaca, como todos os estados emocionais, por gerar comportamentos que tendem a manter a pessoa nesse estado. Por outro lado, muitas vezes é acompanhado por um grau de obstinação ou cegueira que o torna muito resistente às medidas que tentamos tomar para nos livrarmos dele.

Desta forma, o rancor indica uma pessoa ferida. Seja por ter sido tratada injustamente, por ter suas expectativas frustradas ou sua confiança traída, a pessoa pode sentir raiva e ressentimento. Ou seja, é um sentimento de rejeição a quem lhe causou o desconforto.

Por outro lado, se expressarmos como uma tendência, poderíamos dizer que uma pessoa rancorosa é aquela que dificilmente esquece as diferenças depois de uma discussão em casal ou com um amigo, ou precisa de muito tempo para assimilar o que aconteceu, perdoar e esquecer.

Casal tentando superar crise

Como o rancor faz mal à saúde?

Para analisar este tópico, Witvliet et al. (2002) estudaram as consequências emocionais e fisiológicas da atuação motivada pelo rancor. Eles fizeram isso através de um experimento. Os estudantes universitários foram convidados a escolher ofensas interpessoais verdadeiras que tivessem experimentado no passado. A maioria dessas ofensas veio de amigos, namorados, irmãos ou pais.

Essas ofensas incluíam circunstâncias como rejeição, mentira ou insulto. Posteriormente, os pesquisadores coletaram relatórios e dados psicofisiológicos. Esses dados incluíram freqüência cardíaca, pressão arterial e tensão dos músculos da face.

Os dados dos relatórios foram coletados enquanto os alunos imaginavam uma resposta a essas ofensas, com indulgência ou com rancor. Na condição indulgente, os estudantes tiveram que pensar em sentimentos de piedade ou empatia por aqueles que os haviam ofendido. Na condição de rancor, eles foram convidados a permanecer no papel das vítimas. Eles foram convidados a se concentrar no dano e tentar ser rancorosos.

A forma como pensamos influencia a saúde

É possível que as duas formas de pensar sobre o mesmo problema tenham modificado os estados de humor e fisiologia dos participantes do estudo? A resposta é sim. Quando foram indulgentes, os participantes tiveram mais sentimentos de empatia e clemência. No entanto, quando foram rancorosos e ressentidos, eles relataram sentimentos mais negativos, hostis e tristes, e perda de controle.

Houve também um aumento da tensão nas sobrancelhas, aumento da freqüência cardíaca, pressão arterial e condutividade elétrica da pele. Pensemos que o aumento da condutividade na pele indica uma maior ativação do sistema nervoso autônomo, o que nos prepara para agir quando percebemos uma ameaça.

Jovens brigadas sentindo rancor

Outra descoberta foi ainda mais surpreendente. Depois de terminar a experiência, os alunos foram convidados a relaxar. No entanto, os indivíduos que imaginaram sentimentos de ressentimento não conseguiram relaxar. O estado de alta ativação fisiológica que havia sido alcançado ao imaginar infrações passadas era muito difícil de eliminar. Ou seja, eles ficaram chateados ou ansiosos por muito mais tempo.

Ressentimento: uma atitude perigosa

Quais são as implicações que os resultados deste estudo têm? Experimentar sentimentos fugazes de hostilidade certamente não é suficiente para prejudicar nossa saúde. No entanto, as pessoas com tendência a ruminar ofensas indefinidamente estão insistindo em um hábito muito perigoso para si. Alimentar a raiva, com as consequentes reações fisiológicas, pode ter conseqüências negativas para o funcionamento do sistema cardiovascular e imunológico.

É por isso que o fomento do ressentimento pode ser perigoso para a nossa saúde. Embora nem sempre seja fácil, perdoar aqueles que nos ofendem pode reduzir nosso estresse e aumentar nosso bem-estar. Podemos comparar os efeitos do ressentimento a carregar um peso que afeta até a nossa saúde física, pois pode nos deixar doentes. Por esta razão, por nossa saúde emocional, é importante priorizar o bem-estar, decidindo de forma consciente não continuar a alimentar esse rancor em relação ao que aconteceu.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.