Pensamento divergente: o que é e como desenvolvê-lo

Pensamento divergente: o que é e como desenvolvê-lo
Valeria Sabater

Escrito e verificado por a psicóloga Valeria Sabater.

Última atualização: 15 novembro, 2021

O pensamento divergente ou lateral se caracteriza pela geração de múltiplas e criativas soluções para um mesmo problema. É uma perspectiva mental espontânea, fluida e não linear, baseada na curiosidade e também no inconformismo. Na verdade, é também um tipo de pensamento muito comum em crianças, caracterizado pela alegria, a imaginação e o frescor que oferece mais liberdade para os argumentos infantis.

O pensamento divergente está em alta. Em uma sociedade acostumada a oferecer competências similares, chega um momento em que as empresas começam a valorizar outras aptidões, outras dimensões que acrescentem curiosidade, vitalidade e autêntico capital humano aos seus projetos. Assim, alguém capaz de oferecer inovação, criatividade e novos objetivos pode se tornar um grande candidato para muitos destes projetos organizacionais.

No entanto, existe algo que devemos admitir. Nossas escolas, institutos e universidades seguem priorizando em sua metodologia um tipo de pensamento claramente convergente. Nos anos 60, J.P. Guilford diferenciou e definiu o pensamento convergente e o divergente.

“A criatividade é a inteligência se divertindo”.
-Albert Einstein-

Apesar de ele mesmo ter enfatizado a importância de treinar as crianças nesse último tipo de perspectiva mental, as instituições educativas não lhe deram muita atenção. Geralmente, elas priorizaram um tipo de reflexão (ou melhor, a ausência dela) onde o aluno deve aplicar um pensamento linear e uma série de regras e processos estruturados para chegar a uma única solução: a que se avalia como correta.

Embora seja verdade que, em muitas ocasiões, esta estratégia é útil e necessária, nós temos que admitir que a vida real é suficientemente complexa, dinâmica e imprecisa para crer que nossos problemas têm só uma única solução. Portanto, precisamos desenvolver um autêntico pensamento divergente.

Por isso, são muitos os centros educativos que incentivam seus alunos a não se limitarem a encontrar a resposta correta. O objetivo é que sejam capazes de criar e sugerir novas perguntas.

Rosto de mulher com várias cores e desenhos

O pensamento divergente e seus processos psicológicos

Antes de continuar, seria bom esclarecer uma ideia. Nenhum tipo de pensamento é melhor que outro. O pensamento convergente é útil e necessário em diversas ocasiões. No entanto, o autêntico problema está no fato de que nos “treinaram” para pensar de um só jeito, deixando de lado (inclusive, anulando por completo) essa espontaneidade, essa criatividade e liberdade cativante.

Em muitos cursos orientados a treinar as pessoas em pensamento divergente, é comum que sejam propostas as seguintes perguntas aos alunos:

Que tipo de coisas você poderia fazer com um tijolo e uma caneta? Que tipos de usos você imagina se tivesse uma escova de dente e um palito?

Nós somos conscientes de que, no começo, pode demorar um pouco para conseguir ter uma ideia. No entanto, existem pessoas capazes de fornecer muitas respostas e ideias criativas porque dispõem de um elevado potencial no que Edward de Bono chamou, em seu momento, de “pensamento lateral”. Para compreender melhor como isso funciona, analisaremos agora que tipos de processos psicológicos são responsáveis pela sua concepção.

Mãos unidas formando tela

As redes semânticas ou a teoria da conectividade

O pensamento divergente é capaz de encontrar relações entre ideias, conceitos e processos que, evidentemente, carecem de qualquer similitude. Os psicólogos especialistas em criatividade contam que as pessoas dispõem de diferentes redes mentais de associações:

  • As pessoas com redes semânticas “elevadas” são direcionadas mais pela lógica e o pensamento lineal.
  • Por outro lado, as pessoas com redes semânticas “planas” têm redes mentais muito mais conectadas ao mesmo tempo do que relaxadas. Ou seja, às vezes relacionam duas coisas entre si que não têm sentido, mas pouco a pouco vão sendo ajudados por outras redes até chegar a uma ideia criativa e ousada.

Hemisfério direito e esquerdo do cérebro

Todos já ouvimos falar da teoria de que o hemisfério direito é o criativo e o esquerdo é o lógico. Por tanto, e segundo isso, as pessoas que utilizam o pensamento divergente ou lateral farão uso preferencialmente do hemisfério direito. Bem, temos que ser cuidadosos com esse tipo de ideia sobre a “lateralização” ou a predominância cerebral porque, na verdade, ela proporciona uma grande variedade.

Não podemos ver o cérebro como uma entidade com áreas delimitadas. Na verdade, ao criar uma ideia, seja ela criativa, conservadora, lógica ou altamente inovadora, fazemos uso da totalidade desse órgão. No entanto, o segredo consiste em como conectamos uma ideia com outra. As pessoas mais criativas fazem uso de um pensamento ramificado, ou seja, suas conexões cerebrais são mais intensas em ambos os hemisférios, e não apenas em um deles.

“A imaginação é o princípio da criação. Imagine aquilo que você deseja, persiga aquilo que você imagina e, finalmente, acredite naquilo que você persegue”.
-George Bernard Shaw-

O mundo dos sonhos


Como posso treinar o meu pensamento divergente?

Como dissemos antes, todos nós, seja qual for a idade, podemos treinar nosso pensamento divergente. Para isso, temos que nos concentrar em 4 objetivos bem claros:

  1. Fluidez: capacidade para produzir um grande número de ideias.
  2. Flexibilidade: ser capaz de criar ideias variadas se baseando em diversos campos do conhecimento.
  3. Originalidade: capacidade para criar ideias arrojadas.
  4. Elaboração: aptidão para melhorar nossas ideias, para desenvolvê-las com mais sofisticação.

A seguir, sugerimos quatro formas de conseguir isso.

Exercícios de sinética

“Sinética” é um termo criado pelo psicólogo William J.J. Gordon. Significa, essencialmente, ser capaz de encontrar uniões e relações entre conceitos, objetos e ideias que, aparentemente, não teriam ligação alguma. Este exercício requer uma elevada atividade mental e podemos realizá-lo todos os dias, escolhendo nós mesmos os conceitos. Por exemplo:

  • O que posso fazer com um clipe e uma colher?
  • Que ligação poderia haver entre o rio Limpopo na África e o lago Baikal na Sibéria?

Técnica Scamper

A técnica Scamper é outra estratégia de desenvolvimento de ideias criativas elaboradas por Bob Eberle. Ela é bastante útil para criar algo inovador e para treinar o nosso pensamento. Por exemplo, imaginemos por acaso que devemos gerar uma ideia para o trabalho. Já tendo essa “ideia”, a passaremos por uma série de filtros:

  1. Algum elemento dessa ideia é substituído por outro (O que podemos mudar da nossa maneira de diversão? E da nossa forma de trabalhar?)
  2. Agora combine todas as ideias (O que podemos fazer para que o nosso trabalho seja mais divertido?)
  3. Faça uma adaptação dessas ideias (O que fazem em outros países para trabalhar com menos estresse?)
  4. Modifique-as (Como trabalhar e não se estressar?)
  5. Dar a elas outros usos (O que existe no meu trabalho que pode torná-lo mais divertido, apesar de não ter sido pensado exatamente para isso?)
  6. Elimine alguma ideia (E se eu começasse a trabalhar um pouco mais cedo para aproveitar melhor o dia?)
  7. Reforma (O que aconteceria se eu me atrevesse a…?)
Menina rodeada de nuvens

O humor e o bom descanso

Em um estudo realizado pela psicóloga Nina Lieberman publicado no livro “Playfullness: Its Relationship to Imagination and Creativity”, ela revelou algo muito interessante. O pensamento divergente se combina com a alegria, o otimismo e o bem-estar interior. Ter boas relações sociais, aproveitar um bom descanso e estar livre de pressões, ansiedade e estresse otimiza o pensamento divergente.

Fica claro que, em algumas ocasiões, com nossos afazeres adultos, nosso estilo de vida tão carregado de pressões e preocupações, nós descuidamos da maioria desses aspectos tão valiosos. Portanto, poderíamos concluir também que este tipo de pensamento nasce de um tipo de atitude perante a vida, onde podemos ser mais livres, alegres, inconformados, abertos a outras experiências.

Cultivemos essas dinâmicas. Viver bem para pensar melhor pode ser, sem dúvida, um bom propósito no qual trabalhar a cada dia.


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  • Bono, Edward (2014) Lateral Thinking: An Introduction. UK: Vermilion
  • Runko, A. Mark (1991) Divergent Thinking (Creativity Research). Creativity Research
  • Lieberman J. Playfulness and Divergent Thinking: An Investigation of their Relationship at the Kindergarten Level. Journal of Genetic Psychology. 1965; 107(2): 219-224.
  • Vosburg S. The Effects of Positive and Negative Mood on Divergent-Thinking Performance. 1998; 11(2): 165-172.
  • Abbasi K. A riot of divergent thinking. J R Soc Med. 2011; 104(10): 391.

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