Meu parceiro me insulta quando fica com raiva, o que posso fazer?


Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater
“Meu parceiro me insulta quando fica com raiva.” Esta frase é frequentemente ouvida com frequência na terapia psicológica. Se você está vivendo essa mesma dinâmica em seu relacionamento, é importante ter em mente um detalhe. As desqualificações constituem um tipo de comunicação violenta que não é permissível e que também tem grande impacto na sua saúde psicológica.
Se você convive com alguém que regula mal suas emoções, que perde rapidamente a paciência e não consegue dialogar sem recorrer à agressão verbal, seu bem-estar emocional pode ser muito afetado. Nesses casos, é aconselhável pedir mudanças e chegar a acordos para melhorar esse estilo de conversa. No texto a seguir oferecemos-lhe todas as chaves.
Mesmo que seu parceiro diga que te ama, se ele te desrespeita e recorre a insultos, não é um relacionamento saudável.
O que devo fazer se meu parceiro me insulta quando fica com raiva?
O respeito é uma atitude psicológica que implica uma clara vontade de não prejudicar o outro. Respeito é, acima de tudo, cuidar e tratar com carinho. Da mesma forma, o psicólogo John Gottman, um dos maiores especialistas em assuntos relacionais, nos explica em seu livro Sete Regras de Ouro para Viver em Casal (1999) algo importante sobre esse assunto.
A comunicação agressiva é um dos maiores inimigos do vínculo afetivo-sexual. Por outro lado, trabalhos de pesquisa, como os publicados em Humanities & Social Sciences Communications, incluem insultos e xingamentos como forma de violência por parceiro íntimo. Todos esses dados esclarecem algo óbvio para nós: esses comportamentos não são toleráveis e você deve agir.
A seguir, damos-lhe algumas chaves para reflexão.
Entenda as razões por trás dessa dinâmica
“Se meu parceiro me insulta quando fica com raiva, a primeira coisa que penso é que ele perdeu o controle.” É verdade que a má regulação dos impulsos pode ser um fator. No entanto, existem mais variáveis associadas que podem orquestrar esta situação.
Nós os definimos:
- Pessoas que normalizam o insulto. De fato, existem perfis que têm o uso de palavras pejorativas integradas à sua narrativa mental e comunicativa. Tanto que desconhecem seu impacto nas relações afetivas e interpessoais.
- A comunicação agressiva às vezes é herdada. Muitas vezes, o uso do palavrão responde a um padrão herdado ao qual alguém foi exposto em seu núcleo familiar desde a infância e que se repete na fase adulta.
- Uma forma de violência psicológica que pode piorar. Trabalhos como os publicados no Journal of Social and Personal Relationships, indicam que, em certas ocasiões, a agressão verbal precede a agressão física. É esse prelúdio que, em algum momento, pode passar do abuso psicológico ao abuso físico.
- Má comunicação emocional. É possível que seu parceiro, além de um controle de impulsos ruim, mostre um estilo de comunicação não qualificado com zero habilidades de inteligência emocional. Raiva constante, frustração e palavras carregadas de desprezo podem responder a esse fator.
Às vezes, mesmo sem insultos diretos, a pessoa pode usar linguagem não-verbal agressiva, como fazer um gesto desagradável com a mão ou o rosto, ou mesmo apontar com o dedo indicador em uma expressão de domínio e controle.
Evite normalizar qualquer tipo de comportamento agressivo
Há muitas pessoas que abrem espaço para uma comunicação agressiva a ponto de normalizá-la. Tanto que, às vezes, podemos ver casais em que ambos se insultam igualmente. Não é o mais saudável em nenhum vínculo.
É importante que você não se acostume ou tolere esse estilo de comunicação e também evite responder da mesma forma à outra pessoa. Os insultos são uma forma de agressão que não deve ser reforçada ou praticada.
Também vale lembrar que, além do uso de palavras de rebaixamento, esse tipo de comportamento pode incluir mais dinâmica. A violência psicológica em matéria comunicativa tem, afinal, um espectro muito amplo. Não hesite em detectar a possível presença dessas dimensões:
- O uso de sarcasmo e ironia.
- Os gritos.
- Comparações prejudiciais.
- Tire sarro de você em público e em particular.
- Uso de comunicação não verbal agressiva (olhares, posturas ameaçadoras, invasão de espaço pessoal…).
- Depreciar suas conquistas com palavrões.
Converse com seu parceiro sobre como você se sente e exija mudanças
A comunicação é aquele nutriente essencial em todo vínculo relacional. Como nos indica Fronteiras em Psicologia, essa competência atua como o coração de qualquer relação e o pilar mais decisivo que a sustenta.
Assim , caso você esteja dizendo a si mesmo há algum tempo “meu parceiro me insulta quando fica com raiva”, é essencial que você resolva a situação o mais rápido possível. Vamos ver como fazer isso:
- Converse com seu parceiro de forma assertiva explicando a situação.
- Tente dar-lhe exemplos: “ontem você me insultou assim, hoje você me disse que eu sou (…)”
- Explique como essa forma de comunicação faz você se sentir.
- Pergunte a ele a causa de por que ele usa essas expressões prejudiciais.
- Peça a ele para melhorar a qualidade de sua comunicação.
- Detalhe suas exigências: respeito, empatia e desaparecimento de insultos.
- Exige que essas mudanças comecem a partir desse mesmo dia.
Procure apoio do seu ambiente, evite o isolamento
Se seu parceiro insulta você e grita com você toda vez que fica com raiva, ele está exercendo uma forma de abuso psicológico. É importante que você busque o apoio do seu ambiente e explique essa situação a alguém de sua confiança. Muitas vezes, as pessoas que estão em situação de abuso optam por permanecer em silêncio e não compartilhar seu sofrimento.
Além disso, pesquisas como a da Universidade Federal do Rio de Janeiro destacam como, por vezes, alguns casais buscam fragilizar o outro, isolando-o, afastando-o da família e dos amigos. Evite não cair nessas situações. Esteja sempre perto de seus entes queridos e compartilhe suas preocupações, seus medos e aqueles problemas que o angustiam em questões emocionais.
Problemas de regulação de impulsos e falta de comunicação emocional podem ser tratados em terapia psicológica. Se seu parceiro recorre a insultos e não sabe como controlar sua raiva, ele pode se beneficiar de ajuda profissional
Terapia individual ou de casal, chave para melhorar a comunicação
Se o seu parceiro tiver problemas para se comunicar e regular suas emoções, ele pode se beneficiar da terapia cognitivo-comportamental. Como apontamos, em algumas ocasiões, a pessoa pode herdar dinâmicas agressivas de seu próprio ambiente familiar que podem ser reeducadas.
Ser exposto desde a infância a pais que gritavam e se insultavam pode mediar esse padrão de comportamento. A mudança é sempre possível se a pessoa a propuser. Da mesma forma, também pode ser benéfico recorrer à terapia de casal.
A Northwestern University, nos Estados Unidos, enfatiza os benefícios desses modelos terapêuticos e sua utilidade no tratamento de um amplo espectro de disfunções relacionais.
Se existe amor em seu relacionamento e, além dessas dinâmicas comunicativas, você considera que seu vínculo vale a pena, não hesite em solicitar ajuda especializada. Eles fornecerão ferramentas para construir diálogos mais empáticos e respeitosos.
E se meu parceiro não mudar e continuar me insultando?
E se meu parceiro não mudar? E se ele continuar a me insultar e não conseguir controlar sua raiva? Se, depois de ter pedido uma melhoria no seu comportamento, esta não aparecer, teremos de tomar uma decisão. Num vínculo afetivo-sexual existem limites intransponíveis que não devem ser contornados.
O respeito é a pedra angular de todos os laços em um relacionamento. Amor é respeito, é cuidado, é prestar atenção no que se faz e no que se fala. Insultos constantes são uma forma de violência que não podemos permitir. Se você não agir e normalizar essas dinâmicas, sua autoestima e autoconceito podem ficar muito fragmentados.
Não hesite em agir e tenha um bom suporte ao seu lado.
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