Perfil psicológico do troll nas redes sociais

Perfil psicológico do troll nas redes sociais
Gema Sánchez Cuevas

Revisado e aprovado por a psicóloga Gema Sánchez Cuevas.

Escrito por Sonia Budner

Última atualização: 29 dezembro, 2022

O que leva uma pessoa a atacar aos demais, a agir como um troll nas redes sociais? Por que existem pessoas com essa disposição negativa e dolorosa que encontram seu propósito na Internet? Existem pessoas que sabem que seus comentários são agressões diretas, mas que ainda assim os escrevem pois acham divertido fazer isso.

Uma equipe de pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde e Psicologia da universidade australiana de Mount Helen realizou um estudo que analisou os traços de personalidade deste tipo de usuário: o troll nas redes sociais.

Os cientistas buscaram características e habilidades sociais particulares nos homens e mulheres com este comportamento e descobriram que os trolls do estudo obtiveram pontuações muito mais altas do que o restante em dois traços importantes: psicopatia e empatia cognitiva. Vejamos a seguir o que estes dois traços sobre os trolls dizem.

O que o traço de psicopatia dos trolls nas redes sociais diz sobre eles?

A psicopatia é um transtorno antissocial da personalidade. O termo está em desuso no ambiente clínico e está começando a ser substituído por “sociopatia“.

Ainda não é clara a origem deste transtorno de personalidade. Parece ter um componente genético que poderia se expressar em função de um ambiente carente de carinho na infância. Também trabalham-se hipóteses relacionadas com determinadas alterações cerebrais no lobo frontal, originadas por malformação, doença ou lesão cerebral.

Homem de capuz no computador

O doutor em psicologia Robert Hare conduziu pesquisas no campo da psicopatia por mais de três décadas. Suas pesquisas reuniram uma série de características comuns que definem as pessoas com este transtorno.

São pessoas com tendência ao tédio, que precisam de estímulo constante e não têm a capacidade de definir metas a longo prazo. São manipuladoras e desejam se sentir com poder e controle sobre os demais. Apresentam muitos traços narcisistas.

Têm um grave déficit de controle de impulsos e reagem de forma colérica. Apresentam problemas para se encaixar nas normas sociais e morais, ainda que muitos casos mostrem uma falsa adaptação social com um encanto pessoal muito superficial.

Consideram que possuem um grande valor. Infligir dor aos demais lhes dá prazer. É um transtorno que aparece tanto em homens quanto em mulheres, embora seja mais comum, estatisticamente falando, nos homens. Também parecem carecer por completo de empatia, embora não seja exatamente assim. Agora nós veremos o porquê.

O lado obscuro da empatia

Empatia afetiva e empatia cognitiva são processos cognitivos relacionados, mas distintos. Implicam a ativação de diferentes áreas cerebrais. Existem testes psicométricos que medem cada tipo de empatia, como o BES (Basic Empathy Scale), que são muito eficazes para avaliar o tipo e os níveis de empatia nas pessoas.

Por sua vez, a empatia afetiva se divide em:

  • Paralela: capacidade de saber como a outra pessoa se sente e também de experimentar as mesmas emoções.
  • Reativa: além das capacidade anteriores, aqueles que possuem essa empatia também têm a capacidade de reagir ao seu resultado, como se isso as afetasse diretamente.

Ambas afetam a amígdala, o centro emocional do cérebro. Falamos de uma empatia “quente”. O troll nas redes sociais carece por completo deste tipo de empatia.

Existe também uma empatia “fria”, conhecida como empatia cognitiva, que não é tão popular. É o tipo de empatia que os trolls das redes sociais possuem em altos níveis. A empatia cognitiva (às vezes chamada de tomada de perspectiva) é a capacidade que a pessoa tem de saber o que o outro está sentindo, mas sem o componente afetivo.

Ou seja, a pessoa não sente o sofrimento alheio, pelo contrário, é graças a este tipo de empatia que o troll das redes sociais é capaz de prever e reconhecer o sofrimento emocional de suas vítimas, e utiliza isso para causar o maior dano possível. Afeta duas regiões do cérebro, o córtex pré-frontal e o córtex parietal posterior, ambas implicadas no raciocínio e na tomada de decisões.

Uma bomba prestes a explodir

Estes dois traços, unidos em uma mesma pessoa, configuram um potencial explosivo. A verdade é que o troll das redes sociais é uma pessoa cheia de veneno. Veneno que precisa introduzir nos outros, se amparando no anonimato, para não se afogar nele. E, muitas vezes, consegue.

Outros estudos similares chegaram à conclusão de que alguns assuntos atraem especialmente o troll das redes sociais. Em muitos casos, nem sequer leem as publicações ou o fazem re-interpretando seu conteúdo no sentido que lhes interessa.

Ainda não existem estudos que nos digam como parar este fenômeno, embora não responder aos seus ataques pareça ser a melhor forma de impedir que seu indesejável comportamento obtenha reforço.


Este texto é fornecido apenas para fins informativos e não substitui a consulta com um profissional. Em caso de dúvida, consulte o seu especialista.