O transtorno de estresse pós-traumático: desenvolvimento e tratamentos
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) ocorre em algumas pessoas que foram expostas a eventos muito estressantes e catastróficos. Esses gatilhos podem consistir na morte de um ente querido em circunstâncias traumáticas, lesões graves, violência sexual, etc., seja de forma real ou como uma ameaça.
Podemos identificar a presença de elementos intrusivos no foco da consciência, como memórias angustiantes recorrentes e involuntárias do evento traumático, sonhos ou pesadelos angustiantes, reações dissociativas, como amnésia diante do que aconteceu, ou reações de mal-estar desproporcionais ao encontrar algum elemento que lembre o trauma.
Uma vez que a pessoa tenha sido exposta ao trauma, é normal que ela comece a desenvolver os sintomas típicos desse quadro.
Os pacientes com TEPT desenvolvem uma acentuada evitação de estímulos associados ao trauma. Eles podem tentar a todo custo evitar a lembrança do fato, contá-lo a outra pessoa ou abordar pessoas, lugares ou objetos que possam causar a reexperimentação do evento.
Há alterações cognitivas e de humor, como a incapacidade de lembrar um aspecto importante do evento, crenças negativas sobre si mesmo, os outros ou o mundo, sentimento de distanciamento ou incapacidade de vivenciar emoções positivas. Não é incomum encontrar comportamentos de irritabilidade e explosões de raiva, culpa ou vergonha muito intensas e até mesmo hipervigilância, problemas de sono ou concentração.
O DSM5 também enfatiza que o tempo de alteração deve ser superior a um mês, pois, do contrário, estaríamos diante de um quadro de estresse agudo (TEA).
Como o transtorno de estresse pós-traumático se desenvolve?
Vivenciar um trauma não é simplesmente ter que se expor a uma situação complicada e lidar com ela. Os traumas sobrecarregam os recursos psicológicos da pessoa. O seu cérebro, sua alma e seu ser não podem processar ou suportar tanta dor, de forma tão intensa e fugaz e, portanto, desenvolvem o TEPT como mecanismo de defesa contra ameaças futuras.
Nem todas as pessoas que vivenciam traumas desenvolvem esses sintomas posteriormente, mas a prevalência pode chegar a 58% na população de risco.
No caso de estupro, a prevalência costuma ser de 50% ou mais, e ainda maior se o agressor for alguém conhecido da vítima. Isso ocorre porque o fato de ser alguém conhecido causa uma maior insegurança na pessoa, por pensar que “não está segura em lugar nenhum e com ninguém”.
A partir das teorias de aprendizagem, os sentimentos extremos que o sujeito sofre durante o evento traumático permitem predizer por condicionamento como se desenvolverão os problemas futuros que o paciente possa ter.
É por isso que, posteriormente, o simples fato de contar o acontecimento a um amigo ou terapeuta atua como um estímulo condicionado – ou seja, se associa ao próprio fato – e pode causar novamente os sintomas desagradáveis.
Para entender a reexperimentação que costuma ocorrer nesses pacientes, por exemplo, na forma de flashbacks, Foa e Kozak falam de uma rede de medos após a exposição ao trauma, que é reativada repetidas vezes em face de múltiplos estímulos. Dessa forma, a pessoa começa a desenvolver estratégias de evitação que são perpetuadas por processos de reforço negativo – ela sente um enorme alívio quando foge de algo que a lembra do trauma.
Tratamentos eficazes no transtorno de estresse pós-traumático
Terapia de exposição
Ao falar sobre os modelos que explicam o desenvolvimento do TEPT, podemos deixar claro que evitar falar sobre o evento traumático ou fazer contato com estímulos que nos lembrem dele supõe um alívio momentâneo para o paciente. Mas esse alívio tem “pernas muito curtas”, pois não permite o reprocessamento emocional, tão necessário para a cura desse transtorno.
Por esse motivo, a terapia de exposição é o tratamento de escolha, e aquele com maior suporte empírico de acordo com os estudos mais recentes (Cahill, Rothbaum, Resick & Follette, 2009). A chave para a exposição que ocorre na terapia é que ela seja repetida e prolongada para tudo relacionado ao trauma.
As modalidades podem ser muito variadas: ao vivo de acordo com os gatilhos que estão sendo evitados. Um paciente, por exemplo, pode ser exposto repetidamente às roupas que vestia no dia do evento: olhando para elas, tocando, cheirando, até que a sua ativação diminua.
Também pode ser feita através da imaginação, evidentemente porque o evento faz parte do passado. Nesse sentido, é conveniente que o paciente evoque deliberadamente a memória dolorosa ou a escreva, relate ou ouça em uma gravação. A terapia de exposição tem se mostrado altamente eficaz, especialmente para pacientes adultos com traumas simples.
A terapia cognitiva
Em segundo lugar, a terapia cognitiva também demonstrou ser eficaz em pacientes de TEPT. O seu objetivo é modificar, por meio de ferramentas como o diálogo socrático, as crenças irracionais e os pensamentos sobre o trauma – acreditar que é o culpado por ter sido estuprado, por exemplo.
A terapia cognitiva aborda o significado que o trauma e suas consequências têm para o paciente. Os conceitos de segurança e perigo também são trabalhados, assim como a confiança na vida e nas pessoas, que após o trauma fica muito prejudicada.
Na terapia cognitiva, trabalhamos com os pacientes principalmente as emoções de vergonha e culpa, que são muito frequentes nesta população clínica e muitas vezes representam um obstáculo para a superação do evento traumático, ao mesmo tempo em que atuam como uma espécie de isca para devolver a memória da experiência traumática para o foco da consciência.
TPC de Resick e Schnicke
Existe uma modalidade de terapia cognitiva que está dando bons resultados. É a terapia de processamento cognitivo de Resick e Schnicke. Esta terapia integra aspectos da terapia cognitiva com a teoria do processamento de informações. Ela se concentra em redirecionar a atenção do paciente para o presente, as emoções secundárias e pensamentos distorcidos, e visa sintomas secundários como a saúde, a culpa ou a má qualidade de vida.
Ela desafia os significados do trauma em cinco áreas, que são aquelas em que os pacientes tendem a ter mais dificuldades: segurança, confiança, poder ou controle, autoestima, intimidade e implicações na vida.
É realizada uma exposição, descrevendo a experiência em detalhes e depois fazendo a leitura. O paciente pode escolher a profundidade da exposição ao seu trauma, visto que isso não afeta significativamente a melhora.
Existem muitos outros tratamentos usados no TEPT que também são eficazes, mas neste artigo queremos apontar aqueles que são cientificamente mais válidos. Não podemos deixar, entretanto, de citar a EMDR, desenvolvida por Shapiro como uma técnica específica para o trauma, e a terapia dialética ou treinamento de inoculação ao estresse, que se mostrou eficaz quando os pacientes têm um alto componente de raiva.
Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.
- Belloch, A., Sandín, B. y Ramos, F (2008). Manual de psicopatología. Volúmenes I y II. McGraw-Hill.Madrid
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