As obsessões estéticas e o seu impacto em nossas vidas

Quando o reflexo do espelho não se assemelha ao que observamos diariamente nas redes sociais, surge o sofrimento. As obsessões estéticas são o produto de uma sociedade que transformou o ideal de beleza em uma semente de frustração.
As obsessões estéticas e o seu impacto em nossas vidas
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 29 julho, 2022

As obsessões estéticas parasitam nossa mente e nosso estilo de vida. Não nos sentimos satisfeitos com nossos corpos, com aquelas características, aquela imagem e aquelas proporções que vêm de fábrica e da genética. Desejamos manipular o que temos para ficarmos mais parecidos com o que vemos.

Redes sociais, publicidade, cinema, televisão… O bombardeio da mídia é tão violento que a insatisfação corporal assumiu a forma de preocupação crônica.

Se há algo que vemos cada vez mais nos adolescentes e pré-adolescentes é a rejeição do próprio corpo. De um dia para o outro eles começam a se analisar detalhadamente: o desespero nasce diante do espelho. Querem sobrancelhas mais proporcionais, cílios mais longos, nariz menor, cabelos diferentes e, claro, menos volume no abdômen, quadris, pernas…

O corpo se torna uma prisão e o que está preso dentro dele é um cérebro que sofre e distorce completamente o seu próprio ser. Milhares de vidas são truncadas diariamente por essas obsessões, por aquela fixação no exterior, naquela casca que é julgada publicamente, que se avalia por meio de likes e que, para muitos, significa viver num verdadeiro inferno.

“A cultura corporal promove um desejo irracional de corrigir defeitos percebidos pela própria pessoa.”
-Enrique Rojas-

Mulher que não se valoriza

O que são as obsessões estéticas?

As obsessões estéticas são as fixações do ser humano em relação a certos padrões de beleza. Nós nos tornamos consumidores, e até viciados, em certas imagens e ideais totalmente alheios à realidade.

O belo é criado por meio de filtros e, quando não são filtros, são corpos que passaram por uma sala de cirurgia ou por horas na academia e um estilo alimentar duvidoso.

Os belos corpos que muitos desejam são meros produtos da mídia. Grande parte da população jovem tem sido aprisionada por esse tipo de obsessão estética. Mas o assunto não é novo, nós sabemos.

No entanto, este tema voltou à tona como resultado da polêmica provocada por uma publicação no Wall Street Journal. O Facebook parece saber o impacto que o Instagram teria sobre os adolescentes. Nesse universo digital onde a imagem é tudo, mais de 40% dos usuários mais jovens afirmam se sentir cada vez mais inseguros com o corpo. E isso era algo que Mark Zuckerberg sabia de antemão.

Essa ideia segue a linha do estudo publicado em 2018 pela University of Kentucky. Ele insistia que as redes sociais estavam moldando uma geração cada vez mais insegura, com baixa autoestima e um esquema corporal cada vez mais insatisfeito.

Meu nariz não é bonito e tenho vários quilos a mais!

Meio século atrás, as pessoas que procuravam o psicólogo o faziam por problemas de identidade, problemas conjugais ou traumas de infância. Hoje, a falta de autoestima é a grande “doença” do século XXI. Poderíamos dizer que está por trás de boa parte dos problemas, preocupações, infelicidades e condições psicológicas.

Da mesma forma, deve-se notar que os transtornos alimentares pioraram dramaticamente. Meninas de apenas 13 anos são obcecadas em perder peso, em ser o reflexo daquele ideal de beleza que têm em mente.

As obsessões estéticas levam à bulimia ou à anorexia. Ao atingirem uma certa idade, vão sonhar com rinoplastia, aumento dos seios, lipoaspiração, etc.

Quando o que as jovens veem no espelho não corresponde ao que veem nas redes sociais, surge o sofrimento e a rejeição do próprio corpo. Nesse momento, um comportamento nitidamente perigoso e patológico também pode começar naquela tão esperada busca pela perfeição estética.

A doença da beleza e das obsessões estéticas

O livro Beauty Sick: How the Cultural Obsession with Appearance Hurts Girls and Women é um dos títulos mais interessantes sobre o assunto. Sua autora, Renee Engeln, psicóloga e professora da Northwestern University, nos Estados Unidos, afirma que a obsessão pela beleza se tornou uma espécie de doença social.

Algo que esta autora afirma por ter realizado diversas pesquisas sobre o assunto é que não importa quão educada uma pessoa seja, não importa seu trabalho, sua formação ou sua experiência de vida. No fundo, continuamos a nos sentir inseguros com a nossa própria imagem.

Nossa cultura inocula aquela necessidade constante de nos examinarmos, de analisarmos o que pode estar “errado” em nós mesmos. O nariz? O cabelo? Braços flácidos? Muita gordura? Pernas finas demais? Pele muito pálida? As obsessões estéticas nos colocam em pé de guerra contra nós mesmos, pois internalizamos modelos impossíveis de beleza.

Jovem com obsessões estéticas

Reformular nossas narrativas estéticas para viver melhor

As obsessões estéticas nos fazem perder energia emocional, potencial humano e bem-estar físico e psicológico. Essa distorção do belo e do aceitável está levando a um sofrimento imerecido para boa parte da população, especialmente a mais jovem.

Rejeitar nosso próprio corpo é rejeitar a nós mesmos, banir-nos como pessoas.

É hora de reformular todas essas narrativas internas que construímos em torno das obsessões estéticas. Idéias patológicas precisam ser administradas para redirecioná-las a áreas mais saudáveis. Porque deixar-se levar por aqueles filtros em que apenas alguns corpos são válidos leva o ser humano à fobia, à ansiedade, ao labirinto dos transtornos mentais de alto impacto.

A arte psicológica de reformular narrativas e fortalecer os músculos da autoestima leva tempo. Portanto, é necessário iniciar essa reeducação o mais rápido possível para lembrar às novas gerações que elas são perfeitas como são.

Todo corpo é belo apenas por existir, pelo simples fato de conter uma vida, uma grande personalidade e um valioso potencial como ser humano.


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