Otto Fenichel, um psicanalista da segunda geração

Otto Fenichel foi um dos principais impulsionadores da chamada "psicanálise de esquerda". Trabalhou para integrar as teorias de Freud com o marxismo e proporcionou importantes elementos técnicos para o método de cura psicanalítica.
Otto Fenichel, um psicanalista da segunda geração
Bernardo Peña Herrera

Escrito e verificado por o psicólogo Bernardo Peña Herrera.

Última atualização: 25 agosto, 2019

Otto Fenichel não é um psicanalista muito conhecido. Na verdade, a vertente mais ortodoxa da psicanálise o considera apenas um “técnico”. Alguém que contribuiu com alguns elementos para o método psicanalítico, sem que tenha alcançado uma importância significativa.

Apesar de tudo, Fenichel foi um importante psicanalista que contribuiu para consolidar a tese de Freud.

Otto Fenichel é considerado um dos psicanalistas da segunda geração. Isso significa que ele faz parte do grupo freudiano que nasceu no fim do século XIX ou começo do século XX, testemunhas da revolução russa, do crescimento do nazismo e de outros fenômenos definitivos da história durante sua juventude.

A maioria deles se tornou herdeiro de Freud, mesmo que cada um tenha marcado a doutrina psicanalítica de uma forma diferente.

“Eu também acredito que uma modificação real do homem com propriedade seria (…) mais efetiva do que qualquer preceito ético.”
– Otto Fenichel –

Otto Fenichel também foi um dos representantes da chamada “esquerda psicanalista”, junto com outras figuras como Erich Fromm, Siegfried Bernfeld e Wilhelm Reich, entre outros.

Todos eles buscaram uma forma de associar a psicanálise com o marxismo e de explorar os problemas políticos do inconsciente e seus fenômenos.

Os primeiros anos de Otto Fenichel

Otto Fenichel nasceu em Viena, na Áustria, em 2 de dezembro de 1897. Veio de uma família judia muito prestativa. Seu pai, Leo, era advogado fiscal do império austro-húngaro.

Otto militou ativamente no movimento da juventude austríaca e nos coletivos judeus juvenis. Naqueles anos, tinha o propósito de fazer a revolução política convergir com a liberdade sexual.

Junto com alguns companheiros, escreveu um texto sobre esse tema em 1916. Isso levou a sua expulsão do local no qual estudava.

Na verdade, havia criado desde 1912, junto com outros 20 colegas, um grupo que ministrava um seminário sobre sexologia na Associação Acadêmica de Médicos Judeus. O objetivo desse grupo era compensar a carência destes conteúdos nos programas de medicina da universidade.

Desde que entrou na Universidade, começou a se interessar pela psicanálise. Comparecia com grande entusiasmo às conferências de Sigmund Freud.

Em 1918, entrou em contato com a tese de Siegfried Bernfeld. Logo começou a fazer parte das famosas “noites de quarta” na Sociedade Psicanalítica de Viena.

Assim que terminou seus estudos de medicina, Otto Fenichel mudou-se para Berlim para fazer sua formação como psicanalista na Policlínica Psicanalítica e no Instituto de Formação de Berlim.

Desenho de Freud

Um trabalho prolífico

Em 1922, realizou sua primeira análise com Paul Federn e, depois, com Sandor Rado, em Berlim. Em 1935 publicou sua primeira obra, Teorias da Neurose, em uma edição de dois volumes.

Na mesma época, começou a questionar as práticas burocráticas da Associação Psicanalítica. Por isso, decidiu criar um grupo a parte, o qual chamou de “Seminário de Crianças”, que dirigiu junto com Schultz-Henke até 1933.

Em 1930, Wilhem Reich se juntou ao grupo, no qual já estavam outros psicanalistas de destaque da época. De acordo com suas notas, viu que este grupo estava muito mais adiantado que o grupo de Viena em questões sociais.

Assim nasceu o movimento dos Freudianos Políticos, que alcançou seu apogeu em 1931. No entanto, as brigas internas logo começaram, tanto por motivos pessoais quanto por divergências intelectuais.

Com a chegada de Hitler ao poder e a proibição dos livros de Freud, o grupo teve que se desmanchar. Porém, Otto Fenichel inventou um sistema de comunicação clandestina, o qual chamou de Rundbriefe (cartas circulares).

Isso permitiu se manter a par do que cada um pensava e fazia. Diz-se que foram emitidas mais de 119 destas cartas, que discutiam todo tipo de tema.

Um legado interessante

Otto Fenichel foi obrigado a buscar exílio em Oslo, na Noruega. Encontrou-se várias vezes com Wilhem Reich, mas surgiu uma divergência significativa entre eles.

Enquanto Reich defendia a luta direta contra o nazismo para preservar a psicanálise e o marxismo, Fenichel achava que o trabalho clandestino era melhor. Isso acabou afastando estes dois grandes psicanalistas.

Compreensão e comunicação

Fenichel viveu um tempo em Praga e logo migrou para os Estados Unidos, onde se encontrou com alguns de seus velhos colegas.

Aos 46 anos anos de idade, teve que obter seu diploma médico novamente, já que os Estados Unidos não validaram sua formação anterior. Além disso, também se viu obrigado a deixar de expressar suas posições de esquerda.

Ficou profundamente incomodado com o modelo medicalizado dos psicanalistas norte-americanos. Considerou que o legado de Freud estava sendo degradado.

Aflito e relativamente acuado, morreu prematuramente aos 48 anos. Mesmo assim, sua obra é referência obrigatória para os técnicos da cura freudiana.


Todas as fontes citadas foram minuciosamente revisadas por nossa equipe para garantir sua qualidade, confiabilidade, atualidade e validade. A bibliografia deste artigo foi considerada confiável e precisa academicamente ou cientificamente.


  • Allport, G. W., & Fenichel, O. (1968). Psicología y psicoanálisis de los rasgos de carácter. Paidós.
  • Fenichel, O. (1966). Teoría psicoanalítica de las neurosis. Editorial Paidos, Buenos Aires.
  • Fenichel, O., & Carlisky, M. (1957). Teoría psicoanalítica de las neurosis. Nova.

Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.